Toda mulher é uma sobrevivente
"A violência física é parte do cotidiano das mulheres e as estatísticas infernais estão aí para provar", escreve Marcia Tiburi
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Toda mulher é uma sobrevivente no sistema de ódio que o patriarcado é. Estabelecido como programa de violência contra as mulheres, o sistema patriarcal se organiza com o uso de implementos simbólicos e físicos contra as mulheres e, ao mesmo tempo, promove sua ocultação, o que faz dele uma ideologia.
Se o funcionamento do programa implica uma repetição algorítmica da violência, pela ideologia se produz o ocultamento do seu jogo.
Junto à violência, o medo é administrado diariamente como ameaça contra as mulheres, sejam elas cis, trans, lésbicas, bissexuais, heterossexuais, sejam jovens, meninas ou idosas, sejam negras, brancas, pardas, indígenas, sejam portadoras de deficiências, sejam pobres ou não. Até mesmo as mulheres das classes exploradoras são vítimas da violência estrutural na pirâmide da violência programada de cima para baixo. Isso quer dizer, mesmo na zona do privilégio, as mulheres nunca serão iguais aos homens. Que mulher pode dizer que não é coagida pelo medo de alguma forma de violência no sistema patriarcal?
Infelizmente, a violência estrutural do sistema define a dificuldade de transformá-lo. A violência estrutural se expande como violência simbólica a permear todos os processos da linguagem. A violência física é parte do cotidiano das mulheres e as estatísticas infernais estão aí para provar.
Medo e ódio andam juntos na misoginia. O circuito do ódio implica a circulação da energia misógina, DNA do sistema patriarcal. É da fisiologia e do metabolismo do monstro devorador patriarcal a violentar e massacrar corpos que se trata.
Da misoginia verbal à misoginia extrema que é o feminicídio, as mulheres nascem, crescem, se reproduzem, envelhecem e morrem sob a mira desse ódio.
Para não se tornarem vítimas, devem se comportar conforme as regras do verdugo patriarcal que não prevê perdão para elas.
Sobre as mulheres é lançada toda a culpa num sistema de julga e sentencia sem parar. Contra esse regime de culto, em que o machismo cultua a si mesmo, o feminismo é um instrumento de autonomia das mulheres.
O feminismo é uma luta contra a guerra cultural de violência, medo e ódio que é o patriarcado.
O feminismo é a política do feminino, ele mesmo politizado como amor à vida. Todas as lutas feministas miram a transformação desse mundo de injustiça e sofrimento.
E é sobre isso que falamos no dia 8 de março.
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