Temer é o Benjamin Button da política
Temer chegou ao governo já desgastado e carcomido por ter lançado mão de um velho artifício da elite brasileira: o golpe de estado. E se torna menor a cada dia, definhando em uma velocidade que surpreende até mesmo aliados de primeira hora na ruptura da ordem democrática
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No filme "O curioso caso de Benjamin Button", de David Fincher, o personagem vivido por Brad Pitt inverte a ordem cronológica da vida e já nasce velho, aos oitenta e poucos anos, e vai diminuindo de idade e tamanho ao logo de sua existência até se transformar em um bebê antes de morrer.
Com a ressalva importante de que o governo Temer jamais desfrutará dos anos dourados da juventude, tal como Button, pois faz uma trajetória meteórica do nascimento rumo ao ocaso, a comparação entre a ficção e a nossa triste realidade faz sentido.
Temer chegou ao governo já desgastado e carcomido por ter lançado mão de um velho artifício da elite brasileira: o golpe de estado. E se torna menor a cada dia, definhando em uma velocidade que surpreende até mesmo aliados de primeira hora na ruptura da ordem democrática.
Com sua postura diante dos dois episódios horrendos que marcaram a passagem do ano - a carnificina de presos em Manaus e a chacina de Campinas-, o usurpador se apequenou moral e politicamente ainda mais. O massacre de 56 detentos (degolados, esquartejados e carbonizados) durante a rebelião ocorrida no presídio amazonense foi prontamente condenado energicamente tanto pela ONU como pelo Papa Francisco.
Mas o golpista que ocupa o Palácio do Planalto de forma ilegítima se calou. Seja porque não sabia o que dizer, ou para evitar o contágio político, ele preferiu, como sempre, fugir às suas responsabilidades. E cinco dias depois, quando resolveu se manifestar se rendendo às pressões, a emenda saiu pior do que o soneto. Melhor seria se não tivesse abrido mesmo a boca.
No lugar de encarar o debate sobre a vergonha nacional que são os nossos cárceres, verdadeiras sucursais do inferno nas quais são negados aos apenados os direitos humanos mais comezinhos, em um sistema que, longe de recupera para a reintegração à sociedade, faz com que centenas de milhares de condenados se percam ainda mais nos desvãos do mundo do crime, o que faz o anão do Planalto ?
Primeiro minimiza o massacre, tratando-o como um "acidente pavoroso". Depois, tropeça nas suas poucas luzes intelectuais , com análises conflitantes. Ao mesmo tempo em que diz que cabe aos estados a administração do sistema prisional, absolve o governo do Amazonas ao afirmar que a responsabilidade estatal não está muito clara, uma vez que os presídios nesse estado foram privatizados. Ora, privatizados por quem, cara pálida ?
Sobre a chacina de 12 pessoas, entre as quais uma criança e nove mulheres, praticada por uma das tantas bestas-feras produzidas pelo machismo e pela misogenia, Temer não se pronunciou. Nem uma palavra de consolo para os parentes das vítimas do bárbaro crime contra a mulher e seus direitos.
Se acontecesse em outros países do mundo civilizado, um feminicídio dessa proporção mereceria o repúdio veemente das autoridades. Mas o conteúdo da carta do assassino, repleta de agressões às mulheres, às leis, à Constituição, à República e à convivência em sociedade oferece pistas para se entender o silêncio de Temer.
Quem sabe essa omissão covarde tenha a ver com o fato de que sua aliada, a mídia calhorda e monopolista, seja a grande responsável pela propagação da doença do ódio que se disseminou pela sociedade ? E mais : as bolsonarices contidas na carta encontram eco em um número considerável de deputados e senadores da base de sustentação de Temer no Congresso Nacional.
Fora Temer, Diretas Já !
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