Um olho em Bolsonaro, outro nos vizinhos

"Trata-se de um quadro cada vez mais preocupante, e convém buscar pontos de convergência entre o que faz Jair Bolsonaro aqui e o que acontece de extremamente grave na Bolívia, no Chile, no Equador e, em menor escala, na Colômbia", diz o colunista Eric Nepomuceno, do Jornalistas pela Democracia



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Por Eric Nepomuceno, para o Jornalistas pela Democracia - Antes de mais nada, esclareço que não me refiro ao miliciano Ronie Lessa, assassino de Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes, ou ao filho presidencial Carluxo, seus vizinhos de condomínio. 

O primeiro está preso, o filhote está sendo investigado pela polícia do Rio (o que, aliás, talvez explique a razão de Sergio Moro querer federalizar as investigações a qualquer preço), e meu assunto aqui é outro: estou me referindo ao que acontece nos países vizinhos.

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Trata-se de um quadro cada vez mais preocupante, e convém buscar pontos de convergência entre o que faz Jair Bolsonaro aqui e o que acontece de extremamente grave na Bolívia, no Chile, no Equador e, em menor escala, na Colômbia.

Bolsonaro mandou para o Congresso um projeto de lei determinando que se conceda um ‘excludente de ilicitude’ para as forças armadas, a polícia federal, a polícia rodoviária federal, a polícia civil, a polícia militar e até o corpo de bombeiros, quando convocados para participar de operações de GLO (Garantia da Lei e da Ordem). 

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Cabe exclusivamente ao presidente da República determinar uma operação GLO – o próprio Bolsonaro.

E o que quer dizer ‘excludente de ilicitude’? Quer dizer licença para matar. Ou seja: o integrante da operação mata, responde a um processo, mas não pode ser punido. Algo muito parecido ao ‘pacote anticrime’ defendido pelo ex-juiz e atual ministro Sergio Moro, o manipulador. 

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Que Bolsonaro faça acenos para policiais e militares não surpreende ninguém. Afinal, ao longo de seus 28 anos como obscuro deputado federal ele não foi mais do que porta-voz dessa turma, com destaque especial para as polícias militares que se espalham Brasil afora.

Vamos aos outros vizinhos.

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Logo depois do golpe que liquidou a presidência de Evo Morales e o mandou para o exílio, uma das primeiras medidas adotadas pela autoproclamada presidente Jeanine Áñez foi baixar um decreto idêntico. E indo contra a trágica tradição, desta vez quem saiu às ruas reprimindo com ferocidade não foram as forças armadas, mas a polícia, que agiu com sanha desmedida contra os apoiadores do presidente derrubado, em sua esmagadora maioria indígenas.

No Chile do direitista Sebastián Piñera, a tensão persiste enquanto governo e oposição debatem a maneira de convocar um plebiscito para decidir uma nova Constituição que substitua a do ditador sanguinário tão apreciado por Paulo Guedes, o general Augusto Pinochet.

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O que se viu e se vê nas ruas, além das maiores manifestações da história chilena, é uma repressão só comparável à dos tempos pinochetistas. Porém, com uma diferença: quem reprime não são as forças armadas e sim a polícia militar de lá. 

Sanguinária a não mais poder, a ação dessa polícia incluiu violações a mulheres, abusos a mais de 300 crianças e adolescentes, e mais de 250 chilenos ficaram cegos graças a tiros de bala de borracha disparados a curta distância e com pontaria certeira.

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No Equador do também direitista Lénin Moreno acontece uma tensa pausa para negociações, depois de vários dias de profunda agitação. Ao longo daqueles dias, quem reprimiu com violência não foram as forças armadas: foi a polícia, que agiu de maneira extremamente brutal.

Na Colômbia do igualmente direitista Iván Duque o governo vem sofrendo uma derrota atrás da outra. Depois de perder feio as eleições municipais de outubro, Duque viu sua popularidade, que já estava em baixa, despencar vertiginosamente. 

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O anúncio de novas medidas econômicas de talho ultra neoliberal ao estilo de Paulo Guedes provocou uma greve geral nesta quinta-feira, dia 21. 

Como ‘medida preventiva’ para ‘assegurar a segurança dos manifestantes’, na noite anterior o governo decretou nada menos que o fechamento de todas as fronteiras terrestres e fluviais. E, além das forças armadas, colocou a polícia inteira em estado de prontidão absoluta, com boa parte dela nas ruas desde a madrugada do dia das manifestações.

Ou seja: há muita tensão, em maior ou menor gravidade, em todos esses nossos vizinhos. E, em todos eles, pela primeira vez as polícias ganham um protagonismo inédito e concomitante.

É amplissimamente conhecida a proximidade e os vínculos do clã Bolsonaro não apenas com as policias Civil e principalmente Militar, mas também as milícias assassinas espalhadas pelo Rio de Janeiro.

E o grande perigo é que o clã se espelhe nos vizinhos se – e quando – achar que for preciso endurecer ainda mais o governo que está aí. O tal golpe dentro do golpe defendido, entre outros, pelo vice, general Mourão, durante a campanha eleitoral do ano passado. 

Por isso é preciso estar absolutamente atento ao que fazem o clã Bolsonaro e os militares empijamados encrustados no governo. 

É pôr um olho nele, e o outro nos vizinhos. Nos do condomínio, e também nos do continente.  

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