Temer mostra a que veio

Apesar de Eduardo Cunha ter sido afastado, pelas razões que todos já conhecem, tudo indica que continua dando as cartas no governo Temer e nenhum dos dois se esforça em esconder o fato

Brasília- DF- Brasil- 10/03/2015- Vice-presidente Michel Temer se reúne com presidente da Câmara, Eduardo Cunha (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)
Brasília- DF- Brasil- 10/03/2015- Vice-presidente Michel Temer se reúne com presidente da Câmara, Eduardo Cunha (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil) (Foto: Chico Vigilante)


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Em apenas uma semana Temer mostrou a que veio: tirar direitos dos trabalhadores, proteger os corruptos, destruir a política externa brasileira de parcerias com o Mercosul e os Brics, pisar na crença dos brasileiros de respeito à democracia.

Se o principal lema dos golpistas era tirar o PT do poder para acabar com a corrupção no país, ele deveria começar convidando a população e o Congresso Nacional para a principal discussão do problema: a reforma política.

Está claro que o principal motor da corrupção no país é o financiamento privado de campanhas políticas, aliado a ao mau caráter daqueles que se locupletam destas transações para engordar suas contas particulares em paraísos fiscais.

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Apesar de Eduardo Cunha ter sido afastado, pelas razões que todos já conhecem, tudo indica que continua dando as cartas no governo Temer e nenhum dos dois se esforça em esconder o fato.

No Fantástico, da Globo, provocado a se posicionar sobre Cunha, Temer escorregou mais que quiabo, enquanto internautas promoviam um "vomitaço" na página do Fantástico no Facebook e a hashtag #ForaTemer se tornou uma das mais comentadas do mundo.

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Em conversa com a imprensa Cunha por sua vez declarou falar constantemente com Temer e como sempre mandou seu recado.

Indagado sobre negociações entre Temer e aliados ele disse: "o Michel conversava com os partidos. Eu participei de muitas conversas e de muitos debates. Eu não preciso cobrar o Michel pra ele cumprir os acordos. Ele sabe os acordos que tem que fazer ou não pra ter sua base política"

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Um dos acordos parece ter sido com o próprio Cunha. Temer nomeou o advogado Gustavo do Vale Rocha para o cargo de subchefe de Assuntos Jurídicos da Casa Civil. Rocha já defendeu o presidente afastado da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), em ações no Supremo Tribunal Federal (STF).

Enquanto o presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil -OAB, Claudio Lamachia, defende que políticos investigados pela operação Lava Jato não devem ocupar ministérios do governo, Temer faz de tudo para tirar o tema corrupção do foco.

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Após instituir como lema que o brasileiro deve trabalhar e não falar em crise, Temer prometeu fazer a reforma da previdência tirando dos aposentados do INSS o direito de ter aumentos correspondentes aos do salário mínimo, como determina a Constituição de 1988.

Por que não propõe a taxação das grandes fortunas deste país? Por que não cobra da Fiesp, do grupo Globo, e muitos outros sonegadores, todos os milhões em impostos atrasados que devem à Receita brasileira? Isso cobriria com facilidade o rombo da Previdência.

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A primeira reunião sobre a reforma da previdência entre o governo golpista e sindicalistas não contou com a presença da maior e mais expressiva central de trabalhadores do país, a CUT, que não reconhece como legítimo o governo Temer e já declarou que convocará manifestações em defesa dos direitos dos trabalhadores e contra a reforma da Previdência.

"Para fazer o que pretendem, vão ter que passar por cima da CUT e dos sindicatos" declarou o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Vagner Freitas, referindo-se às propostas de Temer sobre a Previdência e a Terceirização.

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Temer e sua turma foram todos contra a volta da CPMF proposta por Dilma como parte da saída para a crise. A CPMF era criticada como o maior dos absurdos.

Agora que já alcançaram o objetivo de afastar Dilma, vão propor e aprovar a CPMF. O que aconteceu de tão extraordinário para que mudassem de ideia tão rapidamente? Como vão explicar aos brasileiros por que o que era terrível ontem, hoje é a solução?

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Temer está sitiado. Nunca tantos em tão pouco tempo contestaram a autoridade e as iniciativas de seu pretenso governo.

Mulheres no país inteiro se manifestam contra seu ministério. Artistas e produtores culturais protestam na ruas e ocupam espaços contra o fim do Ministério da Cultura.

Funcionários públicos recebem com vaias e cartazes de fora golpista o deputado do Democratas, Mendonça Filho, indicado ministro da Educação.

Lideranças de movimentos sociais não reconhecem a legitimidade de Temer no comando do governo e afirmam que não vão sair das ruas.

"Seremos oposição e não há diálogo", (Raimundo Bonfim, da Frente Brasil Popular); "Entramos a partir de agora em período de instabilidade social", (líder do MTST, Guilherme Boulos); Levante Popular da Juventude promete "escrachar Temer" até derrubá-lo; "Não dá para ter um presidente sem nenhuma intenção de voto nas pesquisas" ( Carina Vitral, presidente da UNE).

Um dos ministros com fichas nada limpas de Temer contribuiu de maneira especial para o mico Temer aos olhos do mundo.

Cerca de dez países latino americanos, além de Rússia e China contestam a legitimidade de Temer para governar o Brasil.

Indicado ministro das Relações Exteriores, Serra demonstrando intimidade zero com a diplomacia e sai dando patadas coletivas em chefes de estado de países com os quais o Brasil desenvolveu laços de amizade e parceria econômica nos últimos anos.

Em apenas uma semana recebeu um belo tapa de luva do Secretário-geral da União das Nações Sul-Americanas (Unasul), e ex-presidente da Colômbia, Ernesto Samper.

Samper criticou duramente o golpe no Brasil. Em comentário sobre a reação destemperada de Serra a seu respeito ironizou: "Não tem por que um ex-presidente e secretário-geral da Unasul responder a um chanceler interino".

O americano Thomas Palley, economista-chefe do comitê China-Estados Unidos que abriu o think-tank Economics for Democratic & Open Societies, publicou um manifesto no jornal financeiro Market Watch propondo que as nações democráticas devem boicotar os Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro, para salvar a democracia brasileira.

Esse é um dos efeitos do golpe de Temer. A cada dia ele apenas confirma o que dele já esperávamos: um traidor do Brasil e da Constituição. Mas a Nação brasileira não é golpista e os brasileiros não o deixarão permanecer no poder.

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