Um 25 de Abril de verdade (em Portugal...)
"Que aconteça aqui o que aconteceu em Portugal naquele distante 1974: eleições verdadeiramente livres, sem nenhum juizeco pulha e manipulador para distorcer resultados e virar ministro como prêmio", escreve o jornalista Eric Nepomuceno
✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.
Por Eric Nepomuceno, para o Jornalistas pela Democracia
Há exatamente um ano a Revolução dos Cravos cumpria 45 anos, e eu estava lá, em Lisboa.
Fui a convide de minha amiga Inês de Medeiros, a bela e excelente atriz, a documentarista afiadíssima, que é prefeita de Almada. Para quem não sabe, Almada está para Lisboa como Niterói está para o Rio: em frente, do outro lado não do mar, mas do rio Tejo.
Naquele 25, e como sempre desde que em 1974 os militares liquidaram uma ditadura fascista de décadas, uma multidão desfilou na avenida de Liberdade.
Fui até lá, mas caminhei na contramão: em vez de descer a avenida, subi. É que que eu queria ver o rosto das pessoas, ler as faixas, escutar de frente o que diziam. E uma das coisas que me chamaram a atenção foi a quantidade de portugueses que ostentavam cartazes com os versos de uma canção belíssima de Chico Buarque chamada Tanto Mar.
Pois hoje Lisboa, cidade onde fui premiado com a imensa sorte de ter amigas e amigos, uma fraternidade perene, celebrou o aniversário da Revolução dos Cravos, o de número 46.
Portugal é, hoje, um país, sob vários e variados aspectos, exemplar. Li por aí, em algum lugar, uma pesquisa indicando que a qualidade de vida de quem vive lá é a sétima melhor do mundo.
E como é que Lisboa e o resto do país celebrou o vigésimo sexto aniversário da revolução, essa sim, libertadora do jugo tenebroso da ditadura de Antonio Salazar e seu sucessor, um fascismo que parecia eterno?
Aliás, convém fazer lembrar para quem esqueceu e contar para quem não sabe: chama-se Revolução dos Cravos porque quando a população percebeu que as tropas que invadiam a capital tinham como objetivo liquidar a ditadura fascista, começou a distribuir cravos aos soldados.
Uma imagem correu mundo: mulheres espetando cravos nos canos dos fuzis ostentados por soldados jovens, muitos deles com lágrimas no rosto.
E como é que Portugal neste ano das trevas celebra a data?
Nas janelas e varandas.
O governo impôs uma quarentena severa, e Portugal é, na Europa, um dos países que apresentam o melhor resultado na prevenção do coronavírus.
Penso em meus amigos celebrando nas janelas, nas varandas.
E lembro que aqui, o que se vê e ouve em janelas e varandas são panelaços contra o psicopata que todo santo dia deposita as ancas na poltrona presidencial.
E lembro que enquanto Portugal se mantêm vivo, nosso presidente demente não faz mais do que afundar a cada hora de cada dia o país num inferno sem fim.
Dia desses vou plantar cravos no jardim, com a firme esperança de que quando floresçam já não seja necessário espetar uma flor num cano de fuzil: a esperança de que Jair Messias e toda, absolutamente toda sua tropa abjeta tenha caído fora. Toda, toda, sem nenhuma exceção.
E que então aconteça aqui o que aconteceu em Portugal naquele distante 1974: eleições verdadeiramente livres, sem nenhum juizeco pulha e manipulador para distorcer resultados e virar ministro como prêmio.
iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popularAssine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:
Este artigo não representa a opinião do Brasil 247 e é de responsabilidade do colunista.
Comentários
Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor, e não do 247