Um presidente à beira de um ataque de nervos
"Esses 'cala a boca' não foram dirigidos somente àqueles jornalistas, mas a todos, a toda a imprensa que está cumprindo seu papel mais importante ao denunciar as tentativas de Bolsonaro de levar o país de volta à ditadura", escreve Alex Solnik, do Jornalistas pela Democracia
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Por Alex Solnik, do Jornalistas pela Democracia
Foi assustador o pronunciamento de Bolsonaro, hoje pela manhã, no curralzinho da imprensa, ali na portaria do Palácio da Alvorada, em Brasília, porque um presidente normal não age assim.
Ele teve, novamente, um ataque de fúria, muito semelhante àquele que transmitiu ao vivo para o mundo logo depois de a TV Globo ter exibido, a 30 de outubro de 2019, reportagem sobre o porteiro que tinha afirmado à polícia que, pouco antes do assassinato de Marielle Franco, o comparsa do assassino tinha pedido acesso ao condomínio Vivendas da Barra, endereço tanto de Bolsonaro quanto o do assassino, à casa 58, a de Bolsonaro.
Dessa vez ao vivo, ele brandia um exemplar da “Folha de S. Paulo” de hoje, cuja manchete é “Novo diretor assume e atende Bolsonaro”.
A manchete é óbvia, o novo chefe da PF tirou o diretor da PF carioca minutos depois de assumir, nem disfarçou que desejava cumprir o mais rápido possível uma das missões caras a Bolsonaro, o que ele mesmo tinha admitido no dia em que Moro se demitiu, mas Bolsonaro chamou-a de “patifaria” e passou a despejar seu habitual vômito verborrágico composto de fake-news, ameaças e intimidações, nem sempre nessa ordem, em direção aos repórteres.
Sempre aos berros, sempre mostrando o jornal (o que deve ter contribuído para multiplicar as vendas), sempre xingando, alegava não ter nada contra o ex-diretor da PF carioca, “tanto que ele foi promovido a um cargo melhor e não rebaixado”, que não tem interesse em controlar a PF e que nem ele nem seus filhos estavam sendo investigados, razão pela qual ele não tinha motivo para protegê-los, o que soaria até verossímil se ele falasse de forma serena e equilibrada, mas ditas dessa forma, as palavras denotavam seu nervosismo e ninguém que sabe que está do lado certo e está dizendo a verdade precisa ficar nervoso, precisa gritar e xingar.
Quando um presidente entende que um jornal está mentindo ou o atacando de forma injusta, o caminho civilizado é processá-lo, mas Bolsonaro prefere expô-lo publicamente para ser devidamente atacado por seus acólitos.
A princípio calados, repórteres tentavam retrucar, em meio ao sermão, mas a cada tentativa ele dava uma só resposta:
“Cala a boca”!
Mandou calar a boca umas três vezes, deixando mais uma vez claro não ter espírito democrático, não ter educação, não saber nem querer dialogar e sempre se valer de intimidações e ameaças para impor a sua verdade.
Esses “cala a boca” não foram dirigidos somente àqueles jornalistas, mas a todos, a toda a imprensa que está cumprindo seu papel mais importante ao denunciar as tentativas de Bolsonaro de levar o país de volta à ditadura.
Outros tiranos, como, por exemplo, seus ídolos de outrora, já tentaram calar a imprensa, mas calaram-se antes de a emudecerem.
A história poderá se repetir.
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