Surpresas na Terra Redonda

A economia melhorou, os indicadores de comportamento social se ajustam e a qualidade da política, repleta de caprichos verbais, modera excessos

Lula e Bolsonaro
Lula e Bolsonaro (Foto: Leopoldo Silva/Agência Senado | REUTERS/Adriano Machado)


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O modo de contar o Tempo sempre foi, desde a Antiguidade Clássica uma das importantes interrogações humanas. Os gregos imaginavam uma forma cíclica; os modernos privilegiaram um desenrolar matemático, como se uma coisa surgisse depois da outra e daí por diante. As duas modalidades guardam aparências misteriosas, como se, afinal, terminemos sem saber de fato de onde viemos e para onde iremos. Para os da Terra Plana, os mistérios se encerram na borda da matéria. Qual não se mostrará a surpresa, então, quando, de repente, mesmo sem malabarismos, ficamos com a impressão de reviravoltas, recolocando ou retirando fatos no lugar e vice-versa, não como se houvéssemos pretendido, mas surpreendendo-nos pelas alvíssaras da nova situação...  

O julgamento sobre a ilegibilidade de Jair Bolsonaro no TSE transmitiu semelhante impressão. Depois de um mandato tumultuado e repleto de transgressões, chocantes muitas delas, é como se algo houvesse ocorrido que nos repusesse no ponto de origem: Luís Inacio Lula da Silva na Presidência da República, Dilma Rousseff no comando dos BRICs, em posição de prestígio, Cristiano Zanin no Supremo, e o Ex crescentemente execrado, feito modelo para nunca mais, além até da pena de oito anos. A virada nos acontecimentos nos permite calcular o salto de uma posição para outra, em meio a arremedos de governo, lances de brutalidade, péssimo tratamento às mulheres, teses lamentáveis em voga e manifestações do fascismo tupiniquim, culminando no 8 de janeiro e a destruição da Praça dos Três Poderes, telecomandada pelo chefe e o conhecido ódio que dedica ao patrimônio nacional. De uma hora para outra, como nos sentimos bem quando vemos que caminhamos outra vez pela superfície de uma Terra redonda!

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O presente se nos colocou com extraordinárias expectativas. A economia melhorou, os indicadores de comportamento social se ajustam e a qualidade da política, repleta de caprichos verbais, para não dizer de ofensas, modera excessos. Se continuarmos assim, terminaremos civilizados num prazo curto. O receio, num Tempo que vai e volta, como o que ficamos com a sensação de viver, diz agora respeito ao futuro. De qualquer maneira, os juízes do TSE, tomando os cuidados da Lei, cuidam para que a pena aplicada não se mostre inferior a 8 anos. Até lá, as rugas invadirão o rosto do político e lhe roubarão o entusiasmo para transgredir, como gosta de proceder. A continuidade das atitudes fascistas, ainda que em sintonia com o panorama internacional, perderá o fôlego. Bolsonaro, a quem agradava chamar Lula de ex-presidiário, ouvirá o seu nome agora associado ao designativo de “condenado”. Mais uma reviravolta no tempo cíclico. 

O movimento de vai e volta que herdamos dos gregos, contra toda a pregação matemática, rumo ao infinito, transmite um leve traço de vertigem, como se houvéssemos acabado de sorver um cálice ou dois de conhaque para fazer face às emoções. É possível que não cheguemos muito longe com essas experiências. O mundo, sem dúvida, não se mostra tão animador quanto no passado, quando não dispúnhamos da bomba atômica para despejar nos inimigos ou evitávamos as provocações arriscadas como no momento agimos com os russos. Mesmo assim, como é bom que tenhamos um intervalo para festejar por uma vez nossa capacidade de comemorar uma boa punição!

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