Sobre nome social e desinformação

Dois parlamentares do cerrado querem anular o decreto da presidenta Dilma que garante a transexuais e travestis, que trabalham no serviço público federal, o uso do nome social em documentos públicos e crachás

Dois parlamentares do cerrado querem anular o decreto da presidenta Dilma que garante a transexuais e travestis, que trabalham no serviço público federal, o uso do nome social em documentos públicos e crachás
Dois parlamentares do cerrado querem anular o decreto da presidenta Dilma que garante a transexuais e travestis, que trabalham no serviço público federal, o uso do nome social em documentos públicos e crachás (Foto: Lelê Teles)


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Dois parlamentares do cerrado querem anular o decreto da presidenta Dilma que garante a transexuais e travestis, que trabalham no serviço público federal, o uso do nome social em documentos públicos e crachás.

"Tá certo", tascou o ruivo que comia um açaí enquanto via o jornal pela TV.

"Nasceu João, morre João. Onde já se viu João virar Joana?"

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Eu virei para o outro lado, porque ele perguntara e olhara pra mim.

Eu uso nome social desde a 5ª série, cara. Entendo completamente as travestis.

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O deputado acha um absurdo que um homem queira ser chamado por um nome feminino.

Esquisito pra mim é uma criatura feminina se chamar Astolfo. Não combina, cara. Constrange.

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Eu tive um aluno que se chamava Marciano. E o infeliz ainda era meio orelhudo, baixinho e cabeçudo. O nome caiu para ele como um apelido.

No intervalo, nos corredores, a moçada sacaneava o ET.

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Se o pai tivesse visto a ultrassonografia do filho, jamais daria aquele epíteto à pobre criança.

No ano seguinte, eu faço a chamada e digo: Márcio. E o Marciano levanta a mão.

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Durante as férias, o sacana foi ao cartório e, a mando da justiça, mudou de nome. Aquele o constrangia e o expunha ao ridículo, o que contraia o artigo 17 do Código Civil. Pois não.

Lima Duarte, na verdade, chama-se Ariclenes Venâncio Martins. Mas ele não gostou do nome escolhido por seus pais, mandou-o às favas.

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Cê vai no Projac e tá lá no crachá dele: Lima Duarte. Nem sinal de Ariclenes.

Arlete Pinheiro Esteves Torres é o nome de batismo de Fernanda Montenegro.

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Vai ver no crachá!

Xuxa, Garrincha, Mussum, uma infinidade de pessoas são tratadas cotidianamente por seus nomes sociais.

E, oh, cada um deve mesmo ser chamado pelo nome que achar melhor.

Afinal de contas a gente nunca é convidado a opinar quando os pais resolvem nos dar um nome.

Por isso, todo nome deveria ser provisório.

Lá pelos 10, 11 anos, o cara se decidia: "tá bom esse nome".

Ou "não, não gostei, quero outro."

E pá, ganhava o nome definitivo.

Porque tem pai que vacila, man.

Conheço o caso de um que foi bêbado ao cartório.

Chegando em casa a mulher perguntou? "E aí, registrou o menino, ainda se lembrava do nome que te falei?"

E ele: "claro, taqui o nome, Marcelo."

E a esposa diz: "amigão, Marcelo é o nome do irmão dele."

Ficaram dois Marcelos em casa. Como se fossem siameses separados.

Como faz?, vai lá e muda.

Por que diabos pastor se mete até nesse lance de uso de nome social, cara?
Logo eles, man?

Jesus de Nazaré, na verdade, é um nome social que usa o local de origem para identificar o indivíduo.

Recurso usadíssimo mundo afora: Pepino de Capri, Fafá de Belém, Don Quixote de la Mancha...

Pastores também costumam se referir ao cabeludo como Jesus Cristo; e Cristo, em verdade, é um título.

Sempre nos foi sonegado o nome de batismo do Mestre, o conhecemos por seus nomes sociais.

E sabe o que mais?

O próprio Deus não é Deus coisíssima nenhuma, amigo.

O nome do cara é YWVH, Javé, Jeová...

Deus é o cargo dele.

Ele o usa, portanto, como um nome social, porque não gosta que fiquem a falar o nome dele em voz alta.

Acho que ele acha o nome dele feio.

Eu acho.

Por isso que no crachá que ele usa aqui, toda vez que aparece para vistoriar sua obra, aparece apenas o nome Deus.

Assim, no plural.

Tentei explicar tudo isso pro ruivo do açaí, mas num adiantou.

"Trocar de nome tudo bem, que nome feio ninguém merece", disse ele, "mas mudar o gênero já é demais?"

É nada, cara.

Andrea na Itália é nome de homem. Sacha, em russo, é nome de homem.

Djalma pode ser ele ou ela. Sidney pode ser ele ou ela. Juraci, Dagmar, Lucimar...

Laerte pode ser O Laerte ou A Laerte.

Essa pelo menos deu sorte, foi só trocar o artigo masculino pelo feminino. O artigo não vem no nome mesmo.

Mas esse lance de nome que serve aos dois gêneros pode constranger, uma vez que ambiguiza a pessoa.

Então se liga aqui: mudar o gênero em um nome próprio não altera nada, mas muda tudo, cara.

Tudo.

Palavra da salvação.

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