Tão jovem quanto Arthur, o Brasil de Lula vai-se aos poucos

O que se pode dizer, numa coluna que pretende discutir a política de Minas Gerais e algo da nacional que resvale neste estado, num fim de semana em que metade de um país assistiu bestificada à esdrúxula e ao mesmo tempo dilacerante cena do ex-presidente Lula deixando sua prisão política sob aparato de guerra, para velar e cremar o neto morto ainda na infância, numa evidente injustiça que parte o coração de qualquer pessoa que ainda o tenha?

Tão jovem quanto Arthur, o Brasil de Lula vai-se aos poucos
Tão jovem quanto Arthur, o Brasil de Lula vai-se aos poucos (Foto: Amanda Perobelli/Reuters)


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O que se pode dizer, numa coluna que pretende discutir a política de Minas Gerais e algo da nacional que resvale neste estado, num fim de semana em que metade de um país assistiu bestificada à esdrúxula e ao mesmo tempo dilacerante cena do ex-presidente Lula deixando sua prisão política sob aparato de guerra, para velar e cremar o neto morto ainda na infância, numa evidente injustiça que parte o coração de qualquer pessoa que ainda o tenha? Pior, ainda, é pensar na outra metade. Toda vez em que ela se faz ouvir, com suas abjetas manifestações de ódio, o país torna-se menor e descobrimos que cada vez menos somos um povo.

Dito isso, este trabalho segue em frente e lembra que essa semana um golpe duro foi desferido contra a Educação e a pesquisa científica em Minas Gerais. O Governo estadual anunciou que não pagará as bolsas do Fundo de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), deixando na mão centenas de estudantes de iniciação científica, mestrado e doutorado das principais universidades do estado. Aquelas mesmas que, duas colunas atrás, dissemos estarem ameaçadas pelas “investigações” – leia-se perseguição – do Governo federal. O que se tem é um ataque ao livre pensamento, à produção do conhecimento, a tudo que ao mesmo tempo desenvolve e liberta um país cujas elites querem manter pobre e submisso.

Uma jovem chegou a relatar ter deixado o seu emprego na segurança de que, tendo passado em mestrado com boa colocação, garantindo a bolsa que lhe renderia vencimentos melhores que o subemprego que tinha, via na pós-gradução a possibilidade imediata de mais conforto material e tempo livre para estudar e aspirar a melhores condições de trabalho e renda no futuro. Tudo agora está interrompido e a incerteza reina para boa parte das mineiras e mineiros. A garota, que ao G1 preferiu não se identificar, disse estar feliz por, pelo menos, ter conseguido retornar ao emprego do qual era demissionária. Outra pesquisadora, Fernanda Mingote Luz, segundo o mesmo site, cursa doutorado em arquitetura e propõe formas de conservação ambiental no Córrego do Cercadinho, na Zona Oeste de Belo Horizonte. O objetivo é evitar inundações na região, que frequentemente atingem as populações mais pobres da capital mineira. Apesar de já atuar como arquiteta de forma liberal, e portanto ter como manter seus estudos, perdeu muito dinheiro ao cancelar contratos para receber a bolsa, visto a exclusividade ser pré-requisito.

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A previsão de investimentos em pesquisa científica em Minas caiu de R$ 206 milhões para R$ 6,7 milhões, isto é, chegou a cerca de 3% do que era no ano passado. O Governo argumenta severa crise fiscal, o que impede os pagamentos. Provavelmente é verdade, embora haja certas prioridades para cada tipo de Governo que ascende ao poder, e o corte nas bolsas levanta suspeitas de negligência quanto à pesquisa, quando vindo de uma Administração sustentada por setores políticos e econômicos que inúmeras vezes já manifestaram desprezo pela reflexão e pelo conhecimento. Setores esses que alçaram Bolsonaro ao Planalto.

Verdade ou não, e mais do que um ataque direto ao Governador peenista Romeu Zema, que está em seu direito de argumentar ter recebido um estado com dificuldades financeiras (pelas quais também passou Pimentel, que neste espaço foi defendido, inclusive por tomar medidas que, ao que se vislumbra de Zema, castigavam muito menos o povo mineiro), o que deve-se lembrar é que o problema é de uma sucessão de fatos que começa no golpe de 2016, a mudança na política do petróleo, a crise financeira em que afundaram o Brasil.

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Afinal, alguém ainda se lembra, depois de golpe, Joesley, Fora Temer, dinheiro para o Congresso não votar impeachment, condenação do Lula, prisão do Lula, campanha suja nas eleições, facada (fake ou real?), fakenews, vitória do Bolsonaro, menino de azul e menina de rosa, Queiroz, pilhéria com a morte de um menino de sete anos e muitas outras coisas, impossíveis de se listar de cabeça, de que no início de tudo os royalties do petróleo explorado no pré-sal seriam destinados à Educação?

Pois é. Um país sendo destruído aos poucos, sendo que nunca vislumbramos imediatamente o que vem pela frente, não conseguimos nos antecipar ao passo do golpe em marcha, cujos defensores e defensoras hoje reinam no país. Lamentavelmente, centenas de pesquisadoras e pesquisadores terão de estudar sem bolsa, algumas pessoas terão seus trabalhos prejudicados pela ausência de financiamento para dedicarem-se exclusivamente aos estudos, outras simplesmente terão de deixá-los para voltar a trabalhos muitas vezes sub-remunerados.

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Aquele Brasil de Lula, que enviou este colunista que vos fala a um ano de estudos como bolsista na Universidade de Coimbra - Portugal, uma das mais prestigiadas do mundo, e que ajudou a formá-lo como um jornalista hoje respeitado pela editoria do principal jornal progressista do Brasil (na época, era apenas um jovem de 21 anos que sonhava com isso), pouco a pouco vai nos deixando, tão jovem quando o menino Arthur Araújo Lula da Silva.

Está cumprida a missão de se falar de Minas em meio à dor que vem do ABC paulista e se espalha por quem ainda conserva alguma humanidade nesse país.

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Não merecemos passar por isso.

Um dia, vai ficar para trás.

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Amanhã há de ser outro dia.

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