Um nome, uma legenda

Não deve, pois, surpreender a ninguém essa aproximação da UFPE com os interesses das classes dominantes locais. Ao que se sabe, a nossa universidade nasceu e se expandiu sobre os charcos de um velho engenho da Várzea



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O professor Evson Malaquias, do Centro de Educação, da UFPE  é  um denodado e operoso pesquisador das relações  do regime de 1964 com a Universidade Federal de Pernambuco. Fez ele em suas pesquisas uma interessante descoberta: o ex-reitor da UFPE Paulo Maciel foi uma espécie  de "intelectual orgânico" da Ditadura Militar, durante o período do seu reitorado. Maciel era habitual frequentador de reuniões  sociais da classe dominante local  - os usineiros -  classe altamente favorecida pelo regime bonapartista  de 1964, emprestando assim seu prestígio universitário a esses convescotes e "meetings". Paulo foi deputado pela quem o sucedeu na reitoria da Universidade foi Paulo Maciel, primo de Marco Maciel. 

Paulo foi deputado pela ARENA e primeiro  presidente do IAA, além de assessor da FIEP . É  de se recordar que foi durante  o seu  reitorado que se deu a prisão de Edval Nunes (CAJÁ), tendo se omitido como reitor de defender o jovem estudante. Omissão , aliás,  do próprio Conselho Universitário. O professor Carlos  Maciel  foi o interventor  do Movimento de Cultura Popular (MCP) e membro do Conselho Estadual de Educação, também objeto de intervenção  política. O seu presidente foi  o professor Gilberto Osório, do departamento de Geografia. Em consequência, a Secretaria de Extensão Cultural teve seus membros  cassados, vinte dias  após  a posse de Carlos  Maciel.

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Não deve, pois, surpreender a ninguém  essa aproximação  da UFPE com os interesses das classes dominantes locais. Ao que se sabe, a nossa universidade nasceu e se expandiu sobre os charcos  de um velho engenho da Várzea. Como aparelho cultural por excelência, sempre foi o lugar de muitas interferências  político-partidárias.  A oligarquia local sempre esteve bem representada -direta ou indiretamente - em seus salões  nobres, auditórios, centros e departamentos. Dinastias familiares se sucediam no controle de suas  unidades. Grandes professores foram expurgados  e impedidos de trabalhar na instituição pela Ditadura e seus  prepostos  internos, incluindo-se na lista dos expulsos  o nome de Paulo Freire, patrono da Educação Brasileira. 

Quando, então, o professor Evson Malaquias põe  o dedo na ferida, afirmando que o nome do professor Carlos  Maciel  não pode ser aposto, como uma homenagem póstuma, ao Auditório do Centro de Educação, por sinal um dos mais politizados da UFPE, essa posição  só  pode suscitar reações  localizadas  por conta  da força  do imaginário da ditadura sobre mentes e corações  da comunidade universitária, isso num centro de educação paulofreiriano. Talvez essa reação se coaduna com o espírito da época bolsonariana que  vivemos, de desapreço à democracia.

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Muita discussão para uma pequena evidência: o medo, a leniência, a falta de coragem da instituição  para enfrentar  a herança autoritária do regime militar.

Alguns diriam  problemas  da nossa peculiar justiça  de transição  e seus compromissos com o antigo regime, transição incompleta  para a nossa frágil democracia  ou, ainda, transição  tutelada pelos militares, que  tornou a sociedade  civil refém  das forças armadas.

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Ora, o que  o professor Evson Malaquias  defende é  uma questão  de princípio: como pode uma instituição educacional, como o Centro de Educação  da UFPE, transigir com esse imperativo moral e cívico de passar a limpo a história  contemporânea do país, acertando  as contas com todos aqueles que se beneficiaram, se acumpliciaram e auferiram vantagens  da violência institucional e política do regime  de 1964?

Por essa e por outras, estamos nessa situação  de tibieza, dubiedade, pusilanimidade ante as ignomínias sociais e políticas, que  vão  se reproduzindo dia-a-dia  até  acabar por nos engolir  de uma vez.

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