"Tê-lo-ia varado a tiros"
"Em 7 de dezembro de 1913, repórter e fotógrafo da 'Gazeta de Notícias' e d''A Notícia', do Rio de Janeiro subiram a serra para registrar os preparativos do casamento do presidente da República, marechal Hermes da Fonseca (que ficara viúvo há um ano) com a 'mademoiselle' Nair de Teffé, na 'opulenta residência' dos Barões de Teffé, pais da noiva", diz Alex Solnik, do Jornalistas pela Democracia; "(O marechal) atravessou o salão, abraçado com o ministro Oscar de Teffé e repetiu a dose ao fotógrafo: 'Pode dizer-lhe que si eu o tivesse encontrado, tinha-o varado a tiros'"
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Por Alex Solnik, colunista do 247 e membro do Jornalistas pela Democracia
Na sexta-feira, 7 de dezembro de 1913, repórter e fotógrafo da "Gazeta de Notícias" e d'"A Notícia", do Rio de Janeiro subiram a serra para registrar os preparativos do casamento do presidente da República, marechal Hermes da Fonseca (que ficara viúvo há um ano) com a "mademoiselle" Nair de Teffé, na "opulenta residência" dos Barões de Teffé, pais da noiva.
No dia seguinte, sob o título "Um lamentável incidente", a "Gazeta de Notícias" e "A Notícia" publicaram um editorial em que narram os acontecimentos que o provocaram.
Diz o editorial que o marechal-presidente passeava com a noiva pela casa, sem ser importunado com perguntas nem com flashes, enquanto vários fotógrafos registravam detalhes da decoração.
A certa altura, no salão em que se encontravam o ministro da Marinha, o Ministro da Guerra, o Presidente da Câmara de Petrópolis e o repórter da "Gazeta", o marechal, referindo-se ao que acontecia na sala contígua questionou o repórter:
"O que faz ainda essa gente aí"?
"Estão tirando mais algumas fotografias".
"Naturalmente para publicarem amanhã, com os insultos habituais".
Súbito, como se falasse consigo mesmo, o presidente da República passou a atacar o dono dos jornais e redator-chefe de "A Notícia":
"É ele o culpado de tudo quanto faz 'A Gazeta' e 'A Notícia'. Si o tivesse encontrado hontem, tê-lo-ia corrido a bengaladas ou tê-lo-ia varado a tiros. Podem dizer de mim o que quizerem, como governo, mas não têm o direito de entrar nas intimidades que me dizem respeito. Elle devia também lembrar que tem família, para não esquecer o respeito que deve à família dos outros. O que me consola é que me faltam apenas doze mezes para deixar este posto; então liquidarei as contas com essa gente".
Atravessou o salão, abraçado com o ministro Oscar de Teffé e repetiu a dose ao fotógrafo:
"Pode dizer-lhe que si eu o tivesse encontrado, tinha-o varado a tiros".
O marechal Hermes da Fonseca foi o primeiro militar eleito presidente da República em votação livre e direta no Brasil. Quatro meses depois desse dia de fúria ele decretou o estado de sítio.
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