Trabalhadores e sindicatos argentinos retomam as ruas

A vitória de Petro-Francia lhe dá alento para que o Brasil fortaleça a vizinha Argentina

(Foto: Helena Iono)


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Em Buenos Aires, no 17 de agosto, o ato multitudinário convocado pela CGT, CTA e movimentos sociais confirmou, mais uma vez, a surpreendente consciência e capacidade de organização dos sindicatos e trabalhadores argentinos. Desde a avenida 9 de Julho rumo ao Congresso da Nação, acompanharam a palavra de ordem que abria o cortejo: “Primeiro a Pátria”, tradicional lema peronista, seguido por uma enorme diversidade de agrupações por províncias, cidades, em várias categorias, desde trabalhadores metalúrgicos (UOM), da construção civil (UOCRA), do setor elétrico (Luz e Força), professores (Ctera, Suteba), caminhoneiros, trabalhadores da saúde, jornaleiros, comerciários, da economia informal (CTEP), às organizações de bairro (Movimento Evita, Bairros de Pé, A Dignidade). Faltavam palavras de ordem mais claras, mas entre as várias necessidades, este protesto se resumiu em pressionar o governo a combater com maior firmeza a inflação, os setores especulativos, provocadores da desvalorização da moeda, da alta dos preços e da contínua perda do poder salarial. Pedem urgentes convênios paritários, bônus e salário básico universal de emergência (aos despossuídos).

Segundo Hugo Yasky, dirigente da CTA dos Trabalhadores, e deputado nacional pela Frente de Todos, a mobilização é “Contra os setores especuladores da economia que são os que provocam ataques de desvalorização e aumento dos preços dos alimentos para se enriquecer à custa das maiorias e ao mesmo tempo desgastar o governo nacional”. Chama o governo a apoiar-se nas mobilizações para enfrentar os setores econômicos desestabilizadores a favor dos excluídos.

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Pablo Moyano, líder dos caminhoneiros, o mais combativo entre os 3 dirigentes da CGT nacional, fez interessantes declarações: “a manifestação é uma mensagem clara para repudiar e denunciar os marcadores de preços e especuladores”; e exigiu ao Presidente Alberto Fernandez que “tome medidas contra os que aumentam os preços, pois o povo vai apoiá-lo”.  Agregou que entre os temas principais são: paritárias livres, bônus ou soma fixa e uma universalização do cheque-família.

O dirigente dos caminhoneiros, avançou em temas que parecem tabú como: “Há cinco milhões de viagens de caminhões de grãos por ano; 40 por centro saem em negro (contrabando), ou seja, o campo não paga 33 por cento das retenções (segundo a lei), mas 26. Quando entram nos portos, as balanças são das empresas produtoras de cereais. Quem controla? Se o Governo quer arrecadar dólares, teria que estatizar as balanças dessas empresas, da Cargill, da Dreyfus, da Azeiteira Deheza. Eles mesmos pesam seus produtos e vendem. Quem os controla?”. Pablo Moyano foi claro e contundente. E agregou: "As mineradoras nas montanhas são todas estrangeiras. 80% dos caminhoneiros são chilenos ou de outros países. Eles levam os minerais ao Chile e os processam no destino e depois de três meses dizem: de 100.000 toneladas de pedra encontramos 100 gramas de ouro. Essas são as medidas que o governo tem que tomar: enfrentar os poderosos, como esses caras que, hoje, tiram um prato de comida dos argentinos."

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Hugo Yasky, dirigente da CTA e deputado federal da Frente de Todos, diz que este 17 de agosto deixou um recado ao governo: “há um povo trabalhador disposto a sair às ruas com a consciência de que este país, os assalariados somos os que podemos construir uma democracia com vida digna”. A manifestação deixou um duplo recado. Por um lado, explicitas exigências e apoio crítico ao governo e, por outro lado, um alerta à direita de que, frente às ameaças desestabilizadoras e golpistas da direita, este povo tem força e decisão para que “Não toquem na Cristina”; e impedir que qualquer golpe híbrido ou de velho esquema não será tolerado. De fato, não deixou de haver cartazes e protestos dirigidos contra o poder Judicial.

O tema da justiça que não funciona, das corporações judiciais-midiáticas, foi abordagem da precedente manifestação do 13 de agosto

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O tema da perseguição do lawfare à vice-presidenta, Cristina Kirchner, com a reabertura do processo sobre a Vialidad (Leia o artigo anterior), foi levado quatro dias antes, na manifestação do dia 13 de agosto, no parque Centenário em Buenos Aires, organizada pelo juiz Juan Ramos Padilla e o médico-professor Jorge Rachid. Com significativa participação de peronistas-kirchneristas e movimentos que experimentaram os anos de chumbo da ditadura (muitos idosos militantes); a iniciativa visa estender-se às demais praças dos bairros, a cada 15 dias, atingir e conscientizar a cidadania sobre a urgência da Reforma Judicial, do corte à Corte Suprema, com os lemas: “Contra o lawfare mediático e judicial! Cristina não se toca! Organizados e na resistência”!  Este movimento dá-se ao objetivo de iniciar uma caravana explicativa à população de que a falta de uma justiça imparcial e verdadeira não atinge somente a vice-presidenta e Milagro Salas, mas todo cidadão comum, pondo em risco a democracia.
Renovar um poder Judiciário dependente da política macrista, do poder hegemônico dos EUA, requer decisões congressuais, mas sobretudo, decisões políticas dentro da Frente de Todos. Muitos se perguntam, quanto falta para a “Justiça” apagar incêndios dolosos e crimes ambientais promovidos por oligarcas do Delta do Rio Paraná, intoxicando o povo de Santa Fé, da província de Buenos Aires e da capital? Quanto falta para a “Justiça” liberar o avião Embrasur ao justo destino que é a Venezuela? Quanto falta para que haja uma Reforma Judicial e da Corte Suprema onde o Governo Nacional e Popular comande de fato?

O certo é que entre as águas do movimento pela Justiça em defesa de Cristina Kirchner (dia 13) e a dos sindicatos e movimentos sociais pelos direitos dos trabalhadores (dia 17), forma-se uma rede que confluirá num volumoso rio de protesto e impulso ao governo popular. Veremos os efeitos, nas próximas medidas a serem anunciadas por Alberto/Cristina/Massa. No seu conjunto, a retomada das ruas tem-se anunciado irreversível e necessária para sinalizar que sem os trabalhadores não há reordenamento das metas do governo da Frente de Todos. Reordenar, significa avançar com maior rapidez nas normativas para impor restrições aos setores oligárquicos exportadores e financeiros, com políticas públicas e maior controle do Estado.

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Hector Cabrera, da CTA dos Trabalhadores, diz: “É importante mobilizar para apoiar o nosso governo contra o golpe e para a desestabilização do golpe que o poder real está preparando. A mudança produzida no nosso governo com a instalação de Massa no Ministério da Economia, atenuou em parte e moderou as agressões do poder real, mas não resolverá os problemas subjacentes, sem que o governo tome decisões políticas fortes com grande audácia, apoiado sobre a mobilização popular. Diante da avançada e execução de um ataque sistemático do poder real, por meio de uma combinação perfeita do Partido Justicialista, os grupos hegemônicos da mídia, as corporações, a especulação financeira, apoiados pelo instrumento político partidário JXC (Radicais e PRO) instigando um processo de desestabilização do governo para produzir um golpe institucional.”

O exemplo de Lula na sua aguerrida e massiva campanha eleitoral no Brasil, a crise de Bolsonaro frente a um STF e STE decididos a fazer respeitar a democracia, fortalece o povo argentino. A grandeza deste líder operário e estadista, Lula da Silva, está presente na luta dos trabalhadores argentinos deste 17 de agosto. Não há fakenews que consigam impedir que a voz rouca, mas corajosa deste líder, que sobreviveu ao lawfare, à Lava Jato, à prisão em Curitiba, chegue ao povo brasileiro e latino-americano enfrentando todo tipo de ameaças. As redes ressonam seus discursos em São Paulo e em Belo Horizonte, que garantem que edificará a democracia para os oprimidos, que reverterá as privatizações, que o Estado será o carro-chefe do seu governo, que índio e mulher serão seus ministros. Enfim, a vitória de Petro-Francia lhe dá alento para que o Brasil fortaleça a vizinha Argentina, e renove a CELAC, UNASUL e o BRICs para uma América Latina livre e soberana.

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