Somos todos macacos?

O que Huck e Neymar fazem é tentar calar as vozes dissonantes dizendo que somos todos iguais, ao invés de colocar em discussão nossas diferenças. Ser diferente é normal, anormal é ser indiferente. E oh, nenhum de nós é macaco



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Daniel Alves, o fato é mais que conhecido, deu um drible da vaca no sujeito racista que lhe atirou uma banana durante uma partida de futebol.

gesto paradigmático.

era revoltante ver o Balotelli, um cabra daquele tamanho, sempre chorando pelos cantos ao ser chamado de macaco.

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todos os jogadores brasileiros que foram simializados em campos europeus, se restringiram a dizer que isso era inadmissível. nem um desses cabras teve a hombridade de dar uma banana a seus agressores, parece que faziam mesmo questão de serem aceitos por eles.

Dani Alves os chamou de atrasados. pagou com a própria moeda.

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e eis que surgiu, oportunamente, uma agencia de publicidade e, querendo transformar tudo em mercadoria, usou o produto Neymar para fazer do gesto inteligente de Alves um ridículo Selfie Service pagador de mico.

ato contínuo, pulularam imagens de coxinhas descascando bananas com a hashtag #somostodosmacacos, exaltando todo o coxismo a um inacreditável do it your selfie.

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tudo bem que tenhamos lá muitas semelhanças com os macacos, principalmente em relação ao comportamento.

é o que deixa claro a exaustiva pesquisa da antropóloga Jane Goodall, 50 anos imersa na floresta. Goodall preferia viver entre os símios que entre os seus semelhantes.

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conheci o seu trabalho ainda na universidade e fiquei espantado ao ver um jovem macho, insubordinado e arredio, formar um bando de delinquentes e sair pela floresta atacando pequenos grupos, assassinando fêmeas, machos e bebês, usurpando territórios e provocando terror e pânico na selva.

um terrível bando de sociopatas, comum entre nós.

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mas não sejamos ingênuos em pensar que Luciano Huck leu o seminal A Origem das Especies e que partilha das mesmas ideias do barbudo evolucionista que singrou o mundo no improvável Beagle.

ou que o apresentador atucanado saiba algo de antropologia.

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o que Huck e Neymar fazem é tentar calar as vozes dissonantes dizendo que somos todos iguais, ao invés de colocar em discussão nossas diferenças.

ser diferente é normal, anormal é ser indiferente.

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e oh, nenhum de nós é macaco.

mesmo que geneticistas afirmem que as semelhanças entre os DNAs do ser humano e do chimpanzé podem chegar a 98%, é uma fraude intelectual dizer que chamar um negro de macaco tenha algo a ver com isso.

nem mesmo se ficarmos por conta do fenótipo faz sentido chamar os negros de macacos, porque os chimpanzés, todos o sabemos, têm pelos no corpo, típicos no homem branco. e os chimpanzés, quem não o sabe, têm os lábios finos, típicos no homem branco.

e, veja você, a pele do chimpanzé é branca, onde a semelhança?

chamar os negros de macacos é uma tentativa de mostrar que eles são bestas incivilizáveis, selvagens por natureza. quase humanos, um pouco semelhantes ao homem branco. porém, obtusos, bestializados, primitivos, primatas, primevos.

isso vale para qualquer negro, do milionário Balotelli ao casal mais poderoso do mundo, formado em direito por uma das universidades mais famosas do planeta.

a internet está cheia de imagens que comparam Michelle e Barack Obama a chimpanzés.

não faz muito tempo, causou grande indignação nos Esteites um cartoon do New York Post que mostrava um macaco, abatido a tiro por policiais, e uma sutil analogia ao então candidato Barack Obama.

a desumanização é um artifício bastante utilizado em todos os países para ridicularizar as pessoas.

dizemos vaca, piranha, cachorra, baleia...

porco, jumento, burro, anta, viado...

mas dizemos isso sempre a indivíduos. somente o termo macaco é utilizado para desumanizar uma raça inteira!

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