Tarcísio é a bola da vez
'Tarcísio de Freitas é a cereja que sobrou do bolo que foi pelos ares nos atos terroristas do 8 de janeiro', escreve o colunista Florestan Fernandes Jr.
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Na segunda-feira (13/03), falando para empresários e rentistas num almoço em São Paulo, Tarcísio de Freitas repetiu mais de duas dezenas de vezes seu otimismo com a gestão dele próprio. Num país com a maior taxa de juros do mundo e com uma recessão se avizinhando, afirmou convicto: “O Brasil é a Bola da Vez”. Um discurso de promessas ao léu, bem ao estilo de estrategistas marqueteiros. Tarcísio prometeu pelo menos 20 obras de impacto. Linhas de trem ligando a capital ao interior, novas estações de metrô, construção de casas populares, privatização de rodovias, de empresas estatais e até a construção de um túnel submarino ligando Santos ao Guarujá. Ou seja, repetiu as mesmas promessas de campanha.
O herdeiro do estado que foi durante 30 anos uma espécie de protetorado tucano, deu sinais de que está mais para Paulo Maluf, do que para Mário Covas. Mais para Orestes Quercia, que Franco Montoro. Pretende ser o tocador de obras, uma versão moderna do não “rouba, mas faz.”
Mas chegar lá não será tarefa fácil. Como diria minha avó, quem promete muito, pode tropeçar na própria língua. E o senhor da razão, que pode evitar tropeços de Tarcísio é seu experiente secretário de governo, Gilberto Kassab. O líder do PSD conhece como poucos os caminhos tortuosos da política brasileira. Tem a competência para se equilibrar com um pé em cada canoa, um no governo Lula e outro no governo Tarcísio.
A questão é o rumo que Tarcísio vai dar à sua canoa. Vai navegar ao lado dos bolsonaristas raiz extremados, ou da direita conservadora? O carioca que governa São Paulo alojou 10 ex-colaboradores do governo Bolsonaro em cargos de primeiro escalão de seu governo. E não era pra menos, Tarcísio de Freitas é hoje a cereja que sobrou do bolo que foi pelos ares nos atos terroristas da extrema-direita no dia 8 de janeiro de 2023. Com apenas dois meses de governo, os radicais de direita já demonstraram, nas redes sociais, sua contrariedade com a presença de Gilberto Kassab. E esse é o grande dilema para Tarcísio. Apesar de todo otimismo, ele por enquanto segue com a identidade fortemente vinculada ao seu criador, Jair Bolsonaro. Abrigado num partido de aluguel e eleito com os votos de uma seita de ódio e fanatismo, ele pode ter o mesmo futuro desastroso de outras criações, a exemplo do ex-governador Luiz Antônio Fleury Filho e o ex-prefeito Celso Pitta. Isso vai depender muito das condições políticas e econômicas que teremos nos próximos anos. E também da capacidade de Tarcísio se libertar das amarras do bolsonarismo. Na melhor das hipóteses, ele pode sonhar em fazer dos escombros do "tucanistão", seu ninho para alçar voos maiores. Por enquanto, mesmo com o apoio do mercado financeiro, ele é apenas um poste que como tantos outros se elegeu para um cargo majoritário. Na real, a bola da vez não é o Brasil, é Tarcísio de Freitas, que corre o risco de bater na tabela e não entrar na caçapa.
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