Um centro democrático de direita
"Ampliando o arco das suas alianças, o Lula ocupa também o espaço de um centro democrático. Democratico quer dizer anti-bolsonarista", escreve Emir Sader
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Por Emir Sader
Quando o esforço para encontrar um espaço para um candidato da terceira via se esgotar, ela procura usar outra roupa. Entre os dois candidatos mais preferidos, chega a não menos de 70%. Do resto, há os indecisos. A soma dos vários pré-candidatos da terceira via não chega a 20%, do Ciro Gomes à Simone Tebet.
De repente, se juntam alguns desses partidos e tentam aparecer como um Centro Democratico. Entre eles estão o MDB, o PSDB, o Cidadania e o Unidade Brasil – união do DEM com o PSL. Todos eles estiveram a favor do golpe contra a Dilma, se aboletaram no governo Temer e votaram no Bolsonaro em 2018.
MDB é o partido do Temer, entre outros. O PSDB é o partido do (Bolso)Doria e do Leite. O Cidadania é o partido do PPS. O União Brasil é o partido da ex-Arena, ex-PFL e do PSL. Expressão clara da direita brasileira.
Por que então querem se distanciar da terceira via e se dizer de centro? Por que a terceira via já era. Sua última tentativa de decolar, que foi a candidatura do Moro, fracassou estrepitosamente. Querem se reivindicar de centro, para se distanciar do Bolsonaro, a quem eles elegeram e apoiaram até onde foi conveniente e possível.
Que papel vão ter na política brasileira? Servirão para que a direita possa não cair plenamente no colo do Bolsonaro?
Marcaram uma data – 18 de maio – que, não se sabe por que, está bem distante. Para que se esqueça da promessa deles de serem uma alternativa? Para darem tempo de aparecer um álibi, para que cada um dos partido pule para outro barco?
Seu papel é nulo na política brasileira. Não tem coragem de apoiar diretamente o Bolsonaro. E não tem valor de apoiar o Lula. Não sairão do limbo em que estão.
Os meses que faltam até as eleições serão de guerra desatada pelo bolsonaristas. Fake news e drones serão seus principais instrumentos. Não dispõe de outros.
Os olhos todos estão postos no Lula, esperando que escorregue em algo, para tentar desgastar o apoio sólido que ele tem, que dificilmente baixará da casa dos 40%.
O favoritismo do Lula não está dado pela vantagem que ele tem nas pesquisas, mas no seu discurso e na campanha que ele já começa a fazer pelo Brasil. Sua relação com o povo, a forma como ele expressa as necessidades e as esperanças das pessoas. Sua campanha já começa a ganhar os contornos de um tsunami, de uma onda avassaladora, em que as pessoas despejam todas suas esperanças.
Ampliando o arco das suas alianças, o Lula ocupa também o espaço de um centro democrático. Democratico quer dizer anti-bolsonarista. Estes se somam cada vez mais ao Lula, não deixando margem para esse suposto centro democrático.
Eles chegaram tarde, demoraram muito para se distanciar de Bolsonaro, para procurarem sair do limbo da terceira via. Se compõem dos restos de partidos que já tiveram expressão nacional – MDB, PSDB, DEM – e que agora, depois que apoiaram a nova ruptura da democracia, estão reduzidos a mínimas expressões, cuja soma não será suficiente para projetar uma força com expressão nacional.
O centro no Brasil nunca teve boa sorte. Sempre se revelou um esconderijo, um disfarce da direita. Como o lugar da direita foi ocupado pela extrema direita, que os expeliu e os reduziu a restos de partidos, já sem nenhum apoio social significativo, tentam esse show mal desenhado de um centro democrático, que algum marqueteiro deve ter cobrado os tubos para vender-lhes a ideia e eles se apegam a ela, como último recurso antes de terem que se enfrentar ao dilema Lula ou Bolsonaro.
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