Temer derrubou Dilma e a Nova República

temer dilma
temer dilma (Foto: Alex Solnik)


✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.

O advogado Sobral Pinto disse certa vez, durante a ditadura militar de 1964 que os militares, por terem proclamado a República se sentiam no direito de tutelar ou de mandar no país.

Isso de fato aconteceu. Os militares tiveram uma influência profunda e decisiva nos rumos políticos do país por 96 anos, entre 1889 e 1985.

Não se contentaram em proclamar a República, ficaram no poder durante os dois primeiros mandatos presidenciais.

continua após o anúncio

Tanto o governo do Marechal Deodoro quanto o do Marechal Floriano entraram para a história como autoritários, transcorridos em meio a vigência do estado de sítio, promovedores de empobrecimento material e cultural, o que, por sinal, também se deu nos governos seguintes, embora civis.

São raros os períodos, até 1930, em que o país não conviveu com estado de sítio, arbitrariedades, prisões ilegais, instabilidade política e revoltas regionais, o que resultou em baixo crescimento econômico, alta dependência externa, aumento das desigualdades econômicas e sociais e expansão da miséria.

continua após o anúncio

Em 1930, os militares garantem a posse de Getúlio e depois se tornam sua guarda pretoriana, graças a eles foi possível a decretação da primeira ditadura do século 20 no país, denominada Estado Novo, em 1937.

Também os militares retiraram Getúlio do poder, em 1946, agora alinhados com o governo americano que estava interessado em duas coisas: no fim da ditadura, pois a democracia vencera a Segunda Guerra Mundial (segundo eles; há controvérsias) e no afrouxamento do nacionalismo encarnado por Getúlio. Queriam entrar, definitivamente, em nosso território e nos atrelar ao seu way of life como costumavam fazer com as repúblicas das bananas.

continua após o anúncio

Getúlio saiu de cena, com muita elegância, em seu lugar elegeu-se nas urnas o Marechal Dutra, que mais uma vez demonstrou que lugar de militar é no quartel.

Seu único legado foi a construção da Via Dutra.

continua após o anúncio

No mandato seguinte, iniciado em 1950, Getúlio voltou ungido pelas urnas, mas pouco antes de completá-lo deu um tiro no peito depois de ser pressionado a renunciar. Mais uma vez, pela cúpula militar.

O também Marechal Teixeira Lott, com mão de ferro, no posto de ministro da Guerra impediu a continuação do governo Café Filho, sucessor de Getúlio em 1954, colocou-o em prisão domiciliar, alegando que ele conspirava contra a posse do já eleito novo presidente, Juscelino Kubitcheck.

continua após o anúncio

Foram, no entanto, mais uma vez militares os artífices de tentativas de golpe contra JK, como na rebelião de Aragarças. As Forças Armadas estavam divididas, o que é normal acontecer com partidos políticos, que foi no que o Exército, a Marinha e a Aeronáutica se transformaram.

Mais uma vez a vontade militar prevaleceu em 1961, quando a cúpula das Forças Armadas tentou impedir a posse de João Goulart em razão da renúncia de Jânio Quadros e só permitiu sua posse com a implantação a fórceps do Parlamentarismo.

continua após o anúncio

Três anos depois, insatisfeitos com os rumos do governo civil os militares assumiram todos os poderes da nação, submetendo o Legislativo e o Judiciário e os exerceram por 20 longos e penosos anos.

Caíram quando, em 1985 os brasileiros se deram conta do mal que a ditadura estava lhes fazendo, ao achatar salários, eliminar direitos civis, censurar, cassar, prender, torturar e matar.

continua após o anúncio

Cabisbaixos, os militares saíram de cena.

Jamais foram punidos por tudo o que perpetraram. Jamais sequer pediram perdão.

O novo regime se chamou "Nova República" para se diferenciar não apenas da ditadura, mas da república anterior.

Aquela, proclamada por militares.

Essa, proclamada por civis.

Um regime democrático, com todas as garantias civis e sociais restabelecidas.

O país acordou do pesadelo.

O que mais se notou nos anos seguintes foi a total ausência dos generais do noticiário.

Influência zero dos militares na política durante os governos Sarney, Collor, Itamar, FHC, Lula e Dilma.

A volta dos militares às manchetes, agora em 2017 é mais um claro sinal de que a "Nova República" acabou.

Embora proibidos pela Constituição de se filiarem a partidos políticos, os chefes militares voltam a dar pitacos na política, embora timidamente, por ora.

No dia 1º. deste mês a cúpula militar reuniu-se secretamente. Na ocasião foi redigido um documento, denominado "ata" aparentemente dirigido à população, mas que só se tornou conhecido hoje com a publicação de trechos na "Folha de S. Paulo".

Os chefes do Exército, da Marinha, da Aeronáutica, o chefe do estado Maior Conjunto das Forças Armadas, na presença do Ministro da Defesa, Raul Jungmann assinaram um texto que lembra imediatamente aqueles assinados durante o Estado Novo pelos generais Gois Monteiro e Eurico Gaspar Dutra que então lideravam as Forças Armadas:

"Cabe a todos os brasileiros a mais estreita observância dos preceitos constitucionais", diz um dos trechos da proclamação secreta, indicando que os militares querem voltar a tutelar os brasileiros, como, aliás, deu a entender o General Mourão em setembro passado, porém com mais ênfase.

"É preciso que o país construa o ambiente de tranquilidade (..) para que tenhamos um processo eleitoral tranquilo no próximo ano", diz outro trecho vazado pelo jornal.

Interpelado, o ministro Jungman confirmou o caráter sigiloso da reunião:

"Por razões de sigilo estou impedido de comentar quaisquer assuntos, reais ou não".

O país ficaria mais tranquilo se os militares não se preocupassem com a tranquilidade das próximas eleições.

Aí está. Temer não só derrubou o governo do PT, não só derrubou Dilma.

Ele derrubou a "Nova República".

iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

Este artigo não representa a opinião do Brasil 247 e é de responsabilidade do colunista.

Comentários

Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor, e não do 247

continua após o anúncio

Ao vivo na TV 247

Cortes 247