Uma arruaça contra a certeza de derrota

É o que fará Bolsonaro neste 7 de setembro, diz Tereza Cruvinel. "Mas ele não dispõe de condições para dar golpe, ainda que os militares estivessem dispostos"

Bolsonaro desfila com crianças no Dia da Independência
Bolsonaro desfila com crianças no Dia da Independência (Foto: Alan Santos/PR)


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Por Tereza Cruvinel

Há um ano, na noite de 6 de setembro, as falanges bolsonaristas tentaram invadir o STF. Hoje vamos dormir nos perguntando o que acontecerá amanhã. Nas redes sociais os apoiadores de Bolsonaro estão novamente pedindo golpe e incitando-o a agir "agora ou nunca", mas o que Bolsonaro fará será uma grande arruaça eleitoral tentando ofuscar a perspectiva de derrota.

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Desesperado com a proximidade da derrota e o fracasso da estratégia de comprar o voto dos pobres com auxílios oportunistas, ele sequestra a data nacional e faz uso criminoso das Forças Armadas para tocar o terror e intimidar o Brasil democrático com a indagação: golpe agora ou depois do pleito. Na mídia estrangeira fala-se que pode haver aqui agora um 6 de janeiro como o de Trump.

Mas durmamos em paz. Bolsonaro conta com os apoiadores que estão em febril atividade nas redes sociais. Conta com os ruralistas que estão mandando seus tratores para Brasília. Com os evangélicos que usam o púlpito para acusar Lula de preparar a implantação do comunismo, a aprovação do abordo e da liberação das drogas. Malafaia preparou-lhe o grande trio elétrico do alto do qual ele falará em Copacabana.

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Bolsonaro tem isso mas não dispõe de condições para dar um golpe, ainda que os militares estivessem dispostos a esta aventura. Não teria apoio dos Estados Unidos nem de qualquer país que importa no mundo, nem da elite econômica nacional que de fato conta, nem da sociedade civil que em agosto falou alto em defesa da democracia. E nem dos pobres, que votarão maciçamente em Lula.

Mas ele fará uma grande arruaça, e em arruaças tudo pode acontecer. Tanto é que ele preferiu não levar a mulher Michelle, agora ativa na campanha,  a Copacabana. "O ambiente pode ficar confuso na praia", teria dito. Mas os outros ele exporá à confusão, para que sirvam a seu objetivo. Algo pode acontecer quando uma massa extremista se reúne com um ídolo que não tem coragem (nem condições) para fazer o que ela pede.

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O que ele quer de fato com a massa é dar uma grande demonstração de força para reduzir a vasta expectativa de vitória de Lula. Ou a crescente percepção de sua derrota. Segundo a pesquisa Ipec de ontem, 5 de setembro, 53% acreditam que o ex-presidente será vitorioso, número bem acima de seu índice de preferência, 44%. Já Bolsonaro, com 31% de intenção de votos, é visto como vencedor por apenas 33%. Entre seus eleitores, 12% acreditam na vitória de Lula.

A percepção de que um candidato será derrotado tem implicações eleitorais. Estimula o desembarque de aliados e empurra eleitores para quem tem chance de ganhar. Levando milhares à Esplanada, à avenida Paulista e à praia de Copacabana ele tentará convencer de que ainda está forte e chegará ao segundo turno para derrotar Lula.  

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O segundo turno pode ou não acontecer. Como disse Lula, falta "um tiquinho" para ele ganhar no primeiro. Mas mesmo que tenhamos o segundo turno, é difícil, para não dizer impossível, que Bolsonaro recupere os eleitores que teve em 2018, ainda mais depois da distância que, segundo o Ipec, Lula acaba de alcançar em São Paulo e em Minas.

Então, aturemos a arruaça deste 7 de setembro, e tudo que ele dirá, inclusive contra as instituições, apesar dos apelos dos auxiliares para que foque apenas no pleito e em Lula.

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Em 2023, poderemos celebrar como se deve os 201 anos da independência, com os símbolos devolvidos à Nação, com valores como soberania e democracia restabelecidos, com a prevalência de que precisamos construir um país para todos.

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