Um país adoecido pelo vírus e pelo ódio
O labirinto em que a sociedade se vê aprisionada por falta de saídas científicas agonia mais do que o isolamento social. A imprevisibilidade plena potencializa a apreensão
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As ruas estão finalmente vazias; uns poucos – necessitados ou transgressores – ainda transitam, como se estivessem ali para provar que a vida continua, apesar do vírus e da pandemia de sua disseminação. O bar famoso da Dias Ferreira, fechado. A birosca da Rocinha, fechada. O Maracanã, sem jogo. As praias – ponto de encontro nos fins de semana – dão a sensação de áreas inexploradas, territórios recém-descobertos, cenários de filme de ficção. O isolamento se amplia democraticamente.
Para além do vazio do espaço público, há a solidão. Em casa, trancados e ao mesmo tempo conectados com o mundo, os cidadãos não só se distanciam dos parentes e amigos como recebem um volume de informação sobre a gravidade do problema que lhes dá, a um só tempo, consciência, temor e sofreguidão. Há ainda poucas saídas objetivas para o mal. O que se tenta é apenas garantir maior lentidão em sua propagação, de modo a não colapsar nosso frágil sistema de saúde. O labirinto em que a sociedade se vê aprisionada por falta de saídas científicas agonia mais do que o isolamento social. A imprevisibilidade plena potencializa a apreensão.
Ainda que se tente o contrário, o pessimismo insiste em nos assombrar. Por mais que estejamos saudáveis, é recorrente a possibilidade de isto se alterar. A despeito de a estatística mostrar baixa letalidade, a morte, mais do nunca, surge como desfecho real para o drama interior de cada um.
A impotência da ciência diante do vírus é outro fato incomum a nos deixar perplexos. Com o avanço tecnológico das últimas décadas, inteligência artificial e laboratórios sofisticados mundo afora, como não saber forma e fórmula para derrotar o invisível inimigo? A falta de respostas produz reflexões inquietantes.
Experimentamos a incerteza em todas as dimensões. A recessão, a falência, o desemprego e a escassez são possibilidades reais e não derivam apenas da má condução da economia nacional. Nossos economistas, sempre prontos a apresentar saídas ortodoxas ou heterodoxas, emudeceram-se impotentes. As convicções se dissiparam em meio ao avanço do contágio. Faltam certezas – sobre quase tudo. O mundo da radicalização, dos antípodas digitais, é exatamente o oposto. O confronto decorre do excesso de certezas que acomete a todos.
Talvez assim, no rastro da eliminação do vírus, consigamos também pôr fim as convicções idiotizantes emanadas por um presidente irresponsavelmente incapaz. Não serão suas bravatas que contribuirão para elevar o moral e a esperança de uma a sociedade duplamente adoecida: pela vírus e pelo ódio. Ao fim e ao cabo, o País vencerá derrotando, através da união de seu povo, o Covid 19. E por livre e espontânea manifestação de seus cidadãos, Bolsonaro.
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