System of a Down, genocídio armênio e a hipocrisia

(Foto: Reprodução)


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É bastante comum artistas de todas as vertentes utilizarem as suas artes para denunciar e protestar sobre algo. Desde a antiguidade isso acontece. Vemos por exemplo na idade média onde artistas como Da Vinci mostrava, através das suas obras, certas informações de cunho ocultista que a Igreja não queria que fossem expostas ao público, como o quadro da Santa Ceia que faz referência aos signos do zodíaco, representados pelos apóstolos, e o sol representado por Jesus. Denúncias de ordem cultural e religiosa e até político- econômico, como guerras, pobreza, injustiça social, perseguição ideológica, etc, são temas de diversas manifestações artísticas, na literatura, artes plásticas, teatro. Na música, temos os estilos musicais como o rap, o reggae e o rock os mais conhecidos, que são historicamente relacionados a protestos em geral.

É bastante vasto as obras artísticas, de todas as épocas, que são explícitas ou cifradas, com informações diretas ou com metáforas, que ao protestarem contra situações, fatos históricos, pessoas, etc, estão na verdade mostrando para o público coisas que muitas vezes não estão sendo divulgadas pela mídia, ou que são ou foram divulgadas de forma deturpada, com erros, mentiras, tanto intencionalmente ou não, e o artista se sente na obrigação de informar; esse senso de justiça é uma característica legítima e espontânea do artista, e ela irá se manifestar em algum momento na vida deste, nem que seja apenas uma vez.

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Mas quando esse protesto é feito por pessoas que sofreram diretamente com o fato em questão, ela acaba se tornando mais intensa e, definindo os rumos dos trabalhos, como é o caso, por exemplo, da banda de rock estadunidense, System of a Down. Fundada na década de 90, começou a fazer sucesso mundial a partir do início dos anos 2000, com músicas que misturam rock e metal com elementos da música árabe. Seus membros são netos de sobreviventes do conhecido Genocídio Armênio, assassinatos em massa organizado pela Turquia, ainda na época do Império Otomano, com participação de curdos e setores do governo alemão, durante a Primeira Guerra Mundial. As mortes da população armênia, teve organização e método, caracterizando oficialmente um caso de genocídio. Inclusive essa palavra foi criada por causa desse acontecimento, pelo advogado judeu Raphael Lemkin, para deixar claro que se tratava de mortes causadas pelo poder estatal, de grandes proporções e direcionadas a um grupo especifico. O genocídio armênio também serviu como modelo que foi adotado por Hitler, no genocídio judeu e eslavo, durante a Segunda Guerra Mundial. A banda System of a Down, em especial, o vocalista e o baterista, falam abertamente sobre esse fato histórico e já fizeram diversas manifestações públicas, eventos, shows, ações políticas, documentários, etc, para pressionar as nações, principalmente EUA, Inglaterra e Turquia, para que reconheçam oficialmente o genocídio armênio. No documentário, Screamers (2006), a banda chega até mesmo a falar contra o fascismo, discurso típico da esquerda. Porém com a chegada da nova direita ao poder nos EUA com Trump, as coisas começaram a mudar em diversos setores da sociedade estadunidense, afetando também a banda, na pessoa do baterista Jonh Dolmayan.

Vê as declarações do baterista da banda no início dos anos 2000 e agora, parece se tratar de duas pessoas diferentes. De um militante anti fascista, contra todos os tipos de genocídio e violação dos direitos humanos, a militante de extrema direita, apoiador aberto do principal líder atual de todos os grupos fascistas, nazistas, e de extrema direita dos EUA. Se tem uma coisa que não podemos discordar é que, essa nova leva de direitistas, no mundo inteiro, falam abertamente sobre o que eles defendem e o que eles são, seus líderes, pautas, seus inimigos, etc; portanto não dá pra dizer que há um equívoco da parte de qualquer pessoa instruída, sobre no que eles estão se metendo. Dizer que uma pessoa pobre, sem acesso a livros e ao conhecimento profundo, acaba sendo hipnotizada pelo discurso desses grupos é totalmente compreensível, mas não é o caso do músico Jonh Dolmayan. Livros de história é o que não faltam pra ele. Sua própria família, vítima de um movimento fascista, antes mesmo da criação oficial do fascismo por Mussolini, é o próprio livro vivo, que repassou todos os acontecimentos para ele, mas que agora não valem mais nada.

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A minha teoria a respeito dessa tal mudança é que na verdade nunca houve, por parte dele uma real preocupação com o genocídio armênio e qualquer outro genocídio e qualquer outra violação dos direitos humanos em qualquer parte do mundo. Também nunca houve por parte dele preocupação com o discurso anti fascista da banda quando eles começaram a ganhar milhões de dólares com suas músicas de protesto. Na verdade, seu interesse nesse discurso “esquerdista” (termo usado por ele de forma pejorativa, pra se referir ao seu colega de banda, o vocalista Serj Tankian), era apenas resultado de uma coisa conhecida como “pink money”, faturar grana com produtos voltados para um público engajado. Essa expressão foi criada para se referir aos produtos voltados para o público lgbt, mas como ainda não foi criado um pro rock, peguei emprestado para exemplificar esse caso. Agora que Dolmayan ficou rico, não precisa mais agir com hipocrisia, sua verdadeira face está livre para se mostrar.

E então, com a polarização, a luta de classes se intensificando, juntamente com as redes sociais e a vontade imensa das pessoas falarem abertamente sobre o que realmente pensam, acreditam e apoiam, as máscaras começam a cair.  No Brasil também temos diversos exemplos similares, de artistas que antes cantavam contra a direita e que hoje se tornaram direitistas fervorosos. Mas isso será tema pros próximos textos da coluna.

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