Trump e a política fracassada de dois estados na Palestina

Barack Obama deu um belo presente de Natal a Donald Trump: estimulou a condenação de Israel pelo Conselho de Segurança da ONU pela  política de assentamos ilegais nos  territórios palestinos ocupados

U.S. President Barack Obama meets with President-elect Donald Trump to discuss transition plans in the White House Oval Office in Washington, U.S., November 10, 2016. REUTERS/Kevin Lamarque
U.S. President Barack Obama meets with President-elect Donald Trump to discuss transition plans in the White House Oval Office in Washington, U.S., November 10, 2016. REUTERS/Kevin Lamarque (Foto: Jose Carlos de Assis)


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Barack Obama deu um belo presente de Natal a Donald Trump: estimulou a condenação de Israel pelo Conselho de Segurança da ONU pela  política de assentamos ilegais nos  territórios palestinos ocupados. Naturalmente, Obama sabia que Netanyahu, o premiê israelense, ficaria enfurecido. E talvez tenha achado que, com isso, daria uma chave de braço em Trump, que já declarou várias vezes que é contra a política de dois Estados, isto é, um palestino e outro israelense, na terra palestina original.

Vejam agora que coisa interessante: se é contra a política de dois Estados, Trump indiretamente está a favor da plena integração dos dois povos num único Estado. O premiê israelense talvez preferisse uma solução final para os palestinos mas nos tempos atuais isso não seria tolerado, sobretudo pelos russos, que são aliados indiretos dos palestinos através da Síria. Em razão disso, a única coisa lógica a se adotar é a política de um Estado para dois povos, algo que parece ser o secreto objetivo de Trump. Isso levaria paz ao Oriente Médio.

O fato é que a política de dois Estados, arquitetada por Rabin e Arafat décadas atrás, nunca funcionou. Os governos israelenses jamais resistiram à pressão de seus fundamentalistas no processo de provocar os palestinos com assentamentos ilegais em terras deles. Na verdade é pouco provável que venha a funcionar algum dia. Os israelenses são arrogantes e expansionistas, e estão ancorados num poderio militar invejável, que sabem usar com suas forças armadas muito bem treinadas, ou as mais bem treinadas do mundo.

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No período de sua constituição Estados são expansionistas pela própria natureza. Israel e Palestina são dois grupos territoriais que querem tirar pedaços uns dos outros, em último caso pela força, no seu processo de afirmação estatal. Aliás, pela força, Israel tomou vários pedados dos palestinos. Estudei no doutorado  modelos simples de sistemas complexos nos quais Estados eram representados por quadradinhos em interação. A força que movia os quadradinhos era a busca de expansão. Naturalmente, o sistema era instável.

Contaram-me que quando Carlos Lacerda, como repórter, foi enviado à Palestina para cobrir a declaração de independência de Israel, patrocinada pela ONU em 1948, escreveu vários artigos concluindo que jamais haveria paz naquela região. A história mostrou que tinha razão, pelo menos enquanto durar a política de dois Estados. Ao contrário do que israelenses hipócritas e observadores superficiais acreditam, para descongelar a situação no Oriente Médio só alguém com aparente brutalidade de Trump, propondo um só Estado.

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Curioso é que, mesmo sem saber exatamente o que Trump tem na cabeça, ele não tem muita margem de escolha, dada a preliminar de que não quer dois Estados. A reação de Netanyahu à resolução da ONU, determinando a construção de mais um assentamento do lado palestino, é a maior e mais imediata evidência de que a solução dos dois Estados não funciona. Se não funciona, deve-se buscar outra. Qual delas seria senão a integração dos dois povos numa só nação, mesmo porque todos são de remota origem abraâmica?

Israel certamente teria que resolver o problema democrático, ou seja, a questão da democracia relacionada com a demografia. O país é jovem, mas tem uma democracia consolidada. Os palestinos, com menor tradição democrática, terão, se for revertida sua diáspora, uma população maior que a israelense. Não é um problema insolúvel nos termos de uma Constituição pactada, na qual a representação israelense teria preeminência por um determinado período de tempo no futuro, até se equilibrarem demograficamente os povos.

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