Um lava o outro enxuga

"Uma parte do governo trabalha nos projetos estabelecidos. Mas para funcionar é preciso que a outra parte vá na frente varrendo o caminho", diz Miguel Paiva

(Foto: Miguel Paiva)


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Meu gosto por esportes é meio estranho. Gosto de alguns tradicionais, mas assisto muito às disputas olímpicas de curling. É realmente estranho. Pessoas de dois times numa pista semelhante à da bocha, mas de gelo, disputam a partida jogando, à sua vez, pedras de um granito especial que têm que ficar o mais próximo possível do alvo. Enquanto um joga outros dois vão ao lado da pedra que desliza esfregando uma vassoura especial para limpar o gelo, deixa-lo mais liso para que a pedra ande mais ou menos depressa. Tudo isso para fazer a analogia do que acontece com o governo Lula a meu ver.

Uma parte do governo trabalha nos projetos estabelecidos e que são muitos. Mas para funcionar é preciso que a outra parte vá na frente varrendo o caminho. Isso significa limpar o entulho e as armadilhas deixadas pelo governo Bolsonaro e que são muitas.

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Um varre, o outro trabalha. Mas não basta isso. É preciso olhar para trás. Muitas vezes o caminho ultrapassado volta a ser preenchido por valões, entulhos, ciladas e pedregulhos. Temos então que voltar atrás e limpar novamente. A direita adora dizer que o governo não está trabalhando e parte da imprensa compartilha. É que trabalhar em duas frentes é mais difícil.

Cansativo, quase impossível. A ideia de quem saiu era essa. Se o golpe não desse certo, e não deu, deixar o maior número de problemas possíveis para que o governo Lula tropeçasse, caísse e não se reelegesse ou elegesse alguém nas próximas eleições.

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Mas como sabemos Lula é um político incansável e competente. Tem seus defeitos, suas fraquezas, aliás como todos nós, mas tem também uma sabedoria como poucos tem. E paciência. E teimosia. E insistência. Que bom. Contamos com isso para que a esperança da democracia sobreviver e se sedimentar não vá por água baixo.

As decisões na democracia demoram mais. Elas respeitam os dois lados, o direito de defesa e os argumentos contrários. A justiça também. Ouve os argumentos, respeita os recursos e no seu tempo decreta a pena ainda passível de recurso. Às vezes é lenta demais e ainda mantém certos privilégios criados para a classe dominante quando cometia crimes. Até ser presa demorava. Para os pobres sem recursos, não há recurso possível. Assim ainda é a lei, na sua maior parte, mas é a lei.

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Precisamos ter a mesma paciência do presidente Lula e confiar, apesar dos olhos abertos, na justiça. Ela será feita como já vem sendo feita. A pista do governo ficará cada dia mais limpa para que ele possa trabalhar, mas é realmente preciso ter calma.

Como se dizia antigamente, calma que o Brasil é nosso.

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Fui buscar um esporte nórdico para usar a metáfora não só da paciência como do trabalho coletivo. No curling ganha quem colocar mais pedras perto do alvo. No Brasil de hoje ganha o povo que cada dia chega mais perto da dignidade e da democracia. Tomara que sejamos vencedores.

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