Um teste decisivo para os princípios basilares da hierarquia e da disciplina

"Bolsonaro não pode, em nome da proteção a Pazuello, criar um constrangimento para o comandante do Exército", escreve o jornalista Moisés Mendes. "O desafio imediato agora é o interno. É o que põe em risco os princípios da hierarquia e da disciplina"

General Eduardo Pazuello e o comandante do Exército, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira
General Eduardo Pazuello e o comandante do Exército, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira (Foto: Leopoldo Silva/Agência Senado | Marcos Corrêa/PR)


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Por Moisés Mendes, do Jornalistas pela Democracia

Bolsonaro e Eduardo Pazuello complicaram a vida do comandante do Exército, e não só a dele.

O general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira assumiu o cargo no dia 23 de abril, em substituição a Edson Pujol, e disse no discurso de posse, em meio à crise que provocou a debandada do ministro da Defesa e dos chefes das três armas:

“Fiéis aos princípios basilares da hierarquia e da disciplina, e sob a estrita observância da ordem constitucional vigente, devemos continuar a representar vigoroso vetor de estabilidade e de garantia da ordem e da paz social”.

Esperavam que Oliveira começasse lidando com os desafios da ordem e da paz social, diante dos estragos provocados pelos blefes de Bolsonaro com a renovação das ameaças de golpe.

Mas o desafio imediato agora é o interno. É o que põe em risco os princípios da hierarquia e da disciplina. O general tem, antes da bronca política da ordem e da paz externas, um problemão com a indisciplina e a ameaça de desordem dentro do Exército.

Ontem, Bolsonaro blindou Eduardo Pazuello, o general da ativa que participa de atos com motoqueiros da extrema direita. Pazuello é agora secretário de assuntos estratégicos de Bolsonaro. Está protegido dentro do Planalto.

E Oliveira é quem deve dizer nos próximos dias qual será a punição ao militar que participou no dia 23 de um ato declaradamente político e infringiu as normas da instituição.

Não vai ser fácil para o chefe militar de Pazuello. Bolsonaro chamou o general amigo para perto e deixou claro: não mexam com ele.

O vice-presidente Hamilton Mourão já explicitou o que acha da situação de Pazuello. Mourão disse, no dia 27:

“A regra tem que ser aplicada para evitar que a anarquia se instaure dentro das Forças, porque, assim como tem gente que é simpática ao governo, tem gente que não é. Então, cada um tem que permanecer dentro da linha que as Forças Armadas têm que adotar. As Forças Armadas são apartidárias. Elas não têm partido. O partido das Forças Armadas é o Brasil”.

Mourão parece estar na mesma linha do novo chefe do Exército, de fidelidade aos princípios basilares da hierarquia e da disciplina. O natural e previsível é que Pazuello seja punido, para que prevaleçam essas disciplinas e hierarquias.

Mas nada é natural em questões militares e muito menos se o protagonista é o ex-tenente Bolsonaro. O sujeito está dizendo, como já disse muitas vezes, que ele, como presidente, é o comandante supremo das Forças Armas.

Ele manda em Oliveira. Mas Oliveira deve mesmo se submeter de forma incondicional aos recados de Bolsonaro para que não puna um comandado indisciplinado?

Discutir a questão formal das hierarquias e dos organogramas de poder nas Forças Armadas é fugir do que interessa.

Bolsonaro não pode, em nome da proteção a Pazuello, criar um constrangimento para o comandante do Exército. Ou pode?

A questão política que em algum momento terá de ser enfrentada é esta: Oliveira pode e deve desafiar Bolsonaro e punir Pazuello?

O chefe do Exército tem suporte para cometer um gesto que vá além da mera punição de advertência, como a maioria está esperando?

Aguardemos a resposta que nos dirá se Bolsonaro tem razão quando se refere ao “meu Exército”.

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