Terrorismo na Praça dos Três Poderes: a antiestética da subserviência
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Eles queriam a intervenção federal, e eles a receberam.
Basta uma breve reflexão sobre o complexo de vira-latas para que nos perguntemos: como é que a americanização, preponderante no bolsonarismo, não iria fazer sua própria versão do Capitólio em Brasília? A cópia dos radicais de extrema-direita americanos, perceptível inclusive na indumentária dos brasileiros de alma corroída - os mesmos que ultimamente vêm passando ao resto do Brasil e do mundo uma imagem profundamente vexatória - ao afirmarem, por exemplo, que Macron é comunista (como tudo o que não se encaixa no fascismo bolsonarista), de dividirem eventos insólitos de uma realidade paralela, como a dos celulares na cabeça pedindo ajuda às luzes do céu, ou de se ajoelharem diante de pneus etc. - é desde sempre autoevidente.
Passou da hora de cobrar-lhes a retomada de juízo, e a loucura tomou conta também de seus corpos, que agora mostram em atos suas piores consequências.
O lugar de descanso (ou de fuga) do seu líder, o ex-presidente Bolsonaro, serve de alento e alimento para a sustentação desse tipo de patriotismo às avessas, contrário a tudo o que evoca a essência desta palavra. É que, de lá, ele emana o tipo de energia que põe em movimento a musculatura golpista: primeiro, esquivando-se da liderança; segundo, abandonando-os à própria sorte - traços típicos de uma cultura em plena decadência, sintetizada em um “salve-se quem puder” e em um “façam justiça com as próprias mãos”.
As consequências dos atos terroristas na Praça dos Três Poderes é o subproduto do abandono de uma liderança que, na verdade, nunca existiu. A constatação, mesmo que em um nível inconsciente, de que nunca houve um líder, encerra o ato da histeria coletiva, forjada nas paralisações das rodovias após a derrota de Bolsonaro em 30 de outubro do ano passado, e nos acampamentos golpistas na frente dos QG (quartéis generais). Na ausência de qualquer tipo de orientação, consequência direta da ausência do líder, a única peça de orientação do grupo é o ódio ao Lula: expressão-síntese de um ódio estrutural de classe; o ódio ao nordestino, ao pobre, ao preto, ao índio. Ao faminto.
Lula é a síntese mais bem elaborada das minorias; é aquele que mais encarna a democracia brasileira por ser ele mesmo a prova viva da luta pelos direitos fundamentais, da luta pelos princípios mais caros da Carta Magna. Lula é a Constituição que anda.
Na contramão, o falso líder insiste na mensagem, sem minimamente refletir em seu potencial autoincriminatório, de que “sempre atuou dentro das quatro linhas da constituição”, como se isso bastasse para livrá-lo de qualquer tipo de responsabilidade. O que se sabe, no entanto, é que a possibilidade de que ele seja preso se torna a cada dia mais palpável ,embora, desde a derrota para Lula, Bolsonaro venha demonstrando um exponencial temor de ser preso. A mensagem é autoincriminatória, pois sempre aparece quando, por A+B, se aponta o dedo para ele em tom acusatório sobre atrocidades ocorridas no Brasil nos últimos anos.
Mais cedo ou mais tarde, ele deverá responder.
A cada momento a radiografia do movimento golpista deixa clara a sua anatomia. Trata-se da experimentação da barbárie levada às últimas consequências. Tudo é válido com tal que o núcleo da democracia seja atacado de modo brutal, o que culmina na exposição do lado mais obscuro do espírito humano; uma queda brusca em direção à barbárie. O que está em jogo é o ataque da face mais monstruosa do mercado que, sob o formato da extrema-direita, têm se insurgido contra os valores democráticos e o fortalecimento do Estado. É a renovação do neoliberalismo golpista que promoveu ditaduras nos principais países sul americanos entre os anos 1950-1970 (Brasil, Bolívia, Argentina, Chile, Paraguai e Uruguai). Daí que não é difícil entender porque o agronegócio, interessado na escalada do dólar, é um dos principais financiadores dos atos terroristas. Ademais, é inadmissível aceitar um pedido de desculpas vindo de qualquer autoridade, justamente porque não faltaram mensagens que se espalharam durante toda a semana, anunciando a invasão. Fora a negligência das autoridades que vem fazendo pouco caso das manifestações de cunho antidemocrático, o que as torna cúmplices dos ataques perpetrados contra a democracia.
O medo costuma se manifestar por meio de dores abdominais.
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