Temer devolve governo a Dilma: “a senhora só me chama de golpista decorativo”

E encerra de forma dramática: “Finalmente, sei que nem a senhora nem os brasileiros têm confiança em mim e no PMDB, hoje, e não terão amanhã. Lamento, mas esta é a minha convicção. Por isso entrego o governo de volta à senhora”; crônica Alex Solnik

Temer no Planalto 12/5/2016 REUTERS/Ueslei Marcelino
Temer no Planalto 12/5/2016 REUTERS/Ueslei Marcelino (Foto: Alex Solnik)


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Triste e macambúzio, como todos poetas românticos acima dos 75 anos, o presidente decorativo enviou uma nova carta à presidente afastada Dilma Rousseff.

   Ele faz uma lista de suas principais queixas: “Passei as duas primeiras semanas de governo como presidente decorativo. A Senhora sabe disso. Perdi todo protagonismo político que tivera no passado e que poderia ter sido ressaltado pela senhora. Mas a senhora só me chama de golpista decorativo”.

   Temer revela insatisfação com a forma com que ele e seus ministros são tratados: “Jamais eu ou o PMDB fomos chamados para discutir formulações econômicas ou políticas do país; somos meros acessórios, secundários, subsidiários do José Serra, do Eduardo Cunha e do Henrique Meirelles”.

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   Também reclama em nome de Jucá: No episódio Romero Jucá, mais recente, ele deixou o Ministério em razão de muitas "desfeitas", culminando com o que seus funcionários fizeram a ele, Ministro, apagando sem nenhum aviso prévio, as conversas que ele gravara com Renan”.

   Reclama da falta de crédito: “Conversa sua com Lula (das duas maiores autoridades do país) foi divulgada sem que fosse dado crédito a mim, que dei a ideia e passei o número do seu telefone ao Sergio Moro”;

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   Ressente-se por ter sido preterido num cafezinho que durou duas horas: “A senhora, ao chegar ao Alvorada, tomou cafezinho durante mais de duas horas (segundo me informou o Etchegoyen) com o ex-garçom do meu Palácio - com quem construí boa amizade - sem convidar-me o que gerou em seus assessores a pergunta: o que é que houve que numa reunião com o garçom mais querido do Brasil seu ex-patrão não se faz presente”?

   A seguir, confessa que é interlocutor constante dos corruptos: “Democrata que sou, converso, sim, senhora Presidente, com todos os corruptos. Sempre o fiz, pelos 24 anos que passei no Parlamento e não deixaria de fazê-lo agora que eles são meus ministros”.

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   Refere-se a dissabores do passado: “A senhora, no segundo mandato, à última hora, não renovou a carteira de motorista do meu chofer”.

   Também ficou constrangido por não ser convidado para um bate-bola com Neymar e Messi, dos quais seu filho Michelzinho – próspero investidor imobiliário - é fã. “Pior: os amigos da senhora, do MTST armaram um acampamento bem em frente à minha casa e não convidaram o Michelzinho, o que denota desprezo até pela minha descendência”;

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   Admite que, em função de tudo isso, Tiririca, seu sonho de consumo para o Ministério da Cultura não aceitou, alegando que não era “palhaço”.

   Alega que “apesar dos 35 mil cargos federais que criei especialmente para eles, quatro dos 55 senadores resolveram mudar seu voto no impeachment, em troca de merchandising com a cachaça 51”.

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  E encerra de forma dramática: “Finalmente, sei que nem a senhora nem os brasileiros têm confiança em mim e no PMDB, hoje, e não terão amanhã. Lamento, mas esta é a minha convicção. Por isso entrego o governo de volta à senhora”.

   Leia a íntegra da nova carta de Temer a Dilma:

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São Paulo, 04 de Junho de 2.016.

Senhora Presidente,

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"Verba volant, scripta manent" (As palavras voam, os escritos permanecem). Como já disse na carta anterior.

Por isso lhe escrevo. Muito a propósito do intenso noticiário destes últimos dias e de tudo que me chega aos ouvidos das conversas no Palácio da Alvorada, graças ao Etchegoyen.

Esta é uma carta pessoal. É um desabafo que já deveria ter feito há muito tempo.

Desde logo lhe digo que não é preciso alardear publicamente a minha incompetência. Tenho-a revelado ao longo destes cinco anos.

Entretanto, sempre tive ciência da absoluta desconfiança da senhora e do seu entorno e de todos os brasileiros em relação a mim e ao PMDB.

Basta ressaltar que na última eleição apenas 0009,9% dos eleitores votaram em mim. E só o fizeram, ouso registrar, porque ainda não me conheciam como presidente interino. Nem sabiam que estou inelegível por oito anos.

Mantive a unidade do PMDB traindo seu governo e usando o seu prestígio político advindo da credibilidade e do respeito que a senhora granjeou no país. Isso tudo não gerou confiança em mim. Gera desconfiança e menosprezo a mim e à quadrilha         que me cerca.

Vamos aos fatos. Exemplifico alguns deles.

1. Passei as duas primeiras semanas de governo como presidente decorativo. A Senhora sabe disso. Perdi todo protagonismo político que tivera no passado e que poderia ter sido ressaltado pela senhora. Mas a senhora só me chama de golpista decorativo, o que me deixa mal com meus colegas brasileiros e americanos;

2. Jamais eu ou o PMDB fomos chamados para discutir formulações econômicas ou políticas do país; somos meros acessórios, secundários, subsidiáriosdo José Serra, do Eduardo Cunha e do Henrique Meirelles.

3. A senhora, no segundo mandato, à última hora, não renovou a carteira de motorista do meu chofer que fez belíssimo trabalho elogiado durante a Copa do Mundo transportando o Blatter e o Valcker e suas malas cheias de dólares. Sabia que ele era uma indicação minha. Quis, portanto, desvalorizar-me. Cheguei a registrar este fato no dia seguinte, ao telefone.

4. No episódio Romero Jucá, mais recente, ele deixou o Ministério em razão de muitas "desfeitas", culminando com o que seus funcionários fizeram a ele, Ministro, apagando sem nenhum aviso prévio as conversas que ele gravara com Renan. Alardeou-se a) que o grampo estava fora dos padrões técnicos; b) que o Renan estava resfriado naquele dia e a voz saiu anasalada; c) nenhuma das anteriores;

5. Quando a senhora fez um apelo para que os brasileiros me chamassem de golpista amador, no momento em que o meu governo estava muito desprestigiado, todos atenderam, e fizemos, eu e o Cunha, uma fervorosa oração. Mas não funcionou;

6. De qualquer forma, sou Presidente decorativo e a senhora resolveu ignorar-me chamando o Neymar e o Messi para um bate-bola nos jardins do Alvorada sem nenhuma comunicação. (O Etchegoyen me contou.) Os dois, sabe a senhora, são ídolos do meu filho. E a senhora não teve a menor preocupação em pedir uma camisa autografada do Neymar para o Michelzinho que já tem, aos sete anos, dois imóveis no valor de 2 milhões de reais. Mas, como todos sabemos, dinheiro não traz felicidade. Pior: os amigos da senhora, do MTST armaram um acampamento bem em frente à minha casa e não convidaram o Michelzinho, o que denota desprezo até pela minha descendência;

7. Democrata que sou, converso, sim, senhora Presidente, com todos os corruptos. Sempre o fiz, pelos 24 anos que passei no Parlamento. Por que não o faria agora que eles são meus ministros? Aliás, a primeira medida provisória do ajuste da propina foi aprovada graças aos 8 (oito) votos do DEM, 6 (seis) do PSB e 3 do PV, recordando que foi aprovado por apenas 22 votos. Sou criticado por isso, numa visão equivocada do nosso sistema. E não foi sem razão que em duas oportunidades ressaltei que deveríamos reunificar o país em torno da propina. O Palácio da Alvorada resolveu difundir e criticar.

8. Recordo, ainda, que a senhora, ao chegar ao Alvorada, tomou cafezinho durante mais de duas horas (segundo me informou o Etchegoyen) com o ex-garçom do meu Palácio - com quem construí boa amizade - sem convidar-me o que gerou em seus assessores a pergunta: o que é que houve que numa reunião com o garçom mais querido do Brasil seu ex-patrão não se faz presente? Antes, no episódio da "espionagem" americana, quando as conversas sobre receitas de feijoada começaram a ser gravadas, a senhora mandava o Ministro da Justiça para conversar abobrinhas com o Vice Presidente dos Estados Unidos. Tudo isso tem significado absoluta falta de auto- confiança para mim;

9. Logo depois, a conversa sua com Lula (das duas maiores autoridades do país) foi divulgada sem que fosse dado crédito a mim, que dei a ideia e passei o número do seu telefone ao Sergio Moro;

10. Até o programa "Mais Você", mais um campeão de audiência, aplaudido pela sociedade, cujas propostas poderiam ser utilizadas para recuperar a economia e resgatar a confiança foi tido como manobra desleal;

11. O PMDB tem ciência de que o seu governo busca promover a sua divisão, o que já tentou no passado, sem sucesso, pois o PMDB sabe se dividir sozinho;

12. Até o Tiririca, que era meu sonho de consumo para o Ministério da Cultura rejeitou o convite alegando que não era “palhaço”;

13. A senhora fica no bem bom, viajando para lá e para cá, sem nada para fazer, enquanto eu tenho que aguentar aquela cara azeda do Cunha todos os dias, da manhã à noite.

14. Apesar dos 35 mil cargos federais que criei especialmente para eles, quatro dos 55 senadores resolveram mudar seu voto no impeachment, em troca de merchandising com a cachaça 51.

Finalmente, sei que nem a senhora nem os brasileiros têm confiança em mim e no PMDB, hoje, e não terão amanhã. Lamento, mas esta é a minha convicção. Por isso entrego o governo de volta à senhora.

Respeitosamente,

\ M. TEMER

A Sua Excelência a Senhora

Doutora DILMA ROUSSEFF

DO. Presidente da República do Brasil

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