Três domingos

O colunista do 247 Emir Sader destaca que "daqui a três domingos votaremos no primeiro turno para ter de novo um presidente eleito pelo voto popular."; para ele, "o primeiro turno vai, assim, assumindo ares de segundo turno, com um afunilamento das alternativas, que não se dá entre propostas extremistas, como alguns querem afirmar. Porque se Bolsonaro se assume como proposta radical de direita, Haddad representa uma coalizão ampla, que propõe uma retomada de um modelo que deu certo"; seja qual for o resultado, "o Brasil não sairá o mesmo ao final da mais profunda e prolongada crise da sua historia", avalia

Três domingos
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Daqui a três domingos votaremos no primeiro turno para ter de novo um presidente eleito pelo voto popular. Presidente colocado no governo sem legitimidade deu totalmente errado. Colocou em prática o programa derrotado quatro vezes nas eleições e levou o Brasil à pior crise da sua história.

Na reta final da campanha, as alternativas se afunilam. Quem teria que decolar, já decolou, quem ficou intranscendente, apesar da exposição prolongada na internet, não tem mais chance.

Depois de um longo processo de construção de candidaturas, as alternativas foram se estreitando, até se concentrar em duas possibilidades reais. A polarização petistas/tucanos foi desfeita, não pela sua superação por alguma "terceira via" - representada por Marina Silva ou por Ciro Gomes ou por Alvaro Dias -, mas pela liquidação dos tucanos como alternativa.

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A autocrítica de Tasso Jereissati, ainda que tardia, revela certo grau de consciência das posições suicidas dos tucanos, ao questionar a vitória eleitoral da Dilma em 2014 e em apoiar o golpe e o governo Temer, que surgiu dele.

O governo Temer colocou a nova linha divisória para o pais: ou o seu projeto de restauração neoliberal ou a retomada do modelo mais virtuoso que o Brasil já teve, o de desenvolvimento econômico com distribuição de renda, representado pelo Lula. Não são duas propostas, duas promessas: são duas realidades, vividas pelos brasileiros em carne e osso.

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Porém, o estrondoso fracasso do governo Temer faz com que o candidato que mais diretamente deveria representá-lo, o do seu ministro da Economia, tenha 1% de votos. Esse lugar foi ocupado pelo Bolsonaro que, reconhecendo a centralidade do tema da política econômica, aderiu ao projeto neoliberal, mesmo com seus desastrosos resultados. Ele representa assim, mesmo que de forma sinuosa, a continuidade do governo Temer.

Não há outras alternativas. As candidaturas de Ciro Gomes, Marina Silva, Guilherme Boulos, apesar da intensa exposição na internet, não decolaram. Com índices variados, conforme as pesquisas, não puderam, nem de longe se comparar com a candidatura do Lula e, segundo as mais recentes pesquisas, com a do Haddad, depois que ele foi apontado como o candidato do Lula.

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Na encruzilhada final, assim, a realidade se impõe aos desejos individuais. A política se impõe como arte da realidade, arte do possível. Lula se impôs como a personificação de um projeto que deu certo e que permanece na memoria dos brasileiros. O que ele ou seu ex-ministro de educação dizem, não são intenções, mas refletem experiências concretas de governo, aprovadas pelo povo sucessivamente nas eleições presidenciais.

O primeiro turno vai, assim, assumindo ares de segundo turno, com um afunilamento das alternativas, que não se dá entre propostas extremistas, como alguns querem afirmar. Porque se Bolsonaro se assume como proposta radical de direita, Haddad representa uma coalizão ampla, que propõe uma retomada de um modelo que deu certo, de que o Lula concluiu seu segundo mandato com 87% de apoio.

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Outubro se revela assim um mês decisivo para o futuro do Brasil em toda a primeira metade do século e, em parte, também da América Latina. Duas grandes alternativas se enfrentam: a da continuação do neoliberalismo, acompanhada de posições extremistas no plano dos valores, e a do antineoliberalismo. O Brasil não sairá o mesmo ao final da mais profunda e prolongada crise da sua historia.

Três domingos nos separam dessa definição fundamental.

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