Um trabalhador no Conselhão

Ocupando, desde 2012, a presidência do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, cadeira que pertenceu a Luiz Inácio Lula da Silva na década de 1970, Rafael Marques conversou com o jornalista e colunista do 247 Paulo Moreira Leite depois da reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, ontem, no Planalto. Falou sobre o desemprego (não cresceu em janeiro de 2016 no ABC), sobre a recriação da CPMF (é a favor), a reforma da Previdência (acha que não deve ser discutida no "Conselhão") e também sobre a Lava Jato (reconhece seus méritos no combate à corrupção, mas denuncia medidas de Estado Policial)

Um trabalhador no Conselhão
Um trabalhador no Conselhão


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Ninguém sabe se a recriação do Conselho Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, ontem, no Palácio do Planalto, irá gerar um instrumento efetivo para ajudar o país a retomar o crescimento ou se irá produzir um piquenique de lideranças políticas, empresários, sindicalistas -- e estrelas da vida cultural. O certo é que a primeira reunião do Conselhão gerou um ambiente levemente esperançoso entre lideranças daquela parcela da sociedade brasileira que tem sido chamada a pagar a conta mais amarga da crise, os assalariados, que encaram um desemprego de dois dígitos. Para falar sobre essa situação, o 247 entrevistou Rafael Marques, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. "Sei que é um chavão dizer isso, mas essa reunião foi importante por ter acontecido", disse Rafael, líder de uma categoria que perdeu 17 000 postos de trabalho. A entrevista:

247 -- Como a crise está batendo entre os metalúrgicos do ABC?

RAFAEL MARQUES -- Nossa base era formada por 100 000 metalúrgicos. Agora, somos 83 000. Portanto, perdemos 17 000 empregos em três anos. 

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247 -- Há alguma perspectiva de melhora em 2016?

RAFAEL MARQUES -- Hoje, enquanto nós estávamos reunidos em Brasília, a GM anunciou a demissão de 760 trabalhadores na fábrica de São José dos Campos. Essa decisão, que vinha sendo arrastada há muito tempo, numa negociação difícil e demorada, mostra um quadro ruim.

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247 -- Não há sinal de melhora?

RAFAEL MARQUES -- Apesar do que aconteceu na GM, você pode falar que pelo menos hoje os empregos pararam de diminuir.  Em janeiro de 2016 podemos falar mesmo empregos novos. Não estamos falando na volta dos 17 000 postos  perdidos, mas de algumas centenas criados em janeiro. A alta do dólar está permitindo a nacionalização de uma parte da produção e só aí já foram criados entre 60 e 90 empregos, numa única empresa média. Também apareceu uma fábrica nova, de equipamentos para produção de energia eólica.

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247 -- Qual a perspectiva geral?

RAFAEL MARQUES --  Esse é o debate: ninguém sabe. A Ford, que costuma ter uma visão considerada conservadora, prevê que a produção da indústria, em 2016, irá começar em junho e pode chegar a 2,2 milhões de veículos ao longo do ano. É verdade que o Brasil já produziu 2,3 milhões de veículos, em outra épocas. Mas é uma visão mais otimista que a da própria Anfavea, que fala em 1,9 milhão.

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247 -- Na reunião de hoje no Conselho, o Ministro da Fazenda Nelson Barbosa falou em liberar R$ 17 bilhões do FGTS para ampliar o crédito. Seria uma forma de estimular o consumo. O que você acha?

RAFAEL MARQUES -- Sou a favor. O dinheiro do FGTS pertence ao trabalhador e é justo que ele seja usado como garantia para o crédito. Pode permitir um juro menor do que hoje, quando os bancos se aproveitam da alta de juros para cobrar cada vez mais.

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247 -- Mas um dirigente sindical me disse, hoje, que via essa ideia como arriscada e que era bom pensar melhor.

RAFAEL MARQUES -- Não vejo risco. A criação do Fundo de Investimento do FGTS foi positiva para o trabalhador. Por essa nova proposta, o FGTS pode servir como instrumento de negociação com o banco. Hoje, sem poder oferecer garantia nenhuma, o trabalhador paga juros altíssimos. O banco não tem nem interesse em negociar empréstimos. Prefere recusar qualquer negociação para deixar criar um saldo negativo porque assim pode cobrar um juro mais alto. Ganha mais. Isso é muito ruim para o assalariado, para o consumo e para o país.

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247 -- O que você acha da volta da CPMF?

RAFAEL MARQUES -- Estou de acordo. É claro que pode ser útil. Você talvez possa discutir uma faixa de isenção e não cobrar a CPMF de quem tem uma movimentação bancária muito baixa. Mas sou favor.

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247 -- No discurso de encerramento a  presidente Dilma falou em fazer o debate sobre a reforma da Previdência.  

RAFAEL MARQUES -- Podemos debater a Previdência, sim, mas acho que o Conselho não é o lugar mais adequado. Já temos um Fórum Permanente, que funciona aqui mesmo (na Presidência) que tem todas as informações e toda a memória dessa discussão. É um debate que o Conselho pode acompanhar mas em minha opinião, o lugar para essa discussão ser feita é o Fórum.

247 -- Mas como você vê essa discussão?

RAFAEL MARQUES -- Eu acho que é preciso reconhecer que em nenhum momento se vai aceitar a redução de direitos adquiridos. É o óbvio mas é bom lembrar isso, como ponto de partida. Eu acho que pode-se discutir uma reforma para futuras gerações, a partir de uma nova situação do mercado de trabalho e da população em geral. Questões como idade e tempo de contribuição podem se modificar ao longo do tempo.

247 -- É claro que as empresas, o movimento sindical e o governo têm pontos de vista diferentes sobre a Previdência. Como isso se resolve?

RAFAEL MARQUES -- Tem que procurar o consenso. Só valem mudanças com acordo de todos. Não dá para discutir, chegar a um impasse entre patrões e empregados e aí o governo decide. Não. Tem que haver um consenso.

247 -- Você acha que essa discussão é urgente?

RAFAEL MARQUES -- Vamos considerar uma coisa. Durante seis anos consecutivos, a Previdência dos trabalhadores do setor privado deu um superavit de R$ 20 bilhões por ano. Não deu prejuízo nem mesmo nos piores anos da crise, Em 2008 e 2009. Isso mostra que ela funciona, paga o que deve e poupa para o futuro. Essa situação mudou em 2015, é claro. Mas em 2015 o Brasil inteiro deu prejuízo. O importante é entender que a Previdência, hoje, não apresenta uma tendência ao déficit.

247 -- Como você vê a Operação Lava Jato?

RAFAEL MARQUES -- Eu acho que a Lava Jato tem um papel muito importante para combater a corrupção. Também tem um papel positivo para separar as relações que envolvem interesses públicos e privados em nosso país. Estas são questões fundamentais. Mas não podemos aceitar ações de um Estado Policial.

247 -- O que você quer dizer com isso?

RAFAEL MARQUES -- Isso acontece quando ações são conduzidas de forma seletiva, o que demonstra uma perseguição política.  Não dá para só investigar apenas um lado.

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