Sobre porcos e marrecos. Ou, o PIG e o Moro
Monotemático, anda a papagaiar combate a corrupção por onde passa, como um Napoleão de Hospício
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No reino animal tudo é possível.
Menos aquela fraude ridícula estampada nos folhetos das Testemunhas de Jeová, “onde o homem e natureza feliz vivam sempre em comunhão”, com veados e leões dando abraços sorridentes pro anjo que fez a fotografia.
O Brasil também já deu sua contribuição para a criação de uma natureza artificial; foi quando um marreco passou a chafurdar na mesma lama em que focinhava os porcos.
Matéria vasta para a zoologia política orwelliana.
Refiro-me à bisonha simbiose entre o PIG, Partido da Imprensa Golpista, representado pelos bilionários que comandam a imprensa no Brasil, e o Marreco de Maringá, figurado por Sérgio Moro e sua indefectível gravata borboleta.
Trata-se, portanto, e a imagem é clara, de uns figurões usando como escada um mero figurante.
O PIG, lembro aos desmemoriados, alcunha criada pelo deputado petista Fernando Ferro e imortalizada pelo saudoso Paulo Henrique Amorim, teve o seu ato de fundação no dia 18/03/2010, ocasião em que O Globo estampou essa absurda declaração proferida pela senhora Judith Brito, então presidente da Associação Nacional de Jornais (ANJ) e executiva do grupo Folha de S. Paulo:
“(...) os meios de comunicação estão fazendo de fato a posição oposicionista deste país, já que a oposição está profundamente fragilizada”.
Desde então, os partidos de esquerda, de forma geral, e o Partido dos Trabalhadores, em particular, passaram a ter um inimigo poderoso que não mediria esforços para obliterar a vontade popular e devolver a direita ao poder central.
Nessa época, Lula da Silva, como a espetacular Maia Gabeira, surfava uma onda gigantesca com enorme desenvoltura.
Era uma onda de otimismo, comida no prato e pleno emprego.
O PIG não mediu esforços para tentar dar um “caldo” no surfista destemido, nem que para isso fosse preciso corromper o tridêntico Netuno, o barbudo que comanda os mares e as marés.
A partir desse período, o conglomerado do baronato nacional passou a criar uma série de farsas para tentar minar a popularidade de Lula.
Para tanto, chegaram ao disparate de atribuir ao petista desde a queda de aviões até uma mentirosa epidemia de febre amarela urbana.
A partir de então, o grupo se manteve ativo e unido na criação de narrativas mentirosas; foi nessa que usaram Bob Jefferson e Joaquim Barbosa como figurantes na novela ficcional do Mensalão.
Em seguida, ao perceberem que deu certo o jogo-sujo, seguiram nessa toada, que culminou no impinchamento de Dilma Rousseff e na criação da triple farsa: Triplex, Petrolão e Pedalinhos.
Nessa nova temporada, os atores principais continuaram os mesmos, mas saíram de cena dois figurantes:
Bob Jeff, com um olho roxo de um murro que ele levou de um fantasma, dessas assombrações que costumam invadir apartamentos funcionais na calada da noite.
E as luzes também se apagam para Barbosa, que foi viver em Miami em um apê sem vista pro mar, obrigado a olhar, noite e dia, para um quadro emoldurado na parede com uma capa da revistaveja em que ele aparece sorridente sobre as letras garrafais, “o menino pobre que mudou o Brasil”.
Corta pra cá.
Nessa última empreitada, os figurões encontraram pela frente um homem louco pelo poder e pelos holofotes, era um figurante perfeito.
Esse sujeito, o Moro, que Padilha, o Robocop da direita, apelidou de samurai Ronin, foi usado de boa vontade na sanha persecutória contra Lula e o Petê.
Juntos, figurões e figurante, produziram um robusto material que resultou em incontáveis horas de reporcagens contra o Barba, um powerpoint quinta série e um duto onde jorrava propina todas as noites no Jornal Nacional.
Verdadeira oposição, o PIG usou Moro para destruir a narrativa da esquerda, encarcerando por 580 dias o franco favorito a vencer o pleito de dezoito e abrindo caminho para a vitória do Necrarca.
Aos vencedores, as batatas, ensinou o grande filósofo Quincas Borba; e uma banana para o resto da turba.
O Bufa Presa, vitorioso, seguiu os ensinamentos do humanitismo de Borba, e mandou às favas os porcos e o Marreco.
Humanistas têm fome.
Deram a ele o papel de ladrão, ele foi lá e roubou a cena.
Uma vez empoleirado no poder, o Necrarca foi viver de boas com as emas e o gado que o bajula no cercadinho do Alvorada, convertido em Palácio do Crepúsculo.
E criou sua própria mídia, encabeçada pelo Pavão Misterioso, pelo jumento que se encontra foragido nos esteites e replicado pelas tias do zap.
Abandonados e fora do cercadinho, o Marreco e os porcos decidiram emular a estratégia do agora adversário e criaram o chiqueirinho, onde, entre qua quás e kuem kuens, o Marreco preenche o espaço vazio com nadas.
Profundamente raso e um deserto de ideias, Moro parece ter encontrado o primeiro desertor do chiqueirinho, aliás, uma desertora.
Alinhada de primeira hora do morismo lavajatista, a senhora Leitão mandou avisar que nessa lama ela não chafurda mais.
Antes desenganada, Leitão diz que “no mercado financeiro já se ouve o farfalhar de apoios incondicionais à pessoa sem conteúdo definido, como houve em 2018. O autoengano recomeçou”.
O que a dona Miriam chama, agora, de autoengano, outrora chamava de me engana que eu gosto.
E ela disse mais.
Elencou uma série de malfeitos do homem da gravata borboleta, disse que quando ele esteve à frente do ministério da justiça, ele “barrou demarcações de terras indígenas, mandou o fracassado pacote anti crime para o Congresso, embutido nele o excludente de ilicitude, apoiou indiretamente um motim de policiais no Ceará e abonou os sinais de desvios éticos no governo Bolsonaro, quando começaram a surgir”.
Veja você.
Fósforo queimado, a única coisa que Moro tem a oferecer ao país é um livro escrito por ele sobre ele mesmo.
Tamanha é a falta de assunto.
Monotemático, anda a papagaiar combate a corrupção por onde passa, como um Napoleão de Hospício.
O PIG o apresenta como o nome salvador da terceira via.
É o trigésimo candidato da tal terceira via, nenhum emplacou até agora.
Chegaram a sacar um governador de dentro de um armário, o cabra saiu, se desnudou, viu a luz do sol e deu com os burros n’água.
E você sabe, uma vez que a pessoa sai do armário, não tem mais como voltar.
A título de conclusão, finalizo com essa observação: contra Lula da Silva a mídiazona já soltou os bichos, usaram Miriam Leitão, Mônica Pulga, Sérgio Grillo, Poliana Abrita e William Waack.
Agora vão de Marreco.
Moro é, na definição do sociólogo Emir Sader, aquele moleque que o borracheiro paga para jogar pregos no meio da estrada.
Bem, por enquanto, Leitão sinaliza seu desembarque dessa estranha Arca de Noé piguenta; a ver como agirão os outros.
Há quem acredite em um efeito manada.
Mas aí já é fé demais.
Palavra da salvação.
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