Tempos de inflexão conversadora
O que vejo pela frente são tempos de triste inflexão conservadora, pois, os Poderes Judiciário, Legislativo e Executivo são, desde a muito, espaços institucionais compostos por representantes de verdadeiras dinastias, gente ciosa da conversação e ampliação de seus privilégios, que defendem seus interesses e de seus “iguais”, salvo raras exceções
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Vivemos tempos em que há um desejo de mudança no ar. Todos com quem converso desejam uma grande renovação no congresso, assembleias legislativas, nos executivos estaduais e na presidência da república.
Mas o que significa “renovação”?
Bem, não sou otimista em relação à desejada e necessária renovação, o que vejo pela frente são tempos de triste inflexão conservadora, pois, os Poderes Judiciário, Legislativo e Executivo são, desde a muito, espaços institucionais compostos por representantes de verdadeiras dinastias, gente ciosa da conversação e ampliação de seus privilégios, que defendem seus interesses e de seus “iguais”, salvo raras exceções.
Uma das tarefas da LAVA-JATO foi criminalizar a Politica e a esquerda, por isso sem unidade a “renovação” será a direta, com a recondução de representantes das mesmas famílias, seus amigos e aliados a posições poder e de influência (sabemos que há umbilical relação entre parentesco e poder político).
O levantamento da revista “Congresso em Foco”, de julho de 2017, apontava que a presença das “famílias políticas” no Congresso Nacional é maior do que nas legislaturas anteriores, pois 62% do total dos Deputados Federais e 73% do total de representantes do Senado Federal, têm vínculos de parentesco com políticos.
Atualmente quase dois terços dos deputados federais e três quartos dos senadores pertencem às famílias políticas, muitas conhecidas nacionalmente há várias décadas e algumas há séculos no poder legislativo.
Noutras palavras: os membros das tradicionais e endinheiradas famílias ocupam, de forma hegemônica, majoritária e contínua, cargos eletivos e funções de nomeação nas esferas municipais, estaduais e federais.
O que se verifica a cada eleição é a continuidade da política como campo cada vez mais propício para atividades típicas do compadrio.
O congresso nos oferece inúmeros exemplos de netos ou bisnetos daqueles que já ocupavam os espaços de poder, sustentados por relações e vínculos familiares que lhes permitiam o exercício político.
Em São Paulo, foi eleito em 2014 Eduardo Bolsonaro, filho do deputado federal Jair Bolsonaro. Também em São Paulo, o deputado estadual Bruno Covas, neto do ex-governador Mário Covas, foi eleito deputado federal e depois vice-prefeito em 2016.
Na Paraíba, Pedro Cunha Lima foi o deputado mais votado. Ele é filho do senador Cássio Cunha Lima, que disputou o segundo turno ao governo do estado. Ainda na Paraíba Veneziano, filho do ex-deputado federal Antônio Vital do Rêgo e da deputada Nilda Gondim, também foi eleito. Ele foi prefeito da cidade de Campina Grande (PB) e é irmão do senador Vital do Rêgo.
Há muitos exemplos em todos os estados e há casos curiosos, como o do Deputado Bonifácio de Andrada, que vai cumprir o seu nono mandato consecutivo na Câmara. Descendente de José Bonifácio de Andrada, o Patriarca da Independência, o deputado prepara um filho e um neto para sucedê-lo na Câmara. Desde 1894 não houve uma legislatura sequer em que um Andrada tivesse ficado de fora do Congresso.
Mas não é só no Legislativo que isso ocorre.
A magistratura brasileira e do Paraná, segundo o Professor de sociologia Ricardo Costa de Oliveira, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), são “...unidades de parentesco. São famílias ao mesmo tempo jurídicas e políticas, uma unidade que sempre opera em rede. Não existe aquela figura, como alguns imaginam, de pessoas que são “novas”, ou “emergentes”, ou “renovadoras”.”, e conclui dizendo que “Os resultados mostram que são todos herdeiros de uma velha elite estatal.”.
O trabalho de Ricardo Costa de Oliveira é uma contribuição importante para compreensão do viés inegavelmente conservador da magistratura, do ministério público e da advocacia.
No Tribunal Regional Federal da 4ª Região, por exemplo, o Desembargador João Pedro Gebran Neto é neto do ex-diretor-geral da Assembleia Legislativa do Paraná. Ele vem de uma das mais tradicionais famílias que dominam a política paranaense desde os anos 1970.
Outro desembargador, Victor Luiz dos Santos Laus, é bisneto do fundador do Tribunal de Justiça de Santa Catarina.
Carlos Eduardo Thompson Flores Lenz, atual presidente do citado tribunal, é neto do ministro Thompson Flores, que foi do Supremo Tribunal Federal (STF) durante a ditadura militar.
O ministro do STJ Felix Fischer, é casado com uma procuradora de Justiça do Paraná aposentada. Ele tem três filhos no Judiciário paranaense.
No STF, o ministro Fachin é o exemplo dinástico. Ele é casado com uma desembargadora do Tribunal de Justiça do Paraná; sua filha é advogada do escritório Fachin Advogados Associados e, pasmem, é casada com Marcos Alberto Rocha Gonçalves, filho de Marcos Gonçalves, executivo do grupo J&F, isso mesmo, empresa da família dos irmãos Joesley e Wesley Batista.
O Procurador Carlos Fernando dos Santos Lima é filho de Osvaldo Santos Lima, que foi procurador, deputado estadual da ARENA e presidente da Assembleia Legislativa do Paraná durante a Ditadura Militar.
Outro procurador que podemos citar é Deltan Dallagnol. Filho do ex-procurador Agenor Dallagnol, Deltan só pode tomar posse com ordem judicial, pois, apesar de aprovado no concurso não tinha tempo de experiência exigido nas regras do concurso; seu pai defendeu os interesses de Deltan como seu advogado nos tribunais, onde tinha boas relações.
Em síntese, quase todos os personagens envolvidos na Lava Jato são extremamente conservadores e têm perfil à direita, semelhante aos seus parentes que faziam parte do sistema na ditadura. Seus pais, avós e bisavós eram gente do establishment. E eles, presumivelmente, herdaram a mesma visão de mundo.
Trata-se de uma elite social, política e econômica e há uma lógica ou uma dinâmica que envolve família, ação política, conexões empresariais, com escritórios advocatícios.
Sendo todos, ou quase todos, divulgadores e praticantes de uma ideologia propensa à direita, defensores de uma elite estatal muito antiga que opera em redes familiares.
A renovação válida e desejada exige nossa atenção, pois apenas a juventude dos postulantes à representação eleitoral não basta, temos que saber o que pensam e de onde vem esses postulantes, sob pena do nosso voto apenas contribuir para a inflexão conservadora.
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