“Trump-dependente”, a extrema-direita brasileira encolheu
"Golpes de estado exigem, sobretudo, segredo. Quem faz não anuncia, quem anuncia não faz", escreve o jornalista Alex Solnik
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Por Alex Solnik
Não há dúvida que, com a derrota de Trump em 2020, a extrema-direita brasileira encolheu.
Era “trumpdependente”.
Desde que Biden chegou à Casa Branca, Bolsonaro perdeu a classe média que ia pedir intervenção militar na Avenida Paulista.
Recorreu a Temer para escrever uma cartinha ridícula, com desculpas pelo que os outros achavam que ele ia fazer.
Os principais expoentes da extrema-direita sumiram ou foram expurgados: Weintraub, Ricardo Salles, Ernesto Araújo, Sara Winter, Zé Trovão, Roberto Jefferson.
E agora Daniel Silveira vai passar uma temporada em cana.
Os que foram até o STF em apoio a ele podiam ser contados nos dedos de uma das mãos.
Ninguém ameaçou invadir o recinto.
Bolsonaro ainda ruge de vez em quando, mas é um leão sem dentes. Sem Trump ao seu lado, ficou no mato sem cachorro. Biden fechou as portas da Casa Branca.
Desde a II Guerra, as Forças Armadas brasileiras têm estreitas ligações com Washington. Não teriam derrubado a democracia em 1964 sem o aval dos generais de Tio Sam.
Na época, o embaixador no Brasil, Lincoln Gordon passou a desinformação ao seu governo de que o presidente João Goulart planejava ser um novo Fidel Castro.
Cuba não mais exporta revolução. Nem Cuba, nem outro país algum.
Os militares do Pentágono sabem disso. Não há motivo para apoiar a ruptura democrática no Brasil. Talvez até houvesse com Trump, mas não com Biden.
E sem apoio de Washington, por mais que haja saudosistas da ditadura na caserna, tanques não vão sair dos quartéis no Brasil.
Outro sinal da guinada de Bolsonaro para o centro foi a aliança com o centrão. A extrema-direita não tem voto para reelegê-lo. Nem ele tem força para dar um golpe de estado.
Trata-se de um ato muito grave, criminoso que, se não dá certo, resulta em pesadas penas aos autores. Por isso demanda um planejamento minucioso. E construção de alianças poderosas.
Ninguém derruba a democracia sozinho. O candidato a ditador precisa ter apoio dos governadores, das Forças Armadas, do Congresso, da mídia e da população. Assim sucedeu em 1937 e em 1964.
Em 1937, Getúlio tinha alta popularidade, era um verdadeiro líder da nação e os governadores comiam em sua mão. Ninguém achou que seria um erro transformá-lo em ditador.
Em 1964, a imagem do então presidente estava tão em baixa que não pareceu um erro tirá-lo do poder pela força.
A não ser na bolha de fanáticos que o segue (Jim Jomes também teve milhares de seguidores), e na sua casa, não há quem pense - na imprensa, nas Forças Armadas, na população, no Congresso - que, depois do que mostrou em quatro anos, seria uma boa transformar Bolsonaro em ditador.
Golpes de estado exigem, sobretudo, segredo.
Quem faz não anuncia, quem anuncia não faz.
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