Sobre direitos humanos
“Derrubou poderosos dos seus tronos, mas exaltou os humildes”, Lucas, 1, 52
✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.
Introdução - Minha mãe nos ensinou sobre Direitos Humanos na prática; logo ela, que viveu em curiosa antinomia, de um lado sua família conservadora, e de outro o exemplo das obras do padre Milton Santana, que buscavam acolher e incluir os marginalizados; ela escolheu acolher, compreender e não julgar e ajudar ninguém. Somos, minhas irmãs e eu, a síntese dessa escolha de minha mãe; fomos também influenciados pelo meu pai, um entusiasta da Teologia da Libertação e do Concilio Vaticano II, que, segundo ele, resgatou a igreja católica de um institucionalismo medieval.Foi a Tuti (esse é o apelido da minha mãe) que nos ensinou que a “família é o "núcleo fundamental" da sociedade humana, ou, nas palavras de São João XXIII: “a família é necessária para o funcionamento da humanidade...”; foi em casa que aprendemos a respeitar todas as famílias, em todas as suas formas, com héteros, lésbicas, gays ou bissexuais, crescemos sem orientação ao preconceito.
Lá em casa - por mais disfuncionais e nerds que pudéssemos parecer aos olhos de tantos -, aprendemos a respeitar as diferenças, os diferentes e as escolhas de cada um; que o respeito é o único caminho para sermos plenos de humanidade e vivermos essa nossa breve experiencia chamada VIDA de forma correta.
Sobre os marginalizados – Fiz a introdução para refletir sobre a nossa realidade; em Campinas, por exemplo, apesar de tantos esforços, há muitas demandas sociais e um número importante de marginalizados.
Não vivemos numa sociedade perfeita, ao contrário, testemunhamos uma profusão de preconceitos, os quais impõem injustiças e sofrimento a tantos, especialmente os negros e negras, gays e lésbicas, pobres, indígenas, moradores de rua, moradores de comunidades, prostitutas, dependentes químicos e outros tantos, sofrem preconceito e discriminação, suas vidas parecem não valer nada.
O que fazer? Num ambiente democrático é através Política, das políticas sociais e na efetivação dos direitos humanos que está o bom caminho.
Direitos Humanos – A vitória de Lula trouxe os Direitos Humanos de volta ao necessário protagonismo, o caminho é conhecer, difundir e militar pelo respeito aos direitos humanos.Quando falamos em direitos humanos lembramos da Declaração dos Direitos do Humanos, lançado pela ONU em 1948, contudo, há um documento mais antigo que trata de Direitos Humanos, trata-se do Evangelho de Lucas, ele cuida de reconhecer direitos aos marginalizados, aos excluídos social, cultural, política e economicamente.
Vou me arriscar a caminhar por Lucas para falar de direitos humanos.
Em Lucas, 4,18, lemos que “O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar os pobres”, ou seja, a missão sempre foi cuidar dos pobres, tanto que as bem-aventuranças são dirigidas a eles (6.20-21a), contrastando com advertências aos ricos (6.24-25).
O Evangelho de Lucas é para excluídos em geral: mulheres, crianças ou publicanos, com uma ênfase especial àqueles que nada possuíam, os marginalizados.
Hoje vários grupos sociais em nossos dias que seguem marginalizados e distantes de direitos básicos, como saúde, educação, cultura, lazer, moradia, alimentação e respeito; trata-se de realidade sistêmica, para a qual o mercado não tem solução; a solução está na sociedade, no engajamento à solidariedade para mudar a realidade, especialmente com a ascensão da extrema-direita, que despreza os Direto Humanos.
Não serão as igrejas a mudar a realidade dos marginalizados, elas são apenas artefatos humanos, não são portais mágicos para uma vida eterna de paz. Penso que não bastam os rituais, repetidos semanalmente, não basta comungar e respeitar os sacramentos, é fundamental cuidar dos marginalizados com ações efetivas.
Por isso é tão importante conhecer o evangelho de Lucas, que coloca os excluídos e marginalizados no centro de atenção, e sejamos cordatos, Jesus não propôs uma vida de oração e contemplação, mas uma vida de ações acolhedoras, generosas e transformadoras. O evangelho de Lucas trata de direitos humanos, afinal, Ele alimentou multidões, curou enfermos, ressuscitou mortos, valorizou mulheres e crianças, e amou aqueles que eram rejeitados por todos, sem preconceito.
Conclusões – Lucas não relata os grandes acontecimentos em governos, povos e nações, mas apresenta um Deus preocupado com vida de pessoas humildes; homens e mulheres; tanto que ouviu aqueles a quem ninguém dava ouvidos e as pessoas cheias de limitações e pecados; Lucas nos apresenta Jesus que se importa com os pecadores, pobres, fracos e marginalizados.Por isso, da igreja e dos católicos, mínimo esperado é uma tentativa sincera de amar aqueles que ele amou e cuidar das pessoas marginalizadas, exigir políticas capazes de mitigar a violência contra as mulheres, contra negros, indígenas, pobres e homossexuais; uma sociedade onde educação, cultura, lazer, saúde e moradia sejam direitos reconhecidos e realizados.
Essa é a missão de quem almeja uma sociedade mais justa e igualitária: exigir politicas públicas efetivas e não meramente cosméticas.
Essas são as reflexões.
e.t. Para escrever esse artigo recorri ao Teólogo Lucas Augusto Herter, que no seu “A IGREJA DOS MARGINALIZADOS: Um estudo a partir do evangelho de Lucas”, recomendo.
iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popularAssine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:
Este artigo não representa a opinião do Brasil 247 e é de responsabilidade do colunista.
Comentários
Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor, e não do 247