Um presidente à beira de um ataque de nervos

"Esses 'cala a boca' não foram dirigidos somente àqueles jornalistas, mas a todos, a toda a imprensa que está cumprindo seu papel mais importante ao denunciar as tentativas de Bolsonaro de levar o país de volta à ditadura", escreve Alex Solnik, do Jornalistas pela Democracia

(Foto: Reprodução (Youtube))


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Por Alex Solnik, do Jornalistas pela Democracia

Foi assustador o pronunciamento de Bolsonaro, hoje pela manhã, no curralzinho da imprensa, ali na portaria do Palácio da Alvorada, em Brasília, porque um presidente normal não age assim.

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Ele teve, novamente, um ataque de fúria, muito semelhante àquele que transmitiu ao vivo para o mundo logo depois de a TV Globo ter exibido, a 30 de outubro de 2019, reportagem sobre o porteiro que tinha afirmado à polícia que, pouco antes do assassinato de Marielle Franco, o comparsa do assassino tinha pedido acesso ao condomínio Vivendas da Barra, endereço tanto de Bolsonaro quanto o do assassino, à casa 58, a de Bolsonaro.

Dessa vez ao vivo, ele brandia um exemplar da “Folha de S. Paulo” de hoje, cuja manchete é “Novo diretor assume e atende Bolsonaro”.

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A manchete é óbvia, o novo chefe da PF tirou o diretor da PF carioca minutos depois de assumir, nem disfarçou que desejava cumprir o mais rápido possível uma das missões caras a Bolsonaro, o que ele mesmo tinha admitido no dia em que Moro se demitiu, mas Bolsonaro chamou-a de “patifaria” e passou a despejar seu habitual vômito verborrágico composto de fake-news, ameaças e intimidações, nem sempre nessa ordem, em direção aos repórteres.

Sempre aos berros, sempre mostrando o jornal (o que deve ter contribuído para multiplicar as vendas), sempre xingando, alegava não ter nada contra o ex-diretor da PF carioca, “tanto que ele foi promovido a um cargo melhor e não rebaixado”, que não tem interesse em controlar a PF e que nem ele nem seus filhos estavam sendo investigados, razão pela qual ele não tinha motivo para protegê-los, o que soaria até verossímil se ele falasse de forma serena e equilibrada, mas ditas dessa forma, as palavras denotavam seu nervosismo e ninguém que sabe que está do lado certo e está dizendo a verdade precisa ficar nervoso, precisa gritar e xingar.

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Quando um presidente entende que um jornal está mentindo ou o atacando de forma injusta, o caminho civilizado é processá-lo, mas Bolsonaro prefere expô-lo publicamente para ser devidamente atacado por seus acólitos.

A princípio calados, repórteres tentavam retrucar, em meio ao sermão, mas a cada tentativa ele dava uma só resposta:

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“Cala a boca”!  

Mandou calar a boca umas três vezes, deixando mais uma vez claro não ter espírito democrático, não ter educação, não saber nem querer dialogar e sempre se valer de intimidações e ameaças para impor a sua verdade.

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Esses “cala a boca” não foram dirigidos somente àqueles jornalistas, mas a todos, a toda a imprensa que está cumprindo seu papel mais importante ao denunciar as tentativas de Bolsonaro de levar o país de volta à ditadura.

Outros tiranos, como, por exemplo, seus ídolos de outrora, já tentaram calar a imprensa, mas calaram-se antes de a emudecerem.

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A história poderá se repetir.

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