Um coxinha na coxia
O ator Cláudio Botelho, verde-amarelo, acreditava que ainda vivia nos tempos em que sociopatas xingavam e ofendiam pessoas em restaurantes, hospitais, livrarias, teatros e avenidas e viravam subcelebridades na mídia grande e nas redes antissociais. O jogo virou, malandragem
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e aconteceu que o Grande Simulacro foi desmascarado.
é exemplar a fala de um desmiolado na coxia do teatro SESC, em Bêagá, no último sábado, 19:
"o ator quando entra em cena é rei, não pode ser peitado por um negro, por um filho da puta da plateia..."
não, meu camarada. negativo.
reis podem e devem ser peitados, sim.
e oh, usar negro como xingamento, como sinônimo de filho da puta?
o ator Cláudio Botelho, verde-amarelo, acreditava que ainda vivia nos tempos em que sociopatas xingavam e ofendiam pessoas em restaurantes, hospitais, livrarias, teatros e avenidas e viravam subcelebridades na mídia grande e nas redes antissociais.
não mais.
o jogo virou, malandragem.
pensando estar diante do público de Fábio Júnior em Nova Iorque, o ator – durante a peça Todos os Musicais de Chico Buarque em 90 minutos – bateu panela na boca do palco.
foi vaiado e as vaias o empurraram para a coxia.
lá, protegido da plateia, o covardão vociferou preconceitos e lugares-comuns como um autêntico midiota.
com esse gesto ele acaba de entrar, com méritos, para a lata de lixo da história.
digo que esse caso é exemplar porque a reação da plateia naquele teatro foi a mesma de uma enorme massa de brasileiros que tomaram as ruas deste país na sexta, 18.
vai ter povo na ruas, sim.
vai ter confronto de ideias, sim.
antes da sexta, as ruas estavam tomadas por celerados convocados pela mídia grande, com um discurso de ódio único e midiótico: "Fora Dilma e leve o PT Junto".
nada de exigir direitos sociais, folga às babás uniformizadas aos domingos, cana para Cunha, nada.
e tome palavrões, tome caras de ódio, tome ameças a qualquer coisa vermelha que encontrassem pelas ruas: flores em jardins, bebês em colo de papais, inocentes cãezinhos, inofensivos senhorezinhos, até papais noéis de shoppings eram vítimas em potencial.
mas eis que nas ruas apareceu um mar de gente e se fez ouvir um forte rugido.
um rugido ruge, rubro, vermelho.
um grito com vigor, mas sem ódio.
e Lula entrou, de forma triunfal, abrindo esse mar vermelho e re-conduzindo seu povo à terra prometida por ele.
uma terra onde os catadores têm voz, onde os negros têm vez, onde os trabalhadores domésticos têm carteiras assinadas, onde médicos e águas chegam aos lares no sertão.
Lula, abre o mar vermelho na Paulista e aponta do outro lado da avenida a terra prometida, onde a fome foi aplacada e o negro estuda, trabalha, deixa de ser um deficiente cívico e se torna um cidadão.
abrindo esse humano e imenso mar vermelho, Lula mostra o país que construiu e que a Globo insiste em destruir.
não passarão!
gritaram estudantes e professores, trabalhadores e desempregados, crianças, jovens e adultos.
Lula vale a luta! gritaram porteiros, garçons, babás; bradaram advogados, médicos, bancários, pedreiros, padeiros e funcionários públicos.
não vai ter golpe!
gritaram mulheres do grelo duro, negros e negras, sem tetos e sem terras, brancos e brancas, pobres, remediados e endinheirados.
ouviu-se, e isso é o mais importante, vozes múltiplas, gente mista, todas as cores; ouviu-se o brado retumbante do povo brasileiro em suma.
não mais aquele simulacro de uma única classe social privilegiada se fakeando de "o povo brasileiro"; os midiotas de sempre, os que reclamam de barriga cheia.
aqueles que exigem apenas, tão somente, que os seus desejos particulares, particularíssimos, sejam atendidos.
os outros que se fodam.
no momento em que os brasileiros se unem em uma pauta comum, contra o golpe, contra a corrupção, contra a Globo, contra os sociopatas de plantão e em favor de mais direitos sociais e mais conquistas para o povo, a direita fascista começa a se desunir.
por esticar a corda demais, até quase arrebentar, Moro, o fantoche-mór, está desmoronando.
juristas patrícios e das estranjas já o apontam como um alucinado, um pretenso político passional e autocrata.
Marcello Reis, do Revoltados Online, foi expulso da manifestação verde-amarela.
provou do próprio veneno, foi chamado de comunista e de oportunista e acusado de levar, por fora, uma grana do endinheirado aécio.
aécio – grafemos sempre em minúsculas – por sua vez, foi hostilizado na mesma manifestação que fez questão de convocar.
a Globo, que também convoca manifestações verde-amarelas, foi ofendida ao vivo com gritos de "imprensa pelega".
o Pequeno Kim, o japonês da municipal, sentou a sapatada em Bolsonaro, que também foi ofendido por Constantino, o pateta patético.
Olavo de Carvalho, o astrólogo que se acha um astro, ofendeu Reinaldo Azevedo e Constantino.
parece aquele poema A Quadrilha de Drummond de Andrade.
é isso. enquanto os cães ladram, a caravana passa.
"vai passar nessa avenida o samba popular..."
nunca se esqueçam, democracia é dissenso.
uns vão de Chico, outros de Lobão.
depois das ruas, todos nos encontramos nas urnas.
palavra da salvação.
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