Um homem e sua prisão interior
Sem colocar seu personagem em mais um julgamento, "Free Chol Soo Lee" ilustra um exemplo trágico de fragilidade da condição humana
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O que começa como história de um movimento vitorioso por justiça termina como história de uma vida chamuscada pela infelicidade. O documentário Free Chol Soo Lee é a estreia na direção da dupla de jornalistas coreano-estadunidenses Julie Ha e Eugene Yi. Seu personagem é um imigrante sul-coreano que cresceu como bad boy em meio às gangues que atuavam na Chinatown de San Francisco nos anos 1970. Acusado injustamente de ter assassinado um jovem chinês em 1973, Chol Soo Lee passou dez anos na ferrenha prisão de San Quentin, sendo quatro anos no "corredor da morte".
Nesse período, o jornalista sul-coreano K. W. Lee interessou-se pelo caso e, identificando-se com Chol, assumiu uma figura paternal e iniciou um movimento pela sua libertação. Através de cenas de arquivo, entrevistas recentes e algumas poucas animações, o filme recupera uma causa que mobilizou a comunidade asiática nos EUA. Havia ali componentes de racismo e xenofobia, além de incúria dos procedimentos acusatórios.
A luta era dificultada, porém, pelo fato de Chol ter matado outro presidiário numa extensão das brigas de gangues dentro da penitenciária. Assim mesmo, com a contribuição de ativistas, advogados e religiosos, o rapaz teve finalmente anulada a sentença de morte e foi libertado. Quando isso acontece, ainda temos meia hora de filme para desfiar a vida pós-cárcere de Chol Soo Lee, que não seria menos dramática.
O filme combina relatos do próprio Chol com testemunhos de pessoas que batalharam por sua libertação e presenciaram o que viria depois. Ao enfatizar o movimento social que dá título ao filme, Free Chol Soo Lee corrige a adaptação ficcional Justiça Corrupta, que em 1989 exaltou o heroísmo de um dos advogados em detrimento dos esforços coletivos.
Ao fim e ao cabo, o que temos agora é o perfil um tanto enigmático de um homem que conseguiu sair da prisão, mas não se libertar das cadeias de uma história familiar adversa, uma dificuldade de se adequar à vida comum e, afinal de contas, uma baita falta de sorte. Sem falar nas sequelas de uma pena longa por condenação injusta.
Em seus 62 anos de vida, Chol viveu uma montanha russa de quedas e recuperações. A certo ponto, ele lamentava ter sobrevivido a um de seus piores revezes. Exemplo trágico de fragilidade da condição humana, que este documentário ilustra sem colocar o personagem em mais um julgamento.
>> Free Chol Soo Lee está na plataforma Mubi.
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