Suspeição de Moro foi para as calendas gregas
"O voto do ministro Nunes Marques era o mais imprevisível. Se votasse a favor de Moro, Bolsonaro não ia gostar; se votasse contra, ajudaria Lula a ser um forte concorrente em 2022, do que Bolsonaro também não ia gostar. Na dúvida, alegou ter tido pouco tempo para se inteirar do processo e pediu vista", analisa Alex Solnik, do Jornalistas pela Democracia
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Por Alex Solnik, para o Jornalistas pela Democracia
Parecia que o ministro Edson Fachin seria o grande derrotado do dia.
Quando foi noticiado que o ministro Gilmar Mendes colocaria em julgamento hoje mesmo a suspeição do ex-juiz Sérgio Moro, ele se pôs a campo para impedir.
Queria fazer valer a sua decisão de ontem, na qual anulou as condenações do ex-presidente Lula, mas permitiu que o próximo magistrado opte entre começar o processo do zero ou aproveitar as provas produzidas pela Lava Jato.
Se Moro fosse condenado por suspeição, todo o processo do triplex seria anulado, desde a denúncia. Não haveria tempo para Lula ser novamente condenado em segunda instância e assim não poder concorrer em 2022, se pegasse de novo um juiz punitivista.
Bateu na porta de Fux, o presidente, na esperança de que ele barrasse o intento de Gilmar. Mas Fux nem respondeu, o que é regimental.
Abatido, Fachin se apresentou ao julgamento. Antes mesmo do voto de Gilmar, que iria proferir dois anos depois de pedir vista, insistiu no adiamento da sessão. Submetida a voto, a proposta foi goleada por 4 a 1.
Duas derrotas num só dia.
Gilmar leu um dos votos mais extensos da história recente do STF, no qual repetiu tudo o que vem dizendo acerca dos abusos e ilegalidades praticadas por Moro, e sua intenção política de afastar Lula das eleições, mudando o placar para 2 a 1 a favor de Moro (Cármen Lúcia e Fachin já tinham votado pró Moro a 4 de dezembro de 2018).
O voto do ministro Nunes Marques era o mais imprevisível. Se votasse a favor de Moro, Bolsonaro, que tem interesse em desgastar seu ex-ministro, não ia gostar; se votasse contra, ajudaria Lula a ser um forte concorrente em 2022, do que Bolsonaro também não ia gostar.
Na dúvida, alegou ter tido pouco tempo para se inteirar do processo e pediu vista. Deu uma de Miguel, porque assumiu a 20 de novembro de 2020; teve, portanto, 100 dias para se inteirar do HC que sabia seria julgado a qualquer momento.
A suspeição de Moro foi para as calendas gregas.
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