Transformação ou reconstrução?

"Os discursos de Lula apontam para um governo de ruptura radical com o neofascismo", diz o colunista Julian Rodrigues

Ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
Ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (Foto: Ricardo Stuckert)


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Por Julian Rodrigues, no site A Terra é Redonda

Não vai ser no primeiro turno, mas Luís Inácio Lula da Silva ganhará as eleições de 2022. Tudo indica que derrotará Jair M. Bolsonaro nas urnas, o que não é a mesma coisa que vencer o bolsonarismo e a extrema-direita. Sem oba-oba. Bolsonaro cresce nas pesquisas. Não está morto. Haverá segundo turno. Na hora decisiva, arrastará a maioria do eleitorado conservador.

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Lula também cresce e se consolida como favorito. Ocorre que, a candidatura Lula, vem se tornando, na prática, uma plataforma de união nacional contra o fascismo. O que é bom. Só que também traz inúmeros desafios. Um bonde grande demais. Uma verdadeira “arca de Noé”, onde cabe todo mundo. Do PSOL a Geraldo Alckmin. Como a tal “terceira via” não decolou, parte importante do andar de cima – tanto os donos da grana como seus representantes políticos – decidiram embarcar na candidatura Lula desde já. Quem chega primeiro bebe água limpa.

Faz todo sentido a mais ampla aliança antifascista, até mesmo com golpistas reposicionados e outros bichos esquisitos. Os discursos de Lula apontam para um governo de ruptura radical com o neofascismo – do ponto de vista cultural e político. É o retorno da normalidade democrática, digamos assim.

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Em termos de política econômica as declarações de Lula têm sido muito progressistas. Lula tem feito enfrentamento aberto ao mercado, enfatiza o foco na recuperação do papel da Petrobrás, manda avisar que vai acabar com o teto de gastos, acena com o fortalecimento das políticas sociais e promete um novo projeto de desenvolvimento.

Ao mesmo tempo, Lula convida Geraldo Alckmin, que governou São Paulo por 12 anos, duas vezes candidato a presidente pelo PSDB, neoliberal conservador, tucano até ontem, para ser seu vice. Seria uma nova versão da “Carta aos brasileiros” de 2002, aquele compromisso com a manutenção de políticas neoliberais na economia?

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Sérgio Moro não emplacou, Ciro Gomes definha. Jair Bolsonaro tem muita força ainda, mas dificilmente ultrapassa 30%. O favoritismo de Lula leva um setor das classes dominantes a operar uma aproximação e atrai também todo tipo de aliado na esfera política. No Nordeste, então, todo mundo quer uma vaguinha no palanque lulista. Movimento natural, que reflete a liderança do petista. A propósito, é bom parar com essa história de vitória no primeiro turno. Além de improvável, desmobiliza e cria falsas expectativas.

O centro da disputa então é a composição, o caráter, o programa efetivo de um provável futuro governo Lula. Alckmin não fez essa guinada porque bateu a cabeça e acordou socialista. Quais as concessões programáticas foram ou serão feitas em troca do apoio do ex-tucano?

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A primeira escaramuça já ocorreu – se deu em torno do tema da reforma trabalhista. Geraldo manifestou sua preocupação com a fala de Lula prometendo revogar a tal reforma que retirou a maioria dos direitos dos trabalhadores. Será esse o papel de Alckmin? Vocalizar as posições da burguesia e moderar (ou mesmo tutelar) o governo Lula?

A energia que a campanha Lula despertará e já vem despertando é imensa. Esperança, desejo, confiança. Quanto mais popular e mobilizadora for a campanha Lula Presidente, maior a força para impulsionar mudanças. Ou, ao menos desfazer as maldades dos neoliberais e neofascistas.

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A candidatura Lula será radicalmente antifascista. Mas será também antineoliberal? Alianças com setores de centro-direita e da direita não comprometerão o caráter popular e democrático do futuro governo? Gente demais no bonde lulista no primeiro turno não atrapalha a nitidez programática e deixa nossa campanha feia, desempolgante? E nosso futuro governo moderado demais?

A Fundação Perseu Abramo e o PT construíram um belo documento com propostas para o futuro governo. O título é “Plano de reconstrução e transformação do Brasil”. No alvo. Porque não basta reconstruir o que foi devastado, é preciso também fazer reformas importantes, estruturais, que democratizem o Estado e empoderem o povo.

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Nessa direção, alianças demais no primeiro turno só atrapalham. São amarras antecipadas. Despotencializam as possibilidades de uma campanha militante, popular, de massas – e desidratam as ações mudancistas de um provável futuro governo desde já. Não basta, portanto, reconstruir. Vai ser preciso transformar esse país. Lula presidente, com amplitude, mas com radicalidade programática.

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