Um ponto azul quase invisível das Novas Rotas da Seda

A alternativa Estados Unidos/Austrália/Japão à Iniciativa Cinturão e Rota ajuda a esclarecer por que os Estados Unidos enviaram uma delegação de baixo escalão à Tailândia, e por que a Índia preferiu abandonar a RCEP

Xi Jinping, presidente da China
Xi Jinping, presidente da China (Foto: Reuters)


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Por Pepe Escobar, originalmente no Asia Times

Tradução de Patricia Zimbres

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Há seis anos, o Presidente chinês Xi Jinping lançou as Novas Rotas da Seda, hoje mais conhecidas como a Iniciativa Cinturão e Rota, o maior e mais ambicioso projeto de infraestrutura pan-eurasiano do século XXI.

No governo Trump, a Cinturão e Rota vem sendo absolutamente demonizada 24/7: um coquetel tóxico de medo e dúvida, com Pequim sendo acusada de tudo, desde empurrar os países pobres para uma "cilada de endividamento" até planos sinistros de dominar do mundo.

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Agora, finalmente apareceu algo que pode ser descrito como a resposta institucional americana à Cinturão e Rota: a Rede Ponto Azul.

A Ponto Azul é oficialmente descrita como visando à promoção de um desenvolvimento de infraestrutura global, "sustentável e de múltiplos parceiros na região do Indo-Pacífico e em todo o mundo".

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A Rede é um projeto conjunto da Corporação de Investimentos Privados Externos dos Estados Unidos em parceria com o Departamento de Relações Exteriores e Comércio da Austrália e com o Banco Japonês para a Cooperação Internacional.

Compare-se isso ao que acaba de acontecer esta semana, na inauguração da Exposição Chinesa de Importações Internacionais, em Xangai.

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Como ressaltou Xi, "Até hoje, a China assinou 197 documentos sobre  cooperação relativa à Iniciativa Cinturão e Rota com 137 países e trinta organizações internacionais".

É isso que a Ponto Azul terá que enfrentar - especialmente em todo o Sul Global. Bem, não exatamente. Diplomatas do Sul Global, informalmente contactados, não estão particularmente bem-impressionados. Eles talvez vejam a Ponto Azul como uma aspirante a concorrente da Cinturão e Rota, embora baseada em recursos financeiros privados, principalmente, em tese, americanos.

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Eles zombam da perspectiva de que a Ponto Azul virá a incluir algum tipo de mecanismo de classificação posicionado para avaliar e rebaixar os projetos da Cinturão e Rota. Washington criará a versão de que esse mecanismo será um processo de "certificação" que irá estabelecer "padrões internacionais" - sugerindo que a Cinturão e Rota está abaixo dos padrões aceitáveis. Se os países do Sul Global irão dar atenção a essa nova classificação é uma questão que permanece em aberto.

O exemplo japonês

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A Ponto Azul também deve ser entendida em termos de uma comparação direta com o que acaba de ocorrer no grande festival da cúpula da Tailândia centrado nas reuniões do Leste Asiático, da Associação das Nações do Sudeste Asiático e do RCEP, a Parceria Econômica Integral Regional.

O advento da Ponto Azul explica por que os Estados Unidos enviaram apenas uma delegação de baixo escalão à Tailândia, e também, em grande medida, por que a Índia perdeu o trem do RCEP, que acabou de partir da estação pan-asiática.

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O primeiro-ministro indiano Narendra Modi ainda se vê entre o fogo - a estratégia Indo-Pacífico de Washington - e a frigideira - a integração eurasiana. Possibilidades mutuamente incompatíveis. A Ponto Azul é uma extensão empresarial de fato do Indo-Pacífico, que congrega os Estados Unidos, o Japão, a Austrália - e a Índia: os membros do Diálogo Quadrilateral de Segurança, mais conhecido como o Quad. Ela é um reflexo especular da já finada Parceria Trans-Pacífica do governo Obama no que se refere à - também defunta - política de "pivotar em direção à Asia".

Não está claro ainda se Nova Delhi irá se juntar à Ponto Azul. A índia rejeitou o Cinturão e Rota, mas não, de forma final e irrevogável, o RCEP. A ASEAN tentou aparentar tranquilidade e insistir que as diferenças serão resolvidas, e que todos os dezesseis membros assinarão um acordo em 2002, no Vietnã.

No entanto, o xis da questão permanece: Washington vai continuar a manipular a Índia, usando todos os meios vistos como necessários para torpedear - pelo menos na arena do Sul da Ásia - o potencial do Cinturão e Rota e também de toda a integração da Eurásia.

Mesmo assim, depois de todos esses anos de demonização contínua, a melhor coisa que Washington conseguiu foi surripiar a ideia do Cinturão e Rota e fantasiá-la de financiamentos do sistema bancário privado. Compare-se isso, por exemplo, ao trabalho do Instituto de Pesquisas Econômicas para a ASEAN e o Leste Asiático, que privilegia a Perspectiva ASEAN sobre o Indo-Pacífico, originalmente uma ideia indonésia, e não a versão norte-americana. O presidente do Instituto, Hidetoshi Nishimura, a descreve como "uma diretriz para parceiros de diálogo", ressaltando que a visão japonesa do Indo-Pacífico se encaixa perfeitamente com a da ASEAN".

Embora Nishimura observe que "é de conhecimento de todos que o Japão vem sendo o principal doador e um real parceiro do desenvolvimento econômico do Sudeste Asiático ao longo das últimas cinco décadas", ele também elogia a RCEP como "o símbolo do livre-comércio. Tanto a China quanto o Japão apóiam firmemente a RCEP. E Pequim também insiste firmemente na conexão direta entre a RCEP e os projetos Cinturão e Rota.

Ao final, o Ponto Azul talvez seja apenas um exercício de relações públicas, muito pouco e tarde demais, que não conseguirá frear a expansão do Cinturão e Rota. E que também não impedirá as parcerias de investimentos China-Japão. E tampouco evitará que todo o Sul Global tome consciência da armamentização do dólar americano para fins geopolíticos.

E a Ponto Azul não irá escamotear o ceticismo dominante quanto ao desenvolvimento das capacidades de projeto de uma hiperpotência engajada em uma missão de roubar as reservas de petróleo de outro país como parte de uma ocupação ilegal da Síria.

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