Temer é a elite paulista, dissimula, mas o golpe corre nas veias do PMDB

Temer é golpista? Não sei... Mas, por meio de suas palavras, certamente que a autoridade fomenta o golpe. É como se ele apagasse a fogueira com gasolina

Vice-presidente e articulador político do governo, Michel Temer, durante evento em Brasília. 06/08/2015 REUTERS/Ueslei Marcelino
Vice-presidente e articulador político do governo, Michel Temer, durante evento em Brasília. 06/08/2015 REUTERS/Ueslei Marcelino (Foto: Davis Sena Filho)


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O paulista Michel Temer, o vice-presidente da República, não resistiu e disse, em debate promovido pelo Movimento Política Viva, em São Paulo, que a baixa popularidade da presidenta Dilma Rousseff pode acarretar o abreviamento de seu mandato, porque será "difícil" resistir. "O que nós precisamos não é torcer, é trabalhar para que nós possamos estabilizar essas relações. Se continuar assim, eu vou dizer a você, para continuar 7%, 8% de popularidade, de fato fica difícil passar três anos e meio".

Eu não sei o que acontece com alguns políticos, porque o fato de o vice-presidente se encontrar com as pessoas não tem problema algum, afinal ele é uma autoridade constituída e vivemos em uma democracia, que teima em se constitucionalizar e se instituir, o que ajuda muito a dificultar as tentativas de golpes, porque temos, no Brasil, uma "elite" antidemocrática e irresponsável, que insiste em dar golpe em uma mandatária trabalhista, porque ela agora tem pouca aprovação popular, segundo as pesquisas de empresas privadas.

As intenções e as tentativas para se efetivar um processo de impeachment que permita a destituição de Dilma Roussef do poder são muitas e variadas. Contudo, tais iniciativas não tem lastro, porque, essencialmente, são ilegais, conforme a letra fria da Lei. A questão que as pessoas deveriam perceber é que para derrubar um presidente do poder é necessário muito mais do que a impopularidade, que é subjetiva, porque a verdade é que quem se mostra insatisfeita como o Governo Trabalhista é a classe média, a classe média alta e os ricos, bem como poucas pessoas de origem mais humilde, mas, que, sobretudo, acompanham apenas a onda de insatisfação de uma classe média consumidora do noticiário e das opiniões das mídias conservadoras e de seus aliados — o PSDB, o DEM e o PPS, além de outros partidos de aluguéis.

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Michel Temer sabe disso e se aproveita. E por quê? Porque Temer é paulista, politicamente conservador e sempre vai olhar para os interesses de São Paulo, Estado poderoso e historicamente opositor aos partidos e aos mandatários trabalhistas desde os tempos de Getúlio Vargas. Ele sabe muito bem que ir a uma reunião, convidado por uma socialite paulistana é a mesma coisa que entrar no covil dos adversários do Governo Trabalhista — o governo que ele integra. Evidentemente que a segunda autoridade da República compreende que alguém iria gravar suas palavras e imagem, bem como as distribuiria rapidamente ao partido de oposição mais poderoso deste País: o Partido da Imprensa.

Por sua vez, além de todas as questões que estão à mesa da política, uma delas é de grande importância. Michel Temer é do PMDB, partido que já é oposição ao Governo Dilma e quer fazer dela refém, engessá-la politicamente no Congresso, a acarretar que seu governo fique preso em um labirinto sem saída e repleto de crises, até que o sistema estatal representado pelo STF e MP faça sua parte, que é o de dar legitimidade a um golpe, como o que ocorreu no Paraguai, contra uma presidenta eleita legitimamente com 54,5 milhões de votos.

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O PMDB é uma sigla oportunista e que está sempre a cortejar o poder. Entretanto, governar um País continental como o Brasil é impossível sem a presença do PMDB, em forma de coalizão, porque as realidades regionais não refletem obrigatoriamente às da esfera federal, o que torna presidir e governar o Brasil similar a uma colcha de retalhos, porque um processo político complexo, pois muito difícil, no que tange a formalizar coligações partidárias e, com efeito, conquistar apoio para que um presidente possa governar sem sobressaltos e com estabilidade institucional e política. Ponto.

Não sei se Michel Temer vai trair. Não seria imprudente para fazer tal afirmativa, mas suas palavras, atitudes e ações o são de uma autoridade que está prestes a abandonar o barco ou a pular o muro para o lado da oposição, de forma oficial. Temer não é nada parecido com o José Alencar, o vice do ex-presidente Lula. Alencar era um político moderado, mineiro, além de ser um grande empresário do setor têxtil, com perfil nacionalista, fiel e leal àqueles com quem ele firmava compromissos. Jamais tergiversou no que diz respeito às suas responsabilidades, não ouvia o canto da sereia e muito menos se dava ao direito de se submeter a leviandades.

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Temer, ao contrário de Alencar, que entrou na política com certa idade, desde jovem é um político profissional, filho da burguesia paulista, com vasto conhecimento constitucional e que se fez cacique no PMDB paulista e nacional. O peemedebista tem influência, muito conhecimento de bastidores e conhece profundamente a alma do parlamento e os grotões de seu partido. Ele abandonou a articulação política do Governo Dilma e deixou a presidenta em uma saia justa.

E por quê? Porque políticos de muita influência do PMDB e sua bancada no Congresso e com a posse do deputado Eduardo Cunha na Presidência da Câmara, o PMDB saiu fortalecido e, oportunista que é, está a abandonar o Governo Trabalhista, como o fez com os tucanos, quando percebeu que o futuro presidente Lula iria vencer as eleições de 2002. Note-se que o vice de Lula não era do PMDB, mas de um pequeno partido, mas mesmo assim os peemedebistas compuseram com o petista em seus dois governos, além de terem dado sustentação à administração Dilma, em seu primeiro mandato.

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Eis que agora, Michel Temer se afasta do Governo e tenta dissimular ou amenizar tal afastamento. Uma ação imprudente, porque o Governo Dilma é alvo de uma violenta campanha de desmoralização e desqualificação de seu Governo, bem como sua imagem pessoal é desconstruída, dia a dia e sistematicamente pela oposição feroz dos tucanos, dos magnatas bilionários de imprensa e de seus empregados de confiança, que estão até hoje em cima do palanque, porque, furiosos, rancorosos e inconformados, não aceitam, de forma alguma, que mandatários petistas governem o Brasil pela quarta vez consecutiva, ou seja, 16 anos.

Por isto e por causa disto, existe uma gigantesca e intensa mobilização para que os tucanos e seus aliados reconquistem o poder, nem que seja por intermédio de um golpe dissimulado por meios judiciais e também extrajudiciais se for necessário. A atmosfera no Brasil de agora tem o cheiro do golpe e, por seu turno, ouvimos palavras como as proferidas por Michel Temer, que considera muito difícil a presidenta Dilma Rousseff chegar até ao fim de seu mandato legítimo, conquistado nas urnas e com a aquiescência da soberania do povo.

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Temer é golpista? Não sei... Mas, por meio de suas palavras, certamente que a autoridade fomenta o golpe. É como se ele apagasse a fogueira com gasolina. Mesmo a considerar que o vice-presidente tem o direito de falar, pois vivemos em uma democracia edificada pelo Estado de Direito, Temer não deveria fazer tais exclamações para um público notadamente oposicionista, radical à direita, elitista, sectário e com propósitos golpistas, como cansou de demonstrar inúmeras vezes.

Ir ao encontro dessa gente e participar de reunião é uma coisa. Agora, causar controvérsias e facilitar o ôba-ôba de uma imprensa de mercado notadamente feroz e violenta contra o Governo do qual ele participa é realmente imprudência, insensatez, desfaçatez ou simplesmente uma ação politica proposital, que sinaliza mais uma vez que o PMDB desceu do barco e agora espera para dar o bote e, com efeito, ser o aliado principal de uma base de sustentação de um próximo governo, como aconteceu repetidamente em sua história.

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Outrossim, talvez Michel Temer e seus correligionários querem, de fato e agora, que o PMDB assuma a Presidência da República pela primeira vez em sua história por intermédio da traição e do golpe. Temer foi irresponsável. Ninguém sabe como um golpe acaba. O vice-presidente tem a obrigação constitucional e institucional de defender o Governo, além de ser leal com aqueles que o aceitaram para formar a chapa com Dilma Rousseff.

Trata-se de respeito e caráter. Não apenas de política e de seus duros embates e conflitos. O Brasil não é uma República das Bananas, e há muito tempo, apesar de termos uma casa grande oposicionista, subalterna e subserviente aos ditames dos estrangeiros, bem como portadora de um incomensurável complexo de vira-lata.

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Michel Temer deveria refletir sobre sua conduta, porque a propaganda política do PMDB no dia de ontem foi uma ode ao golpe. Verdadeiro panfleto antidemocrático, porque, apesar de dúbio, conspira, sobretudo, contra os interesses do povo brasileiro, a democracia e a presidenta Dilma Rousseff, que tem o direito constitucional e legal de governar. Temer é da elite paulista, dissimula sobre sua alma de 1932, mas o golpe corre nas veias do PMDB. Dilma não cai! É isso aí.

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