Tentativas
Hoje, aos quase 68 anos de idade, ainda não pendurei as chuteiras para trabalhar com geologia e vivo um novo dilema
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Se hoje a gente aprendeu que a Terra é redonda, lembramos que outras tentativas, por vias diferentes, para se chegar a esse entendimento, sem retorno, rolaram, principalmente, quando se tinha perto dos quinze anos de idade (talvez um pouco mais, talvez um pouco menos).
A primeira tentativa, por ser um filho e sobrinho de tipógrafos, foi como aprendiz desse belo ofício de tipógrafo na gráfica da família (e papelaria), a Tipografia Theophilo Campos, que levava o nome do meu avô paterno, que foi quem começou essa história das letrinhas de metal.
Nesse pretenso ofício, aprendi a montar, letra a letra, com um senhor negro, evangélico, tipógrafo de primeira linha, alguns cartões de visita, que nos dias atuais cada vez mais estão em desuso. Acabei não indo para frente, no nobre ofício, porque um dia baixou a fiscalização do trabalho e meus tios, meu pai, se apavoraram (e com certa razão) avaliaram e me afastaram do serviço, uma vez que o governo iria cair de pau na firma por estar usando a mão de obra de um menor, sem registro e sem vínculo algum de trabalho.
No fundo, isso tudo foi uma grande bobagem, que poderia ter sido contornada, porque era somente um interessado aprendiz, além de ser o filho e o sobrinho dos donos da gráfica. Excesso de zelo dos irmãos e, para a época, justificável, para não dar algum bolo trabalhista para a pequena empresa.
Após essa primeira tentativa, o próximo “empreendimento” foi pessoal, pouco tempo depois, tentando resgatar o “dna” dos sapateiros da família materna que deu origem a fábrica “Navajas Calçados”. Aqui não se envolveu ambiente de trabalho da antiga fábrica de sapatos, que funcionou no Brás e depois do Ypiranga, mas sim um exagerado, em termos de espaço, “salão de festas”, de uma saudosa casa no bairro do Cambuci, em São Paulo, mais precisamente a casa da rua Backer, a de número 667.
Aqui, nessa casa, meio que na “onda” hippie, do artesanato de couro, tentou-se produzir, com outros amigos do bairro, algumas sandálias com sola de pneu, bolsas desconjuntadas, chaveiros psicodélicos e outros penduricalhos dos anos 70. Em termos de “empresa” a coisa não foi muito bem financeiramente, mas, como lembramos num recente encontro em Piracaia (SP), com fraternos amigos dessa época, “nos divertimos bastante”.
Porém, no meio disso tudo, rolou a música, com a formação do conjunto de “rock progressivo” denominado “A Boiada” na antiga e tradicional escola marista Colégio Nossa Senhora do Carmo [1]. Mas, antes de tocar maracas nesse efêmero conjunto, havia tocado prato e participado do canto orfeônico do Grupo Escolar Romão Puiggari, no bairro do Brás, da São Paulo dos anos 60, a então “terra da garoa”.
Todavia, nesse ponto, nem a habilidade de tocar o prato e muito menos arranhar a voz de tenor me levou adiante nesse almejado mundo artístico. No Cursinho Equipe, em 1972, sob a batuta vanguardista do maestro Carlos Castilho, tentou-se dar a continuidade na “veia” artística, mas a coisa não foi para frente porque os olhos estavam voltados para a geologia. Que bonito e comovente isso, não?
Hoje, aos quase 68 anos de idade, ainda não pendurei as chuteiras para trabalhar com geologia e vivo um novo dilema: se devo ou não voltar a tentar a música, nessa altura do campeonato, sem seguir qualquer mestre do ramo ou mesmo algum curso de música à distância.
Numa época tive uma flauta transversal e mal tocava a famosa “Asa Branca” do Gonzagão, muito apropriada para os iniciantes do sopro e dos sem professor de música. Mas, depois desse período de quarentena radical, e de ouvir muito Steely Dan, Montgomery Bernard Alexander e outros parceiros afins, agora estou muito tentado para comprar uma “maldita” escaleta, que é aquele piano invocado, levinho, que você pode tocar assoprando e sem precisar de um monte de gente carregando o pesado teclado. A patroa foi informada dessa belicosa tentativa. Os vizinhos ainda não. Será que vale a pena a provocação? Que se danem, vou tentar!
“Minha mãe me sugeriu escrever um conto para remediar o tédio de uma convalescença e eu lhe disse que não sabia fazê-lo. Como você sabe isso se nunca tentou? - perguntou-me.” (Agatha Christie).
Referência
[1] FEMUCA
http://cacamedeirosfilho.blogspot.com/2020/03/femuca-cronica-de-heraldo-campos-femuca.html
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