Temer aplaude “empresário” que pediu “medidas amargas”
A lógica de Nizan Guanaes é estarrecedora. Na prática, ele diz que a impopularidade é um mérito porque o governante impopular faz coisas boas ao tomar medidas que desagradam a população e esta não tem capacidade suficiente de entender que está sendo beneficiada
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Apesar de a cena ter se passado no maior telejornal do país em “horário nobre”, ela passou batida. O cenário é o “novo” Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (herdado da era petista, mas reformulado pelos golpistas) e que teve nesta segunda-feira (21) a primeira reunião desde que Michel Temer assumiu a presidência.
Dos atuais 96 integrantes do dito “Conselhão” (que deveriam representar vários setores da sociedade), 59 foram substituídos – Temer trocou representantes dos trabalhadores por patrões. Abriu a reunião com balanço dos seis meses de seu governo e voltou a criticar Dilma Rousseff.
Onze integrantes do conselho também discursaram. O show, porém, coube a Nizan Guanaes, ex-marqueteiro de Fernando Henrique Cardoso quando ele era presidente. Em sua fala, uma lógica estarrecedora que vigeu por muito tempo no Brasil pós-redemocratização, mas só até que Lula se elegesse, em 2002, e, ao longo de 11 anos, mostrasse que o povo não quer e não precisa de “medidas amargas”.
Leia abaixo, com atenção, a lógica canhestra dos golpistas na voz sombria de Nizan Guanaes, empresário que integra um conselho que acaba de expurgar representantes dos trabalhadores (como a CUT), transformando-se em um mega lobby empresarial.
“Já que o governo ainda não tem índices de popularidade altos, aproveite, presidente. A popularidade é uma jaula. Ninguém faz coisas contundentes com altos níveis de popularidade. Então, aproveite que o senhor ainda não tem altos índices de popularidade e faça coisas impopulares que serão necessárias e que vão desenhar este governo para os próximos anos. Aproveite sua impopularidade. Tome medidas amargas. Aliás, este é o grande desafio das democracias do mundo. Como fazer coisas impopulares?”
Confira, abaixo, vídeo que mostra a cena bizarra e, mais do que isso, que mostra o que vem por aí nos próximos anos.
Repare, leitor, aos 50 segundos do vídeo, Temer aplaudindo o patrão Nizan Guanaes pedindo medidas “impopulares” e “amargas” que todos sabemos quais são – retirada de direitos trabalhistas (férias, 13º salário, fundo de garantia etc., terceirização (precarização) do mercado de trabalho, piora da Previdência social, redução do SUS etc.
Essas são as medidas que o ex-marqueteiro tucano pediu aos peemedebistas e tucanos que pilotam esse governo ilegítimo e infame que após seis meses não tomou uma única medida concreta contra a crise, limitando-se a demitir ministros por corrupção, a perseguir funcionários de esquerda da administração pública federal e a desmontar programas sociais.
Mas a lógica de Guanaes é estarrecedora. Na prática, ele diz que a impopularidade é um mérito porque o governante impopular faz coisas boas ao tomar medidas que desagradam a população e esta não tem capacidade suficiente de entender que está sendo beneficiada, por exemplo, com a retirada de direitos trabalhistas.
É uma variante da teoria da ditadura militar de que o povo não podia eleger presidentes, governadores e prefeitos das capitais porque não sabia votar. Só sabia o suficiente para eleger parlamentares, mas não todos. Se o povo votasse contra os militares, estes podiam colocar parlamentares “biônicos” em número suficiente para terem maioria nas casas legislativas do país.
O Jornal Nacional transmitiu uma agressão ao povo brasileiro feita por um bando de patrões gananciosos e por um presidente que governa sem legitimidade conferida pelo voto popular. Fomos todos chamados de burros enquanto os golpistas reunidos no novo Conselho de Desenvolvimento Econômico e “social” se arrogam superioridade intelectual.
E ninguém disse nada, ninguém chiou, ficou por isso mesmo. Mas agora você sabe o que vem por aí.
PS: daria tudo para ler os pensamentos da mocinha que aparece na foto lá no alto desta página e que certamente trabalha no cerimonial do evento. Ela pareceu não ter gostado nada da teoria de que o povo é burro e não sabe que precisa sofrer pra melhorar de vida.
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