Solução de descontinuidade

É ou não é uma doutrina de guerra rápida semelhante ao hitlerismo contra a inteligência nacional? E aqui quase não temos aliados no plano internacional. Conforta-nos ouvir dizer que, no Congresso, receberam Bolsonaro com gritos de “genocida” e “fascista”



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Quando um país aparece enredado em seus problemas, e estagnado, cabe tomar cuidado com as soluções estapafúrdias para tirá-lo do buraco. Há razões históricas para que nos acautelemos diante do sinal amarelo. Foi assim na Alemanha pós-Primeira Guerra. A economia parecia estrangulada e a nação se transformou num caldo de milagreiros. Nesse panorama, surgiu o nazismo. Começou pela suspensão do pagamento das dívidas e, com a fórmula da corrida armamentista, optou por guerras rápidas, pegando os adversários de surpresa. Hitler previa que não faria face a um conflito longo, tendo de enfrentar a Grã-Bretanha e os Estados Unidos. Convenceu a população com os seus argumentos e deu no que deu. A destruição veio a galope. 

Ainda que na comparação com o nazismo não estejamos perto de uma perfeita sintonia, há pontos de contato. As próximas eleições apressam os desesperados a ganhar na corrida enumerando disparates. Jair Bolsonaro, sem dúvida, ainda não é nosso hitlerzinho. Compete com ele numa espécie de política de terra arrasada, com Paulo Guedes se esforçando por desfazer o que levou muito tempo a ser feito e, mal ou bem, funcionava. Graças ao golpe de 2016 e seus desdobramentos, já perdemos a nossa indústria naval, o pré-sal, importante riqueza entregue aos estrangeiros, a construção civil, e estamos perto de perder o Banco do Brasil e a Petrobrás. O modelo na cabeça do nosso Czar da Economia é o Chile de Pinochet, hoje entrando água por todas as válvulas, sem mencionar a nova Assembleia Constituinte tirada pela força das manifestações. Lá, como aqui, o preço é o empobrecimento. Basta um passeio pelas calçadas para constatar o número de desabrigados. No entanto, apesar das pragas na administração pública e da Convid 19, algumas instituições funcionam, com destaque para o ensino, a extensão e a pesquisa nas nossas universidades públicas. Talvez por isso se concentre nelas, agora, a fúria dos economistas instalados em Brasília. 

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Nenhum país conseguiu se erguer na modernidade sem boas escolas e cientistas que se debrucem atrás de descobertas. Firmamos entre nós um elenco de institutos de excelência além de nomes de relevo no plano intelectual em diversos níveis, nos quais temos o que apresentar. Pois se anuncia um corte de verbas de 34% nos recursos destinados ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Se a lei orçamentária for aprovada, o MCTI terá menos de um terço do orçamento de que dispunha há dez anos. Ao mesmo tempo um corte de 68,9% nas importações de equipamentos e insumos destinados à pesquisa tecnológica, amputará braços e pernas da pesquisa. Vide a nota da Presidência da Coppe/UFRJ, já divulgada nas redes sociais, onde se explicita o desânimo frente a essa política. 

É ou não é uma doutrina de guerra rápida semelhante ao hitlerismo contra a inteligência nacional? E aqui quase não temos aliados no plano internacional. Conforta-nos ouvir dizer que, no Congresso, receberam Bolsonaro com gritos de “genocida” e “fascista”. Confiante no modo como se define, ele respondeu: “Vamos nos encontrar em 2022” – certo de que ganhará a reeleição. Que Deus nos livre do fantasma, de outra forma, nessa “solução de descontinuidade”, não sairemos da experiência com um resto de sanidade.  

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