Sobrevivendo ao absurdo
O povo virá porque sabe que o golpe não é contra Lula, Dilma e o PT. É contra 54 milhões de eleitores, é contra 22 milhões que deixaram a pobreza extrema para trás. É contra as políticas sociais que praticamente eliminaram a miséria no Brasil. Miséria histórica, atávica, contra a qual os representantes do golpismo pouco ou nada fazem
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Nós, humanos, temos necessidade de encontrar sentido em todas as coisas, porém o mundo parece negar o alcance dessa compreensão. Assim, na busca incessante pelo significado dos fatos, dos acontecimentos e até da própria razão da existência nos deparamos com aquilo que a filosofia classifica como absurdo.
O absurdo seria uma contrariedade decorrente do convívio do espírito com o mundo, como uma "estranheza" ou dificuldade extrema em compreender o que se passa. E convenhamos de uns tempos para cá, o Brasil tem sido cenário de uma sucessão de fatos que desafiam a compreensão. Aliás, se Albert Camus, o filósofo que fez do absurdo o tema central da sua obra, estivesse vivo certamente faria do nosso país o laboratório de suas observações.
Aqui as bizarrices se fazem presente com o fundamentalismo (muitas vezes religioso) de boa parte das autoridades constituídas, com a fragilidade emocional e intelectual de uma "elite" alienada da realidade, com uma imprensa comprometida com a minoria de privilegiados e em instituições que se valem do discurso repleto de aleivosias para justificar atos e ações sem respaldo legal e distante da compreensão das gentes do povo.
Como racionalizar (encontrar sentido ético) no impeachment da Presidenta Dilma, por crime de responsabilidade, sem crime de responsabilidade? Antes disso, como explicar o rito de condenações no episódio que a mídia denominou como "Mensalão", em completo desacordo com a teoria criada por Hans Welzel e desenvolvida por Claus Roxin?
Como registrar na História, sem grande constrangimento, que de um lado há delações feitas por notórios criminosos que "pegam" e outras que "não vem ao caso"? Ou como uma elite equivocada e anestesiada pelo preconceito, mesmo prejudicada, não se movimenta em revolta contra uma quadrilha que se instalou no poder, apesar da realidade gritante, dos fatos chocantes de um desgoverno recheado de corruptos e de verdadeiros crimes de lesa-pátria?
Contudo, possivelmente a maior extravagância que desafia a lógica nesses nossos conturbados e estranhos tempos seja a figura do Ex-presidente Lula. Identificado em pesquisa (Datafolha) como o melhor Presidente de todos os tempos por 50% dos entrevistados, a despeito de sofrer, de há muito tempo, um sistemático e cotidiano massacre por parte de uma mídia comprometida apenas com o próprio umbigo.
Lula reflete um tamanho desafio à lógica que recente (e absurdamente) condenado, em primeira instância, por ter se beneficiado com um apartamento tríplex que não conseguem comprovar que é seu, ele, na primeira pesquisa eleitoral após essa condenação, desponta como favorito em todos os cenários para a eleição de 2018.
Lula tanto se reconhece como um desafio à lógica que "ensinou" aos adversários a forma de liquidá-lo. E o fez fazendo uso da figura da jararaca, animal de bote muito rápido, certeiro e mortífero. Em sua fala, Lula, usando da sua extraordinária habilidade de se comunicar por metáforas, igualmente certeiras e "mortíferas", mencionou a serpente.
Para matar a cobra é preciso "acertar a cabeça" disse ele. Foi certeiro e "mortífero". Sucessivas pancadas mal dadas despertaram o Lula, acordaram a militância e estimularam os movimentos sociais. Se Lula chamar, o povo virá.
E o povo virá porque sabe que o golpe não é contra Lula, Dilma e o PT. É contra 54 milhões de eleitores, é contra 22 milhões que deixaram a pobreza extrema para trás. É contra as políticas sociais que praticamente eliminaram a miséria no Brasil. Miséria histórica, atávica, contra a qual os representantes do golpismo pouco ou nada fazem.
Marx dizia que a História se repete a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa. E isso lembra a noite de 13 de Dezembro de 1968, com o AI-5 à solta, Juscelino foi preso, e além dele, obviamente Jango e também Gilberto Gil, Caetano Veloso, Ferreira Gullar, Carlos Heitor Cony e muitos mais. Outros fugiram, FHC, por exemplo, e outros tantos foram para a luta armada.
E agora a história de fato se repete. Coincidência de métodos, coincidência que enseja a escuridão. Mas a luz prevalecerá! 2018 vem aí!
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