Teodoro Sampaio: brasileiro para ser lembrado e de grande talento e valor
"No dia 15 de outubro completam-se 83 anos da morte do Deputado Federal Teodoro Sampaio, o único parlamentar brasileiro que nasceu escravo e virou nome de duas cidades"
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O Imperador e filósofo romano Marco Aurélio que, no ano de 161 depois de Cristo assumiu o trono de Roma, afirmou a seguinte frase: “Logo tu esquecerás; logo te esquecerão!”.
Lembro da frase do importante mandatário romano porque ela é profundamente verdadeira ao tempo que trágica e realista, porque traduz, inapelavelmente, a condição humana de que somos mortais, e que, com o tempo, somos esquecidos no presente e, principalmente, pelas gerações vindouras.
Do imperador passo a lembrar de um grande homem brasileiro, que não era de família nobre, mas de uma grandeza ímpar, que fez com que muitos brasileiros de sua geração o considerasse pessoa importante, por seu talento, dedicação ao trabalho e aos interesses do Brasil, de seu povo, além da luta pela dignidade do homem negro, que veio para este País à força, na condição de escravo e desprovido de liberdade e sem direitos civis - de cidadania.
No dia 15 de outubro completam-se 83 anos da morte do Deputado Federal Teodoro Sampaio, o único parlamentar brasileiro que nasceu escravo e virou nome de duas cidades, uma localizada no Estado de São Paulo e a outra na Bahia, Estado onde o ilustre brasileiro nasceu.
A Teodoro Sampaio baiana se chamava Bom Jardim, município do Recôncavo Baiano.
Filho do padre Manoel Fernandes Sampaio e da escrava Domingas Paixão, Teodoro Sampaio, no decorrer do tempo, tornou-se um homem de muitas realizações.
Levado para o Rio de Janeiro aos nove anos por seu pai, que o matriculou em uma escola para ele estudar as primeiras letras, o futuro engenheiro se notabilizou por sua capacidade de compreensão e por sua facilidade em colocar em prática tudo aquilo que tinha aprendido.
Engenheiro formado aos 22 anos, em 1877 pela Escola Politécnica do Rio de Janeiro, Teodoro Sampaio, enquanto não pôde exercer a profissão, foi professor de matemática e desenhista do Museu Nacional, o que lhe rendeu algum dinheiro para comprar as cartas de alforria de seus irmãos cativos na Bahia.
Livrou os irmãos Martinho, Matias e Ezequiel da escravidão, bem como negociou a liberdade de sua mãe junto ao Visconde de Aramaré, proprietário do Engenho Canabrava, local onde nasceu toda a família do engenheiro negro.
Por ser filho de pai branco, Thedoro Sampaio nunca foi escravizado. Seu talento, de grande expressão, o levou a ser nomeado pelo imperador Dom Pedro II como integrante da Comissão Hidráulica. Ele foi o único brasileiro entre os engenheiros norte-americanos a fazer parte de um grupo que estudou o escoamento de águas e as aplicações tecnológicas necessárias para a construção de canos e sistemas pluviais e sanitários.
Teodoro Sampaio foi realmente uma personalidade das mais importantes, pois um dos maiores pensadores brasileiros de todos os tempos. Ele tem a importância e a estatura de Capistrano de Abreu, Joaquim Nabuco, Nina Rodrigues e Euclides da Cunha — personalidades contemporâneas do engenheiro.
Para se ter uma ideia de sua grandeza como intelectual, Euclides da Cunha, autor de “Os Sertões”, o consultou para saber sobre a região de Canudos, na Bahia, onde estava a acontecer um dos conflitos armados mais sangrento acontecidos no Brasil, quando forças do Governo enfrentaram os seguidores de Antônio Conselheiro. Teodoro era apenas 11 anos mais velho que Euclides e foi seu mestre e mentor direto.
Teodoro Sampaio foi historiador, pesquisador e escritor. Dentre os livros mais importantes de sua autoria e que servem até hoje como referências bibliográficas estão: “O Rio São Francisco e a Chapada Diamantina”; “São Paulo no Século XIX e outros Ciclos Históricos”; “Atlas dos Estados Unidos do Brasil”; “Dicionário Histórico, Geográfico e Etnográfico do Brasil”; “História da Fundação da Cidade de Salvador”; e o “O Tupi na Geografia Nacional”.
Se Teodoro foi um grande pesquisador, sua carreira de engenheiro não ficou atrás. Após se formar na Escola Politécnica do Rio de Janeiro, ele teve a oportunidade de exercer a profissão em São Paulo. Integrou a Comissão Geográfica do Estado, além de participar de expedições de reconhecimento e mapeamento das suas principais bacias hidrográficas.
É de sua autoria o mapeamento completo do Vale do Itapetininga e do Paranapanema, publicado em forma de grande Atlas em 1889. No ano de 1890, Teodoro publicou “Considerações Geográficas e Econômicas sobre o Vale do Paranapanema”, o que levou a região do Pontal paulista a ter uma cidade com seu nome, na divisa com o Paraná.
Entre os anos de 1890 a 1892, ele ocupou o cargo de engenheiro-chefe de Águas e Saneamento da Companhia Cantareira. Quem o nomeou foi o governador Prudente de Morais, que, futuramente, seria presidente do Brasil.
Teodoro Sampaio foi ainda membro fundador da Escola Politécnica de São Paulo, além de ser membro do Instituto Histórico e Geográfico do Estado Bandeirante. O talentoso engenheiro foi também diretor de Saneamento do Estado de São Paulo, quando implantou obras de saneamento eminúmeras cidades do interior paulista.
Na Bahia, Teodoro Sampaio construiu pontes nas principais linhas ferroviárias do Estado, bem como participou da desobstrução de pontos que dificultavam a navegação do Rio São Francisco, dentre eles a cachoeira de Sobradinho.
Em Salvador, após deixar São Paulo, realizou obras de saneamento e abastecimento de água. A engenharia resolveu sérios problemas de abastecimento ao elevar a oferta de 7 milhões de litros de água diários para 32 milhões. Por sua vez, Teodoro aumentou de três para sete as represas de captação de água, assim como ampliou todo o sistema de bombeamento e esgotos da capital baiana.
O grande engenheiro era ecologista e ambientalista, muito antes de estas palavras e atividades se tornarem lugar comum no fim do século XX e início do XXI. Sua preocupação ambiental e sanitária o fez implantar filtros de tratamento para os afluentes do Rio Camurujipe.
É necessário observar que essas ações aconteceram no início do século XX, o que nos leva a considerar Teodoro Sampaio como um homem muito à frente de seu tempo, de sua época. Tão à frente e cerebral que mesmo nascido escravo foi nomeado para cargos importantes, inclusive pelo Imperador Dom Pedro II, que era também um homem de grande compreensão sobre desenvolvimento, voltado à ciência e às letras.
Lamenta-se, portanto, que um brasileiro de tamanha envergadura tenha, praticamente, sido esquecido. Teodoro Sampaio é, sem sombra de dúvida, um dos Pais da Pátria, além de ser importante vulto da história do. País, porque ele o ajudou a se desenvolver e, mais do que isso, cooperou para a busca de seus marcos civilizatórios.
O povo baiano ainda foi beneficiado pelo talentoso engenheiro com a restauração do antigo prédio da Faculdade de Medicina do Terreiro de Jesus, com a construção do Liceu Salesiano de Salvador, com o Dispensário Ramiro de Azevedo, e com o desenvolvimento e a modernização acadêmica do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, que o teve como presidente por 15 anos.
Para encerrar, quero afirmar que inteligência, cultura, integridade moral, talento e determinação são valores inalienáveis e não pertencem à raça alguma.
Os homens e as mulheres nascem iguais. As igualdades de oportunidades e de crescimento como cidadãos é que são diferentes, a fim de privilegiar a minoria da sociedade.
O insigne Teodoro Sampaio é uma referência de vida para todos os brasileiros e, com efeito, deveria sempre ser lembrado, como muitos outros personagens importantes da história do Brasil, que também foram esquecidos. Memória é tudo!
Teodoro Sampaio nasceu em 1855 e morreu em 1937, em pleno Governo Getúlio Vargas. Foi deputado federal entre 1926 e 1929, ao ocupar a vaga deixada por Otávio Mangabeira, que assumiu, na época, o Ministério do Exterior no Governo do presidente Washington Luís.
Seu desaparecimento, portanto, completa 83 anos, o que me leva a pensar no Brasil e em seu povo trabalhador, que merece o melhor dos governos e de todos os segmentos da sociedade. Homens como Teodoro Sampaio são imprescindíveis, porque eles não constroem apenas um país, mas edificam uma nação.
A frase histórica do imperador romano Marco Aurélio, que disse: “Logo tu esquecerás; logo te esquecerão!” se trata de uma realidade dura para a existência humana. Resgatar o passado se torna o alicerce do presente e do futuro.
Lembrar de Teodoro Sampaio, esquecido pelo tempo, é a valorização e o reconhecimento de quem ajudou a construir o País, ainda mais a se tratar de um homem negro nascido no século XIX, em meio a escravidão. Esquecer é ingratidão. Lembrar é fazer justiça. É isso aí.
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