Tornozelandia S.A.
O Brasil, se fizer a lição de casa e souber aproveitar a maré alta da criminalidade macro, será um celeiro para a Tornozelandia S/A, combatendo a ociosidade da cadeia, as regalias e o volume de dinheiro gasto para a fiscalização, visitas e fugas que sempre se observam
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O Brasil, varrido pela corrupção e destruído pela má administração, agora, em colapso geral, encontra uma saída do jeitinho brasileiro para soltar os presos envolvidos nos crimes organizados e nas demais falcatruas que acontecem como usos e costumes na República dos larápios.
E vejam que as Cortes Superiores entendem por bem, monocraticamente, diga-se de passagem, eleger a prisão domiciliar para os réus e, com isso, clausular condições de soltura. E a mais importante é aquela do monitoramento, com o uso da tornozeleira e proibição de viagem, com a entrega do passaporte e apresentação a cada 15 dias. No entanto, diante da megacrise que enfrentamos, não há tornozeleiras à disposição, estamos importando, acreditem se quiser, tamanho o número de custodiados com o material determinado pela Justiça.
Em breve, nos transformaremos numa Tornozelandia S/A, a terra das tornozeleiras, controladas e monitoradas à distancia e com a imprescindibilidade de recarregar por meio elétrico, e o mercado tem falta do produto, haja vista que, com a Lava Jato, disparou a compra pelos Estados e, notadamente, pela União, porém existem vários Estados da Federação insolventes, sem meios de disponibilizar o material.
E, aqui, fica a indagação: se o Estado não pode cumprir o que manda, uso de tornozeleira, não deve prevalecer o benefício da dúvida, mas sim o benefício da dívida, já que o tempo de importação é demorado e a abertura de licitação, mais ainda.
E o Brasil tem trazido um número elevado desse produto do exterior, com ele, o acusado é monitorado 24 horas por dia e, se ficar sem recarregar ou tiver algum problema, a unidade de plantão se comunica e pede o deslocamento para aferir se o usuário está com algum tipo de problema, hipóteses há em que recomendam o encarceramento pelo descumprimento das condições impostas.
Viveremos dias magníficos da Tornozelandia S/A, a maior fábrica do planeta que será instalada e funcionará no Brasil 24 horas por dia, 365 dias por ano, sem problema algum de crise, de despedida de pessoal ou de elevação de preço, eis que a demanda tem sido e sempre será muito superior à oferta que o mercado tem condições de oportunizar.
Em alguns lugares desenvolvidos, a pulseira digital é utilizada pelo preso, que funciona como um sistema de informação e de rastreamento, com isso, as circunstâncias de deslocamento são analisadas e, se vier a sair da faixa delimitada pelo juízo, obviamente terá problemas e poderá ser novamente preso e apresentado para advertência ou até mesmo o fim da regalia.
O Brasil possui, seguramente, a terceira maior população carcerária do mundo, porém se ela fosse limitada a dez por cento dos crimes de corrupção, colarinho branco, contra o erário e costumes, envolvendo, ainda, liberdade sexual, provavelmente o Estado teria dinheiro para novas escolas e hospitais.
O que se pretende, com isso, significar é que deveríamos fazer uma relação dos presos perigosos mantendo-os encarcerados e aqueles os quais não dispõem de espaço ou simplesmente não são nocivos à sociedade terão mais liberdade, mediante fiscalização por meio da tornozeleira, o que não afetaria a relação entre o Estado e a própria Justiça.
O aumento desmesurado da criminalidade tem sido um contraponto nas políticas estaduais e na dificuldade de se humanizar presídios, aliás, nesse quesito, o Brasil se alista entre os piores do mundo, basta ver as condições do Maranhão e outros Estados para que saibamos que facções dominam e matam por nada.
O comprometimento da capacidade de investir em construção de novos presídios somente se desfaz por meio de parcerias público-privadas e através do saneamento da periculosidade com estudo do comportamento e do caráter do preso.
Em suma, o Brasil, se fizer a lição de casa e souber aproveitar a maré alta da criminalidade macro, será um celeiro para a Tornozelandia S/A, combatendo a ociosidade da cadeia, as regalias e o volume de dinheiro gasto para a fiscalização, visitas e fugas que sempre se observam.
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