Um “Processo” aviltado

"O presidente Jair Bolsonaro, que tem motivos de sobra para querer desviar a atenção dos mal feitos que promoveu contra os trabalhadores, usurpando-lhes os direitos previdenciários", diz a jornalista

(Foto: Foto: reprodução)


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Por Denise Assis, para o Jornalistas pela Democracia - O presidente Jair Bolsonaro, que tem motivos de sobra para querer desviar a atenção dos mal feitos que promoveu contra os trabalhadores, usurpando-lhes os direitos previdenciários, nesta semana, usou o Twitter para postar hoje à tarde um trecho do filme da cineasta Maria Augusta Ramos, “O Processo”, que revela os bastidores do impeachment da presidenta Dilma Rousseff.

Neste ponto do filme, o ex-ministro Gilberto de Carvalho, que foi Secretário-Geral da Presidência faz uma análise profunda do que levou o Partido dos Trabalhadores (PT) àquela situação, e com sinceridade e capacidade aponta falhas no percurso, enquanto governo. Um dos pontos altos do corajoso e brilhante filme de Maria Augusta.

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A câmera de Guta é testemunha dos momentos dramáticos do golpe engendrado contra o governo democraticamente eleito, e se esgueira pelos corredores de Brasília, onde as cenas se desenrolam, como a documentar uma peça em seus últimos atos. Claramente, a intenção de Guta, que sequer usou de trilha sonora ou narração, era deixar o drama aflorar e dizer por si, provocando uma intensa reflexão sobre a guinada à direita que o país iniciava.

O 247 conversou com Guta. Seu primeiro sentimento foi de indignação, nos contou. Mas, em seguida, com a experiência da documentarista acostumada a observar as reações humanas, refletiu sobre a atitude presidencial.

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“Eu considero que este senhor já percebeu o estrago que fez aos trabalhadores ao longo dessa semana, e os efeitos que a subtração desses direitos trarão. Sua atitude demonstra um certo desespero. A certeza de que será cobrado pela história. Primeiro, porque até agora, seis meses depois de empossado, ele é incapaz de ter alguma ideia ou solução para tirar a economia do poço sem fundo em que se encontra. Ao contrário. O que ele faz é perder tempo no twitter, e dar as costas para os problemas sociais, sobre os quais não tem nenhuma preocupação.”

Para a cineasta, o mau uso de trecho da sua obra com fins espúrios e fascista é inadmissível. “A fala do ex-ministro Gilberto de Carvalho usada fora do contexto foi uma apropriação indébita de uma obra autoral. Ela faz parte de um conjunto que resultou em um filme premiado lá fora e reconhecido pelo público, no Brasil e no exterior”, disse.

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Maria Augusta, que fez o seu filme com dificuldade para acompanhar, no calor da hora, os acontecimentos que resultaram no golpe, se confessou surpresa de Bolsonaro conhecer o seu trabalho. “Causa em mim perplexidade o presidente conhecer o meu filme, pois pelo que sei ele não se interessa pelo cinema brasileiro. Vale lembrar o seu desprezo pela classe artística. Tanto assim que o seu governo extinguiu o ministério da Cultura. Por ele os artistas e toda a economia criativa deixaria de existir, porque fazemos o registro da história e contribuímos para fazer aflorar a sensibilidade das pessoas, o que para ele é altamente “subversivo”.  

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