Um pouco do pensamento de Bernard Appy, que pode cuidar da reforma tributária no governo Lula

Appy é consultado por nove em cada 10 políticos, empresários e sindicalistas interessados em reforma tributária

Economista Bernard Appy
Economista Bernard Appy (Foto: Filipe Scotti/FIESC)


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Por Paulo Henrique Arantes

O economista Bernard Appy é consultado por nove em cada 10 políticos, empresários e sindicalistas interessados em reforma tributária, tanto que na campanha eleitoral de 2022 foi ouvido - por intermédio do CCif (Centro de Cidadania Fiscal), think-tank por ele criado - pelas equipes técnicas dos candidatos Lula, Ciro Gomes e Simone Tebet. Em 2014, colaborou com o plano de governo da candidata Marina Silva. Foi secretário-executivo do Ministério da Fazenda no primeiro governo Lula (2003-2007) e chegou a assumir interinamente o comando da pasta, numa breve ausência de Guido Mantega.

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A se confirmar seu nome no novo governo, como tem sido cogitado, o Brasil terá um técnico qualificado para propor a reforma tributária, mas não um tecnocrata insensível com as causas sociais. 

Dez dias antes das eleições, a coluna conversou com Appy, que acredita que os impostos cobrados sobre o consumo podem adquirir caráter progressivo. Como? Devolvendo parte do dinheiro arrecadado aos mais pobres. 

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“Propomos um sistema que chamamos de isenção personalizada: em vez de isentar mercadorias, devolve-se dinheiro às pessoas de baixa renda. Você arrecada com uma alíquota mais alta e você devolve o dinheiro incidente sobre o consumo às pessoas de baixa renda, obviamente dentro de um limite, para não haver fraudes. Esse sistema, do ponto de vista distributivo, é muito mais eficiente do que desonerar cesta básica”, explicou-nos o economista.

A progressividade é uma decisão política, não estritamente técnica, entende Appy, aqui falando sobre o imposto de renda. Uma alíquota que se aproxime de 40% para os contribuintes de renda mais elevada estaria no padrão internacional - leia-se OCDE.

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Quanto à faixa de isenção, eis o que pensa Appy: “Se olharmos em termos absolutos, a faixa de isenção no Brasil é menor que a dos países desenvolvidos, mas se você pegar em termos de proporção da renda média, a faixa de isenção atual do imposto de renda no Brasil é até mais alta do que em países desenvolvidos. No fundo, acaba sendo uma decisão política. Eu, pessoalmente, sou contra uma faixa de isenção muito alta - pode ser um pouco mais alta do que a atual -, porque pagar imposto de renda faz parte da cidadania, ainda que seja uma alíquota baixa”.

A distorção mais grave, no entanto, percebe-se quando a tributação da renda do trabalho de um empregado formal é comparada com a tributação do trabalho de um PJ (pessoa jurídica), aquele que recebe a renda como sócio de uma empresa no regime simplificado, no lucro presumido ou no Simples.

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“Imaginemos um prestador de serviço, sócio de uma empresa que está no lucro presumido, que fature 100 mil reais, tenha 20 mil reais de despesa e renda efetiva, antes da tributação da renda, de 80 mil reais. Esse prestador, hoje, na margem, está pagando 13% de imposto sobre a renda dele”, percebe Appy. Muito menos que o trabalhador assalariado, portanto.

O economista também é contra desonerações setoriais: “Do ponto de vista de tributo sobre o consumo, não vejo nenhum setor que mereça. A melhor forma de tributar o consumo é com uma alíquota uniforme e devolução do imposto às famílias de baixa renda. Os países não usam desoneração sobre consumo como política de desenvolvimento setorial - são raríssimos os casos. O que existe é tratamento diferenciado para reduzir tributo em certas categorias de consumo, como cesta básica, determinados alimentos, transporte público. Como política de desenvolvimento, não é bom. No Brasil, isso é usado porque temos um sistema muito ruim, que tributa muito a produção, o que acaba levando à guerra fiscal por causa da tributação na origem”.

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