Tempestade em copo d'água
Uma coisa é certa: de hoje em diante Barbosa fará tudo para não sair mais da frente dos holofotes. Se preciso, carregará até uma melancia pendurada no pescoço para permanecer em evidência
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Diante do estardalhaço que a mídia oposicionista fez em torno da audiência que concedeu a advogados dos empresários presos na Operação Lava-Jato, o ministro José Eduardo Cardozo veio a público para dar explicações. Era só o que estava faltando: ministro dar explicações sobre as audiências que concede, como se isso fosse ilegal. Sem dúvida um gesto de fraqueza de Cardozo diante de uma imprensa sedenta de escândalos. Se a moda pega, a partir de agora os demais ministros deverão convocar entrevistas para explicar à mídia o que conversaram com as pessoas que receberam em audiência. E a imprensa comprometida passará a agendar com quem eles devem conversar e o assunto a ser abordado.
É inacreditável, mas o juiz Sergio Moro e a mídia oposicionista conseguiram transformar uma simples audiência, um fato corriqueiro e legal na administração pública, num caso tão grave que até a Associação dos Magistrados do Brasil, uma entidade séria, se deixou influenciar pelo noticiário e divulgou nota condenando o que não aconteceu: a interferência do ministro na Operação Lava-Jato. A obsessão da oposição pela criminalização do PT e pela derrubada da presidenta Dilma Roussef acabou provocando uma mudança, para pior, no Direito: as pessoas passaram a ser culpadas até provarem sua inocência. E passou-se, também, a condenar por antecipação com base apenas em presunção.
O juiz Sergio Moro, que conduz o inquérito e renovou a prisão preventiva dos empresários após as notícias da audiência, considerou “intolerável que emissários dos dirigentes presos e das empreiteiras pretendam discutir o processo judicial e as decisões judiciais com autoridades políticas". Intolerável? Existe autoridade política? Por acaso existe alguma lei que proiba advogados de conversar com quem bem entendam sobre os processos em que estão atuando?Por acaso o ministro Cardozo tomou qualquer medida que possa ser interpretada como interferência na Operação Lava-Jato? Por acaso o brasileiro está impedido de discutir qualquer tema relacionado com processos judiciais?
Ao renovar a prisão preventiva dos empresários, numa aparente resposta à visita dos advogados ao ministro da Justiça, o magistrado paranaense parece convencido de que não existe poder acima dele, um comportamento, aliás, semelhante ao de Joaquim Barbosa quando presidente do STF. Para advogados das empreiteiras o juiz Moro utiliza a prisão preventiva como tortura psicológica, para forçar delações premiadas. No fundo o objetivo é pressionar os presos para que falem algo que possa ligar o ex-presidente Lula à corrupção na Petrobrás e, desse modo, inviabilizar a sua candidatura à Presidência em 2018, o fantasma que vem assombrando principalmente os tucanos. Oposicionistas já querem, inclusive, que ele deponha na nova CPI da Câmara.
Por sua vez, o ex-ministro Joaquim Barbosa, que se habituou aos holofotes, aproveitou a oportunidade oferecida pelo episódio para sair do ostracismo e, dizendo falar em nome dos “brasileiros honestos”, exigiu a demissão do ministro. Afinal, que autoridade tem ele para exigir a demissão de quem quer que seja, sobretudo de um ministro de Estado? E quem o credenciou para falar em nome dos brasileiros honestos? A imprensa que deu destaque a essa bobagem é a mesma que transformou o ex-ministro em celebridade por ter, quando presidente do Supremo Tribunal Federal, cumprido a sua agenda de retaliação do PT.
Afinal, qual foi o crime do ministro José Eduardo Cardozo para ser demitido? Receber em audiência os advogados dos empresários presos na Operação Lava-Jato? Por acaso os advogados são criminosos? Na verdade, o ministro talvez até devesse ser demitido, não por receber os advogados, mas por sua complacência com o comportamento político-partidário de determinados policiais federais no exercício de suas atividades investigativas, com os vazamentos seletivos dos depoimentos e com a presença da TV Globo nas operações policiais. Até hoje não se tem conhecimento de nenhuma medida para impedir a continuidade dessa prática ou para punir os responsáveis.
Na verdade, ninguém se surpreendeu com a “exigência” de Joaquim Barbosa, que o trouxe de volta para o palco. Considerando a sua ojeriza a advogados – até expulsou um deles do STF – a sua mania de ver crimes onde não existem, como fez no julgamento do chamado mensalão, a sua obsessão pelos holofotes e o seu desejo de ingressar na política era natural que, depois de tanto tempo esquecido, ele procurasse sair do ostracismo. O que não se compreende é porque ele fez questão de inscrever-se na OAB de Brasilia se não gosta de advogados. Como pretende conviver com seus colegas causídicos, sobretudo depois de condenar o ministro por receber advogados em audiência?
Uma coisa é certa: de hoje em diante Barbosa fará tudo para não sair mais da frente dos holofotes. Se preciso, carregará até uma melancia pendurada no pescoço para permanecer em evidência. Afinal, depois que a mídia mexeu com a sua vaidade transformando-o em celebridade e até lançando-o candidato à Presidência da República ele fará qualquer coisa para não cair no esquecimento até as eleições de 2018. Certamente entusiasmado com os anencéfalos que o aplaudem, sugestionados pela mídia oposicionista, ele estaria acreditando que tem possibilidades de ser eleito e, portanto, por enquanto vai usar as redes sociais para fazer a sua campanha. E a mídia o manterá iludido até o lançamento da candidatura tucana, quando ele não servirá mais aos seus propósitos.
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