Tereza Cruvinel e Marighella: resistindo à guerra contra o Brasil, jornalismo independente venceu uma batalha

O prêmio que ela, merececidamente, conquistou é também de toda comunidade que sustenta o jornalismo independente (indepedente porque não é sustentado por 1% daqueles que detém 50% da riqueza nacional)

Tereza Cruvinel ao receber o Prêmio Comunique-se
Tereza Cruvinel ao receber o Prêmio Comunique-se (Foto: Reprodução)


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Fui um dos finalistas do Prêmio Comunique-se, na categoria repórter de mídia escrita, juntamente com Patrícia Campos Mello, da Folha de S. Paulo, e Luísa Martins, do jornal Valor (Grupo Globo). Não venci, o prêmio foi para Luísa Martins. Mas fiquei muito contente com o troféu dado a Tereza Cruvinel, na categoria colunista de opinião.

Tereza mereceu o prêmio, que era disputado também por Miriam Leitão e Guilherme Fiúza. Senti-me também agraciado e explico por que. 

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Tereza faz parte de um time de jornalistas que escolheram ficar ao lado do Brasil quando a mídia corporativa, que eu chamo de velha imprensa, começou a praticar o jornalismo de guerra.

Esse tipo de jornalismo é acessório de uma estratégia que procura usar o direito com o mesmo objetivo de tanques, caças, fuzis e granadas, no passado. O objetivo é derrotar adversários, quadros não alinhados aos interesses de grupos poderosos. 

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A expressão surgiu em 1975, em um ensaio de John Carlson e Neville Yeomans, Eles usaram o termo para definir uma tática em que a guerra dava lugar à disputa por leis: “um duelo de palavras em vez de espadas”. 

No Brasil, como vimos na Lava Jato, essa estratégia não teria êxito sem uma aliança com jornais, TVs e sites controlados por famílias milionárias, veículos porta-vozes do 1% que detém metade da riqueza nacional.

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No passado, quando a guerra era travada com a força bruta, a reação ao golpe no Brasil se deu com a tática da luta armada — talvez equivocada, mas coerente com os instrumentos disponíveis. Hoje, o campo de batalha se dá nos tribunais e também no jornalismo. 

Por isso, quando vi Tereza subir ao palco do evento de premiação do Comunique-se e observei o olhar de admiração de Leonardo Attuch na mesa, lembrei-me do Marighella retratado por Wagner Moura no filme que estreou há pouco no Brasil. 

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Era uma adversária do lawfare que se expressava ali, representando todos nós, os que praticam o jornalismo no espaço que já foi definido como “blog sujo”, e também os que fazem parte dessa comunidade, vocês, que aqui interagem, financiam e se organizam.

Em 2016, quando o golpe contra Dilma Rousseff foi consolidado, o governo de Michel Temer tentou acabar com a comunicação independente (sim, independente, porque não é sustentada pelo 1% que detém 50% da riqueza nacional). Atacou a Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), que havia sido criada por Tereza.

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Em seguida, violando o Código Civil, cancelou unilateralmente os contratos com os na época chamados “blogs sujos”, que tinham leitores em quantidade expressiva, o que justificava a publicidade. 

Na época, os veículos que representam os interesses do 1% também tinham contratos de publicidade, em valores muito, mas muito maiores. Com estes, não houve violação do Código Civil, e os contratos continuaram e outros foram firmados, em valores ainda maiores. 

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Sem esses veículos, não teria havido reforma trabalhista (um golpe contra o trabalhador), e teto de gastos (que engessa o investimento na área social e preserva a remuneração dos rentistas).

Essa batalha do lawfare, eles perderam. No caso do 247, o que era um site virou também TV e quem sustentou essa ampliação foi o público, seja no financiamento direto ou na audiência, que gera remuneração através da publicidade programática, em que não há contato direto entre os veículos e as empresas, relação que garante a independência.

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A narrativa dos “blogs sujos” prevaleceu. Hoje o mundo inteiro sabe que as jornadas de junho foram capturadas pela extrema direita e não há nada nelas para ser comemorada. 

Sabe também que o impeachment foi golpe, que a Lava Jato foi uma farsa, que a condenação de Lula foi política, que sua prisão também fez parte da estratégia de lawfare e que a eleição de Bolsonaro, em razão disso, foi também uma fraude.

Peço licença a Tereza para dizer que o troféu que ela, merecidamente, levou para casa é também uma conquista de todos nós. Parabéns a Tereza e a todos vocês, que garantem espaço para que jornalistas como ela continuem exercendo a sua vocação: contar histórias e fazer análises com credibilidade.

 

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