STF terá de sair da toca e se manifestar sobre prisão de Lula

"Até hoje indiferente à perseguição a Lula, apesar da sua repercussão em todo o planeta, a condenação combinada do TRF-4 pode ser, por outro lado, a primeira oportunidade para a Corte Suprema sair da toca e se manifestar formalmente sobre a questão. Será a ocasião do país conhecer, efetivamente e de maneira clara, a posição do STF em relação ao golpe e à caçada ao ex-presidente", diz o colunista do 247 Ribamar Fonseca; "Será praticamente impossível aos ministros continuar se escondendo atrás do vergonhoso silêncio que adotaram até hoje"

Lula
Lula (Foto: Ribamar Fonseca)


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Enquanto o ministro Marco Aurélio Melo revela preocupação com as consequências de uma possível prisão de Lula, como decorrência da sua condenação pelo Tribunal Regional Federal da 4ª. Região, a ministra Carmen Lúcia, presidente da Suprema Corte, não parece se importar muito com o que possa acontecer. Aparentemente ela aprovou a decisão do TRF-4, tomada sobre um crime forjado, dando a impressão de estar mesmo interessada em alijar o ex-presidente da vida pública, impedindo-o de voltar à Presidência da República. A melhor prova disso é que negou os habeas corpus impetrados a favor dele, não exatamente para anular a decisão da Corte de Porto Alegre mas para impedir a sua prisão. E olhem que ela está hoje no Supremo porque foi nomeada justamente por Lula, quando Presidente. Ela justificou sua negativa dizendo que "não é atribuição do STF decidir, neste momento, esta questão". E de quem é?

A ministra provavelmente ficou com medo da mídia, mais precisamente da Globo, que já lhe homenageou com um troféu. Nesse aspecto deve-se reconhecer a coragem do ministro Gilmar Mendes, que não teme as reações às suas decisões a favor dos seus amigos, tucanos ou não. Único ministro nomeado pelo ex-presidente Fernando Henrique, ele nunca hesitou em proteger, por exemplo, o senador Aécio Neves, arquivando os processos contra ele ou impedindo-o de prestar depoimento. Outro que também parece não temer tomar decisões em favor dos seus amigos é o ministro Alexandre de Moraes, nomeado pelo presidente golpista Michel Temer, do qual foi ministro da Justiça. Enquanto isso os ministros nomeados por Lula e Dilma, que são a maioria no STF, fingem não conhecê-los. Na verdade, ninguém quer que os ministros sejam gratos a eles e muito menos parciais na defesa dos seus benfeitores, mas apenas que sejam justos. Mas, lamentavelmente, não são nem gratos nem justos.

A ditadura da toga, que ficou mais desavergonhada e ousada com a condenação sem provas do ex-presidente Lula pelo Tribunal Regional Federal da 4ª. Região, sem dúvida elegeu o líder petista como o inimigo a ser destruído: além de aumentar a pena inicial fixada pelo juiz Sergio Moro de 9 para 12 anos de prisão, uma decisão combinada pelos três desembargadores para dificultar os recursos da defesa, magistrados de outras jurisdições decidiram também dar a sua contribuição à escandalosa perseguição ao ex-presidente. O juiz substituto Ricardo Leite, de Brasília, provavelmente em busca de 15 minutos de fama, intrometeu-se na questão e determinou o recolhimento do passaporte de Lula, que tinha viagem marcada para a África a convite da ONU. Alegou que ele podia fugir, pretexto endossado estranhamente pelo jornalista Ricardo Noblat que, como velho profissional de imprensa, tinha obrigação de saber, considerando a história do ex-presidente, que se ele não fugiu no tempo da ditadura militar, preferindo ficar aqui e enfrentar todos os riscos lutando pela democracia – ao contrário de muitos pseudo democratas que fugiram para o exterior – não seria agora que o faria.

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O juiz Leite e Noblat, maus brasileiros que certamente não moveram um músculo em favor da democracia durante o regime militar – e hoje se beneficiam dela – infelizmente parecem integrar o esquema do golpe que derrubou Dilma, colocou Temer e sua quadrilha no poder e se empenha em alijar Lula da vida pública, porque sem ele fica mais fácil a tarefa de entregar nossas empresas e riquezas naturais para o capital estrangeiro e recolocar o Brasil na condição humilhante de quintal dos Estados Unidos. Além deles, o ministro Humberto Martins, do Superior Tribunal de Justiça, também fez a sua parte negando outro habeas corpus para o ex-presidente, a exemplo da ministra Carmem Lúcia. E vem mais por aí: para que Lula não tenha a menor chance de voltar ao Palácio do Planalto os seus perseguidores o transformaram em réu em vários outros processos, nos quais certamente também será condenado mesmo sem qualquer prova. Como hoje os juízes só precisam de convicções, qualquer coisa serve para condená-lo como, por exemplo, um sitio que não é dele; um apartamento que é dele mas eles afirmam que foi propina; influência no processo de compra dos caças suecos – influência? – entre outros disparates cínicos.

De qualquer modo, o risco de uma convulsão nacional, como consequência de uma eventual prisão de Lula, pode levar a Suprema Corte a promover urgente revisão de sua própria decisão anterior quanto à prisão após condenação em segunda instância. A decisão, tomada por 6 votos a 5, com o voto de Minerva da presidenta Carmen Lúcia, dividiu o plenário do STF e pode ser revertida agora, não apenas diante do perigo do país ser incendiado, conforme preocupação do ministro Marco Aurélio Melo, mas, também, porque pode beneficiar os "protegidos".

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Além disso, ao determinar a prisão após a condenação em 2ª. instância, sem que todos os recursos sejam esgotados, o Supremo invadiu competência do Congresso Nacional, o que pode ser corrigido agora. Até hoje indiferente à perseguição a Lula, apesar da sua repercussão em todo o planeta, a condenação combinada do TRF-4 pode ser, por outro lado, a primeira oportunidade para a Corte Suprema sair da toca e se manifestar formalmente sobre a questão. Será a ocasião do país conhecer, efetivamente e de maneira clara, a posição do STF em relação ao golpe e à caçada ao ex-presidente. Será praticamente impossível aos ministros continuar se escondendo atrás do vergonhoso silêncio que adotaram até hoje.

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