Um passo à frente, dois atrás
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Na paródica dança de salão – ou gafieira – em que se transformou a política nacional, a frase que intitula este texto, não aponta para Lenin ou Mao Tsé-Tung. Está mais para a forma como se passam as coisas (ou as medidas tomadas, incluindo a troca de ministros), como se nada ali tivesse realmente muita importância. Daí que venha à memória o filme, com John Travolta, Os embalos de sábado à noite, de 1977, no qual o sujeito da história, mais do que os dramas envolvidos, é o ritmo e as demonstrações da trilha musical. Estamos, sem dúvida, enquanto as eleições se aproximam, assistindo a exibições de desespero, assimétricas e fora do compasso, com ameaças de golpe a cada instante, frente ao crescimento de Lula em todas as pesquisas.
Ao mesmo tempo, trava-se uma batalha entre a Justiça e o deputado Daniel Silveira, premiado por um indulto (ou graça) do amigo no Palácio do Planalto. A proteção superior não se mostrou suficiente para que, com ou sem lances de mágica, escapasse das punições em função de cada um dos insultos que gosta de publicar. O filme que se desenrola diante dos nossos olhos, não revela a perícia dos bons diretores e atores do moderno cinema mundial. Lembra uma farsa trágica posta em palco por gente despreparada, ávida por mais poder e prestígio dos cargos adquiridos entre as brechas mal cimentadas das nossas estruturas administrativas.
No embalo dos dias e noites do que se trama em Brasília, se encontra até o milionário Elon Musk e a Amazônia brasileira, objeto de cobiça atrás de dinheiro fácil. A tônica do momento gira em torno da ideia de pressa. Pressa na privatização da Eletrobrás, antes das mudanças que se avizinham. E pressa em afirmar posições que escandalizam por aquilo que possuem de assalto a antigos princípios ligados à soberania e à defesa dos interesses do país. A orquestra desafina ou é a visão crítica que se acentua frente às cordas esticadas e a má gerência, traduzida nos preços exorbitantes e nos salários congelados, para não falar nas reformas trabalhistas que retiraram direitos adquiridos com árduas penas. Se, pelo menos, quem aí está possuísse um mínimo de inclinação em favor da cultura (vetou a Lei Paulo Gustavo), é possível que se esmerasse, nos salões ou nas gafieiras, com requebros cada vez mais ousados. Mas não é o que acontece. A falta de sensibilidade encaminha, ao contrário, em direção às armas, ao conflito, às confrontações e ao ódio.
Como encontrar energia para escapar da perniciosa confluência astral e nos reencontrar enquanto povo construtor de identidades, disposto a trilhar, sobretudo, o caminho do consenso sempre que possível? Se isso representava um mito, para repensar e reavaliar, valia, no entanto, como reconhecimento de um tipo de cidadania melhor do que aquela que se instaurou sobre as atuais lideranças. Seja como for, cabe reconhecer que, no que diz respeito a passos de dança, nas avenidas e na alegria do carnaval, já nos mostramos melhores. Que este seja o ritmo que ainda persista e nos conduza a uma vereda capaz de enfrentar nossos verdadeiros dilemas. Em paz e com amor, como andam dizendo.
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