Tanques em Brasília não são o começo, são o fim

O jornalista Alex Solnik critica o desfile de militares marcado para esta terça-feira (10) em Brasília e compara: demonstrações de força como a de abril de 1984 "não anunciam o início de alguma coisa, mas o fim". "O desfile do general Nini foi o último da ditadura militar", acrescenta em referência ao general general Newton Cruz

(Foto: Alexandre Manfrim - ABr)


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Por Alex Solnik, do Jornalistas pela Democracia

No dia 23 de abril de 1984, a pretexto de comemorar o aniversário do Comando Militar do Planalto, seu chefe, general Newton Cruz, montado num garboso cavalo branco, desfilou à frente de 6 mil soldados e 116 blindados pela Esplanada dos Ministérios.

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O objetivo era intimidar os deputados que votariam, dois dias depois, a emenda das Diretas Já. Se fosse aprovada, as eleições presidenciais daquele ano se dariam pelo voto popular e não no Colégio Eleitoral formado por deputados onde o governo ditatorial sempre tinha maioria. O governo sabia que seria derrotado nas urnas.

Uma semana antes da votação decisiva, o então ditador, general João Figueiredo, decretou estado de emergência em Brasília. Ninguém podia entrar na cidade. Para impedir a entrada de manifestantes. O governo estava acuado. Milhões de brasileiros tinham saído às ruas desde o início do ano exigindo eleição direta para presidente.

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Depois do desfile ameaçador os moradores de Brasília reagiram nas ruas, fazendo um buzinaço histórico dentro dos automóveis encurralados num enorme congestionamento.

O general Nini, de novo em seu cavalo, saiu chicoteando as carrocerias que não tinham nada a ver com o protesto. 

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A intimidação funcionou, a princípio. Apesar de vitoriosa (298 X 178), a emenda não conseguiu os 320 votos necessários. Apenas 65 deputados tiveram coragem de votar “não”. A maioria - 113 - não compareceu. 

Foi uma vitória de Pirro. A 15 de janeiro de 1985, o candidato do governo, Paulo Maluf perdeu para Tancredo Neves e a ditadura acabou.

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Demonstrações de força como a de abril de 1984 - hoje copiada ipsis literis pelo protótipo de ditador que ocupa o Palácio do Planalto - não anunciam o início de alguma coisa, mas o fim. O desfile do general Nini foi o último da ditadura militar.    

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