Tarso Genro: "redondamente equivocado"
Diferente de Tarso, nunca apoiei a estratégia da conciliação. Mas parecido com ele, acho que esgotou o prazo de validade desta estratégia. Entretanto, qual deve ser o papel do PT na construção de uma nova estratégia?
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Como Tarso (e Melville), acho que "os julgamentos do presente, centrados nas tensões do presente, nem sempre são os que fazem história".
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Mas que conclusão nós pobres mortais devemos tirar disto? Abstenção? Relativismo? Agir pensando no julgamento futuro da história? Ou correr o risco de tomar partido aqui e agora?
Como Tarso (e Melville), também acho que "aquele que nunca fracassou em alguma parte, tal homem não pode ser grande, o fracasso é a verdadeira prova de grandeza".
Mas, novamente, que conclusão nós pobres mortais devemos tirar disto? Relativizamos os fracassos, em nome da grandeza de caráter? Ou deixamos que os biógrafos façam seu trabalho?
Indo ao ponto: Tarso opina sobre a filiação de Alessandro Molon e de Randolfe Rodrigues a Rede de Marina.
Considera que ambos "não estão fazendo esta opção por oportunismo ou vantagens políticas pessoais".
Diz que "são homens de esquerda, que se opuseram à natureza dos ajustes ortodoxos do Governo atual".
Infelizmente Tarso não pergunta por quais motivos ambos estão saindo exatamente agora, nesta data específica.
Tarso tampouco questiona o fato de ambos não terem agido de acordo com as convicções democráticas que os dois sempre externaram, segundo as quais o mandato pertence aos partidos, não aos mandatários.
Deixando de lado estas questões -- seriam menores?-- Tarso se concentra em algo obviamente fundamental: como é possível que dois militantes de esquerda, críticos ao ajuste ortodoxo, saiam de seus partidos para buscar abrigo num "campo político que caracterizou as últimas intervenções de Marina Silva, no cenário nacional: o campo demo-tucano, das reformas liberais, combinadas com a crescente vontade de desestabilizar e derrubar uma Presidente legitimamente eleita"?
Tarso parece confiante em que "ambos devem ter feito algum tipo de negociação política com Marina, de que a sua nova Rede não seria furada por "palometas", que abririam rombos pelos quais transitariam acordos com a direita e com a centro-direita, como ocorreu recentemente nas eleições presidenciais".
Confesso que não entendi se Tarso está especulando ou se está nos informando. Seja como for, é neste ponto que -- na minha opinião -- penetramos um terreno perigoso.
Não me refiro a confiança de Tarso no caráter de Marina. Com todo o respeito, isto é problema de quem confia e de quem é confiado.
Quando falo de terreno perigoso, refiro-me a expectativa de Tarso em que"teremos um novo cenário partidário no país, que poderá permitir coalizões mais orgânicas e frentes mais programáticas, que até poderiam ser testadas, em algumas cidades, em 2016".
Além desta lógica ser parente da que leva governadores e prefeitos a estimular a distribuição de "afilhados políticos" por vários partidos, trata-se de um jeito de raciocinar que no limite transformará nosso PT -- que também é meu e de Tarso-- em "mais um" como tantos.
Diferente de Tarso, nunca apoiei a estratégia da conciliação. Mas parecido com ele, acho que esgotou o prazo de validade desta estratégia. Entretanto, qual deve ser o papel do PT na construção de uma nova estratégia?
A resposta dada por Tarso, que na minha opinião o leva a ser tão condescendente com a atitude de Molon, é que "temos que buscar, nos diferentes espectros partidários, lideranças, grupos políticos, partidos, frações de partidos, que estejam dispostos a acordar um novo programa econômico e social".
Na minha opinião, esta resposta está certa sob uma condição: se o "temos que buscar" disser respeito não a pessoas físicas, mas a organizações coletivas. Ou seja, segundo meu ponto de vista, o Partido dos Trabalhadores tem que buscar.
Motivo pelo qual, ademais, não concordo em estimular, concordar, ser condescendente, nem adotar uma atitude passivo-fatalista frente a movimentos de saída do PT.
Por fim: o inferno está cheio de boas intenções.
Não tenho dúvida de que Molon e Randolfe acreditam que "não estão abandonando o barco da esquerda, mas procurando construir algo dentro de outros barcos".
Se vão conseguir ou não, e exatamente o que vão conseguir, o futuro dirá.
Mas a paródia que Tarso faz não é bom presságio, embora seja muito reveladora acerca destes tempos em que vivemos.
Diz Tarso: "parodiando Melville, barcos dos quais eles ainda não são capitães, mas podem vir a sê-lo".
Randolfe é um senador da República, Molon é um deputado federal de grande prestígio. Eles estão a busca de um barco onde possam ser capitães???
Espero que não. Há motivos melhores para sair e para entrar num partido.
Assim como há motivos melhores para ficar, especialmente quando o Partido em que ficamos está sob ameaça de ser destruído pela direita.
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